terça-feira, 26 de março de 2013

Lara, meu anjo, minha filha, minha vida!

Ficaria horas aqui escrevendo sobre os predicados de Lara e Laura. Talvez dias! São tantos que nem sei por onde começar.
Hoje é Aniversário da Lara. Minha garotinha completa 14 anos de idade e de muita emoção. Lara foi meu primeiro presente celestial. Um anjo bom que veio para colorir a minha vida.
Quando nasceu, chamou a atenção de toda a equipe do hospital pela brancura excessiva da pele, pelos olhos verdes arregalados e por uma juba moicana avermelhada no lugar do cabelo. Um espetáculo de bebê. Não tinha cara de joelho e nem o aspecto de um bebê recém nascido. Pelo contrário, nasceu com um olhar esperto, curioso e manhas de um bebê de um mês de idade.
Achei que tamanha esperteza dos primeiros momentos fosse só impressão de uma mãe bobona de primeira viagem. Mas não me enganei nem por um segundo.
Lara cresceu e surpreendeu. Primeiro pela beleza, já que suas feições tomaram proporções angelicais. Cabelos loiríssimos, cacheados nas pontas, olhos verdes brilhantes, pele alva como uma nuvem e uma risada pra lá de gostosa. Encantava a todos, próximos e distantes. Dava shows à parte com seu visual sempre exótico, primeiramente cor de rosa, depois colorido com jeans e por último preto.
De tão linda, as pessoas me pediam para parar e admira-la. Já chegaram a pensar que se tratava uma boneca, quando uma vez ficou parada, pensativa, num shopping. Uma mulher chegou a cutuca-la para ver se era de verdade. Não foi a única vez. Em alguns shows de rock, a mocinha deu seu show particular com seu visual gótico e com sua aura sempre reluzente, juntando pessoas à sua volta para perguntar sobre a cor do cabelo, os acessórios, a pele, a maquiagem, etc.
Lara é surpreendentemente inteligente. Além de ganhar, por duas vezes consecutivas, o prêmio nacional de redação do CGU, sempre foi aluna destaque nas escolas que frequentou. No jardim de infância, mostrou a que veio já que foi autodidata. Aprendeu a ler e escrever sozinha, identificando e juntando letrinhas. Também deixou suas professoras boquiabertas ao cantar uma música inteira do Renato Russo, sua primeira paixão musical, sem gaguejar. Isso antes de completar três anos. Aos quatro anos mostrou-se fera em matemática e desenho e aos cinco já criou os seus quadrinhos com a personagem Elisa, uma gatinha branquinha muito esperta.
Já foi indicada para a Escola Militar pelo destaque nas notas e ganhou uma bolsa de estudos numa renomada escola de Brasília pelo seu desempenho.
Se suas qualidades parassem por aí, já estaria muito bom, mas tem muito mais. Lara é amiga, companheira, leal, sensível, alegre, vívida e por que não dizer pacata. Mesmo sabendo de todos os seus predicados, esta mocinha age de forma simples, amigável, tolerante e sociável. Um docinho! Todos gostam dela, todos querem se aproximar dela, todos querem falar com ela, todos querem ser seus amigos, todos a admiram.
É claro que ela desperta inveja. Sem dúvida! Ela já passou por momentos complicados com isso. Já ouviu desaforos, já ouviu indiretas, já foi vitima de chacotas, enfim, enfrentou tudo o que uma garota como ela enfrentaria. A diferença é que ela sempre tirou de letra. Lara sabe olhar nos olhos das pessoas e identificar sentimentos. E sua tolerância e educação a fazem sobressair de qualquer situação difícil. Isso sem ser arrogante ou petulante. Sempre foi honesta com todos, até com aqueles que não suportam seu brilho.
Ela passou por uma fase cruel, onde a vaidade de menina falou mais alto, sofreu com uma anorexia, pagou o preço da vaidade, enfrentou todas as críticas inerentes ao seu estado, todos os olhares preconceituosos e falatórios maldosos. Mas, surpreendentemente, deu a volta por cima e esta aí mais linda do que nunca e mais saudável impossível.
Lara é uma pessoa obstinada. Sabe o que quer e como quer. Não mede esforços para alcançar seus objetivos e talento não lhe falta. Questionadora, está sempre à frente da sua turma. Nunca se conformou com idéias prontas e sempre acha que tem um jeito de melhorar as coisas. Perfeccionista aos extremos, disciplinada, organizada e mandona, está sempre querendo colocar ordem em tudo o que está à sua volta. Nisso, pessoas comuns como esta que vos escreve, pagam um preço salgadinho para manter um ambiente aceitável para a mocinha.
Uma vez, um cartomante me disse que a Lara seria uma adulta insuportável e incompreendida, dado à sua obstinação. Até concordo em parte, visto que ela não abre mão daquilo que acredita. Mas o que ele não conseguiu ver é que a mocinha é tão esperta que consegue chegar onde quer com o aval de todos. Diria que tem talento para a diplomacia, mas não desejo isso à ela, por experiência própria.
Lembrei do dia em que ela conseguiu convencer sua professora do primeiro ano ao questionar a palavra "biblioteca". Ela perguntou à professora por que não "livroteca" já que é cheia de livros. A professora tentou, em vão, explicar a lógica da origem "biblio" que quer dizer livro em latim. A mocinha então questionou que se a palavra "biblio" foi traduzida para "livro" em português, então nada mais justo do que usar "livroteca" ao invés de biblioteca. Isso com seis anos de idade!
Essa é a minha Lara! A minha linda Lara que eu amo tanto!

