quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Preso e presos

Desde que anunciaram a troca de Gilad Shalit, o soldado israelense preso pelo Hamas num dos confrontos entre os palestinos de Gaza e o exército de Israel, por mais de 400 presos palestinos, fiquei tentando imaginar o valor da vida de um palestino na visão dos judeus.
Parece que não vale nada, nadinha mesmo, não somente na visão dos judeus, mas também dos americanos e europeus.
Ontem, depois que a imprensa noticiou, em primeiro momento, a soltura dos presos palestinos, fiquei vendo como esta conduziu o fato. De um lado um único soldado israelense, jovem, magrinho, com cara de derrotado e sofrido, sendo recebido pela família emocionada que ficou cinco anos sem ver o filho, milhares de judeus comemorando o fato e um abraço apertado de Benyamin Netanyahu, o Primeiro Ministro de Israel. Do outro lado, centenas de palestinos maltrapilhos, de barbas longas, olhar perdido e sem saber o que dizer para a imprensa internacional. Alguns até fizeram ameaças, outros falavam com uma mistura de medo e emoção, mas nem por um momento houve uma cobertura sobre o estado emocional deles ou de suas famílias.
Mas o que mais me chamou a atenção foi a proporção na cobertura jornalistica dos dois lados. Enquanto os âncoras de noticiários televisivos e jornalistas enchiam  os olhos de lágrimas e emoções ao falar do pobrezinho do Gilad Shalit, aquele soldado armado até os dentes e treinado para matar qualquer alvo palestino que se movesse diante dele, os mesmos jornalistas noticiavam com resignação e uma ponta de ódio e revolta a notícia da soltura dos presos palestinos. A Fátima Bernardes chegou a tremer um olho de tanta revolta e o William Bonner nem fez questão de disfarçar o ódio em sua voz.
Nenhum jornalista se deu ao trabalho de perguntar à um preso palestino como foi passar mais de vinte anos nas prisões israelenses, se houve tortura, que tipo de tortura, qual o estado emocional daquele preso, se estava doente, como se sentia com a libertação. Nada. Ninguém perguntou nada aos palestinos. Parecia que de um lado havia um ser humano, do outro uma manada de búfalos.
Até agora, não consegui achar um único jornal, revista, tv, rádio ou site de internet, exceto os palestinos, que tenha se interessado em fazer uma entrevista com estes ex-prisioneiros para saber como se sentem. Em compensação, há filas de jornalistas em frente à casa de Gilad Shalit, se empurrando, se esbofeteando e esperando por uma oportunidade para falar com ele e saber como o coitadinho se sente.
Como disse um velho jornalista palestino: "Se morre um vira-latas do lado israelense, a imprensa mundial se mobiliza para investigar a causa da morte e se os palestinos são culpados pela morte do pobre cão, mas se morrem cem palestinos numa das ofensivas israelenses, a imprensa não publica uma linha à respeito e ainda duvida da veracidade da informação".

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Sou fã desse cara!


Na minha opinião, a Liga Árabe não deveria sequer existir, já que representa apenas os interesses dos países aliados dos Estados Unidos da América e das potências européias. Ficaria bem mais barato abrir um escritório de representação destes países no Cairo e nos poupariam do cinismo.

A Liga Árabe deveria suspender não apenas a Síria, mas quase todos os seus membros


Gustavo Chacra 
O Estado de São Paulo 
17/10/2011

Outro dia falei do campeonato mundial de mentiras entre a Al Jazeera e a imprensa síria. Hoje falarei da Copa Árabe da hipocrisia. Nações ditatoriais e monarquias absolutistas queriam suspender a Síria pela repressão dos levantes e falta de diálogo com os opositores. No fim, pediram um cessar-fogo.
A iniciativa é elogiável. Mas por que estes países não dão o exemplo? Por que o Qatar, defensor da democracia em todos os cantos do mundo árabe e da liberdade de expressão através da Al Jazeera, reprime qualquer forma de oposição e não permite que a rede de TV critique a sua monarquia?
Por que estas nações não falaram da sanguinária repressão de Bahrain, com a ajuda da Arábia Saudita, contra os opositores em Manama, onde até mesmo médicos são presos por querer tratar feridos?
Por que estas nações não falam nada da Jordânia, onde os próprios partidários do rei Abdullah, o Playboy, o acusam de não dialogar com a oposição? Ou na Argélia, onde o regime ditatorial segue proibindo a liberdade de expressão?
Qual a moral de iraquianos e os egípcios depois de permitirem o assassinato de dezenas de cristãos diante de forças de segurança que nada fazem apesar de financiamentos bilionários dos EUA? Décadas atrás, existiam judeus iraquianos e egípcios. Todos foram expulsos ou fugiram devido à perseguição. Temo que um dia falaremos o mesmo dos cristãos árabes.
E, falando em liberdade religiosa, não podemos nos esquecer do mais horrendo regime da face da terra, onde mulheres são tratadas como animais, sem poder andar sozinhas ou dirigir. Falo da Arábia Saudita, descrita como moderada pelo Departamento de Estado dos EUA. Imaginem se fossem radicais.
Na Arábia Saudita, cristãos, ateus e qualquer pessoa que não seja muçulmana são proibidos de circular por Meca. Se você for xiita, prepare-se porque a chance de ser morto e torturado não é pequena. Não adianta tampouco ser sunita. Você precisa ser sunita e da corrente wahabita.
Nunca é demais lembrar que 15 dos 19 terroristas do 11 de Setembro eram sauditas. E Bin Laden, também. Nenhum deles era iraniano.
De verdade, dá vergonha alheia ver a reunião da Liga Árabe. Destes países, a única democracia e ainda assim sectária e repleta de problemas é o Líbano. A Tunísia tem chance e o Iraque também. O Egito, no longo prazo. O resto? Enfim, falarei no meu último post da Síria sobre a diferença entre liberdade e democracia.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011