segunda-feira, 25 de março de 2013

Respirando!

Quem disse que alguém pode ter o controle sobre a própria vida? Se alguém me disser que sim, eu vou dar uma boa gargalhada!
Por mais rígidos que sejamos conosco e com tudo o que está à nossa volta, sempre surgem os imprevistos, os percalços, os acidentes de percurso, os erros.
Vejo pessoas à minha volta com agendas na mão, papel e caneta para fazer cálculos, tablets cheios de planos e projetos, cada segundo do dia devidamente calculado para não se perder tempo com bobagem. Ah tá! Mas será que estas pessoas estão no caminho certo? Será que estão enxergando de fato o que as faz feliz? Será que a vida se resume a estabelecer metas e cumpri-las?
Não sei não!
Eu tenho algumas metas e alguns projetos! Passei quase um ano e meio correndo contra o tempo para cumpri-las. Sabe o que eu ganhei com isso? Uma carga excessiva de estresse, noites de insônia, dores de cabeça avassaladoras e muita frustração.
Parei a alguns dias para pensar nisso. E se eu estiver trilhando o caminho errado? E se tudo o que eu fiz foi um esforço em vão? Será que não existem outros caminhos? Será que o meu raciocínio está correto?
Quando consegui parar mesmo e pensar nas minhas atitudes, descobri que fui muito afoita em alguns momentos, muito negativa em outros, muito ansiosa o tempo todo e que tudo isso só tem atrapalhado a minha capacidade de racionar e sintetizar as coisas.
Tudo bem que o ritmo de vida em Brasília não contribui em nada para que você tenha tempo de parar e pensar nos seus atos, mas daí a levar tudo a ferro e fogo só nos consome, exaure nossas energias e venda nossos olhos.
Tudo bem querer realizar as metas o mais rápido possível, mas é preciso dar tempo ao tempo, respirar, mentalizar as coisas positivas, sorrir, relaxar, ouvir uma música, meditar e entender que o universo gira em seu ritmo, não no nosso.
Lembrei das tardes de Rosário do Sul - RS, quando meus pais fechavam a loja, iam para casa, faziam um chá e sentavam-se na calçada para jogar conversa fora, junto com vizinhos e amigos. Mesmo com todos os problemas, as pessoas tiravam um tempo para o lazer, para a conversa frouxa e descomprometida, para as piadas e risadas, para aquecer o coração com as coisas boas.
Hoje só vemos pessoas correndo contra o tempo, sempre preocupadas com os compromissos, com metas a serem atingidas, com as aparências e o consumismo desenfreado, com a busca incessante da perfeição, com a busca do status e da riqueza.
Dormimos mal, comemos mal, amamos mal, respiramos mal, vivemos mal. E tudo isso para atingir metas. E qual é a meta? Ter uma vida confortável? Então gastamos todo esse tempo vivendo mal para ter uma vida confortável? Qual é a lógica? Em que momento a vida se torna, de fato, confortável?
E se reprogramássemos nossas vidas para ter momentos diários de conforto? Não seria esta uma forma de se ter uma vida confortável? Ou será que o conforto está intrinsecamente ligado ao dinheiro? Não creio! Ninguém precisa de tanto dinheiro assim para tomar um cafezinho com a família e os amigos. Ninguém precisa de luxo à sua volta e roupas caras para dar risadas. Exceto as pessoas fúteis, é claro, que vêem nisso o valor máximo da vida. Mas estou falando de pessoas essenciais, que se perderam no meio da corrida pelo ouro. Pessoas como eu que agora questionam tudo isso.
Há tantas coisas à nossa volta que precisam ser vistas. Tanto boas quanto ruins. O nosso parâmetro de comparação não deve se resumir a pessoas do nosso nível. Temos que ter uma visão mais universal das coisas. Por exemplo, não tenho um padrão de vida elevado, mas o meu vizinho tem um bem pior e precisa fazer acrobacias para pagar a conta de luz. Não tenho roupas caras, mas doei algumas roupas que fizeram uma família inteira feliz. Não posso pagar contas caras em restaurantes elegantes, mas sei cozinhar e posso comprar os ingredientes que preciso. Não tenho um emprego dos sonhos, mas o meu emprego paga as minhas contas e ainda sobra um trocado para bancar alguns bons momentos.
Não estou fazendo uma apologia ao relaxamento, mas sim uma defesa da vida simples. E não estou dizendo que não devemos lutar pelos nossos objetivos e sim que devemos buscar alcança-los sem pagar o preço com a nossa saúde e a nossa felicidade.