Embaixador palestino no Brasil: 'Esse Israel deve desaparecer'

Em palestra a universitários, Ibrahim Alzeben disse que fim da ocupação será 'primavera palestina'

30 de setembro de 2011 | Folha de São Paulo
Cedê Silva, especial para o estadão.com.br, e Gabriel Toueg
SÃO PAULO - O embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Alzeben, pregou na manhã desta sexta-feira, 30, a uma plateia de universitários, o fim da ocupação israelense. "Esse Israel tem que desaparecer, e não é o embaixador do Irã nem o presidente (Mahmud) Ahmadinejad quem está falando", disse.
Alzeben nesta sexta-feira: 'doutrina de Israel não avançar em negociações' - Cedê Silva/AE
Cedê Silva/AE
Alzeben nesta sexta-feira: 'doutrina de Israel não avançar em negociações'

Segundo ele, "parece ser uma doutrina de todos os governos israelenses nos últimos vinte anos, da centro-esquerda à extrema direita", não avançar nas negociações. Por isso, segundo ele, a declaração do Estado palestino deve ser num fórum multilateral, como a ONU.
"Tem que ter testemunhas", afirmou Alzeben. Para ele, a declaração não é um fim em si, mas um meio de potencialmente encerrar a ocupação e obter vida digna para os palestinos. Segundo o embaixador, "Israel está preparando provocações para um novo conflito. Duvidem da origem dos próximos foguetes partindo da Palestina", disse, alegando ter informações da contra-inteligência de que Israel estaria infiltrando agentes para disparar mísseis contra o próprio território, acusando os palestinos.
'Criativo e imaginário'
Em resposta, o cônsul-geral de Israel em São Paulo, Ilan Sztulman, chamou a alegação de Alzeben de "muito louca". Em conversa com o estadão.com.br, Sztulman indagou: "Você realmente acha que não mandamos soldados correr riscos para salvar Gilad Shalit mas sim para atirar mísseis contra israelenses?"
O cônsul fazia referência ao soldado israelense capturado em 2006 pelo Hamas, e mantido pelo grupo desde então na Faixa de Gaza. Sztulman, nascido no Brasil, disse ainda que a acusação do diplomata palestino é "realmente muito criativa mas completamente imaginária".
Manobra
Indagado sobre a possibilidade de que o movimento na ONU seria uma manobra diversionista em meio às revoltas em países vizinhos, o embaixador disse não ter medo da 'primavera palestina'. "O povo quer o fim da ocupação e esta é a nossa primavera e também será a primavera de Israel", respondeu.
A decisão de pedir à ONU o status de membro pleno não é apoiada pelo Hamas, que atualmente controla a Faixa de Gaza. O Hamas não reconhece o Estado judeu e seu estatuto diz que Israel "se erguerá até que o Islã o elimine, como fez com todos os seus antecessores". Para Alzeben, "apesar de exercer uma ditadura em Gaza, o Hamas também tem políticos iluminados".
O governo de Mahmoud Abbas diz contar com oito dos nove votos necessários no Conselho de Segurança da ONU para recomendar à Assembleia-Geral sua admissão como Estado-membro. O nono voto poderia vir da Colômbia ou da Bósnia, o que levaria a delegação americana a exercer seu poder de veto.
Diplomatas de Washington trabalham nos bastidores para impedir a liderança palestina de acumular nove votos, evitando assim a necessidade de vetar a proposta, o que isolaria os EUA internacionalmente.
Alzeben mandou ainda um recado para os judeus do Brasil. "Neste momento em que vocês celebram o Ano Novo: não ajudem a ocupação, ajudem os valores da fé judaica", pediu.