terça-feira, 5 de março de 2013

Muçulmanas: Com ou sem véu?

Tive que dar uma gargalhada diante de tal pergunta. "Como é que você pode ser uma muçulmana, se você não usa véu?". Hã? E qual é o problema de ser uma muçulmana e não usar véu?
Foi aí que me veio à mente as imagens dos filmes hollywoodianos, onde sempre mostram as mulheres muçulmanas cobertas dos pés à cabeça, andando cabisbaixas e com uma atitude submissa.
Foi essa a imagem propagada aos quatro cantos do mundo. Até hoje, não vi nenhum programa, filme, documentário, novela ou noticiário mostrando a mulher muçulmana moderna. Nenhum meio midiático está interessado em mostrar esta nova mulher independente, atualizada, conectada, ligada nas tendências da moda e, sobretudo, dona do próprio nariz. Não faz sentido para a mídia ocidental desmitificar aquela figura horrível, construída com trabalho árduo e muita manipulação. Definitivamente, não é este o objetivo do ocidente. Basta lembrar da novela global O Clone, onde as mulheres muçulmanas não trabalhavam, não contribuíam para o orçamento da família e ainda eram gastadeiras e só pensavam em maridos e ouro...muito ouro. Esta é a imagem que querem perpetuar de nós muçulmanas.
Mas estamos à anos luz desta imagem. Hoje, a mulher muçulmana tem formação universitária, só se casa quando já tem um emprego rentável, só tem filhos quando decide tê-los e está ao lado do homem para construir uma família e não atrás dele.
São mulheres com a autoestima em dia, donas de si, seguras em seus propósitos e que só usam o véu por opção, nunca por obrigação ou imposição. Vale mencionar que a independência financeira e o poder aquisitivo das mulheres muçulmanas lhes permitiu o direito de escolha. Ou seja, foi um direito conquistado com perseverança e com a preservação dos valores femininos. Isto lhes garantiu serem vistas e tratadas com respeito pelos homens, que atualmente lhes conferem certa idolatria.
Definitivamente não gosto de comparações, mas às vezes me vejo obrigada a fazê-las diante de certos argumentos. Vamos ver a situação das mulheres ocidentais de hoje. Ganham 40% a menos que os homens, são escravas da imagem (leia-se magreza), sua autoestima anda bastante abalada devido ao entendimento errôneo da liberdade sexual, na qual os homens saíram mais beneficiados, estão arrependidas de pedir direitos iguais, fato que lhes acarretou obrigações iguais e uma tripla jornada, estão sobrecarregadas, estressadas e vulneráveis. Agora vamos à situação das mulheres muçulmanas. Elas não entraram na luta por direitos iguais mas souberam conquistar seu espaço no mundo moderno, são dóceis e sabem como fazer bom uso de sua feminilidade para atingir seus objetivos, que em princípio parecem pequenos, mas são bastante relevantes, são independentes financeiramente e equilibradas emocionalmente. Basta observar de perto um lar com uma família muçulmana moderna, onde o homem participa ativamente da criação dos filhos, contribui para as tarefas domésticas e enxerga a mulher como companheira de luta.
Se o ocidente continua fazendo uma relação direta entre véu e submissão, sinto muito pelo erro grotesco. O uso do véu é opcional na religião muçulmana e a criatividade feminina o transformou num item indispensável de moda, um verdadeiro charme que realça nossos exóticos olhos orientais.
Se você, que está lendo este texto, não quer passar por uma pessoa desinformada, procure ler sobre o papel da mulher no mundo árabe e muçulmano, incluindo países como Irã e Afeganistão, onde, apesar do radicalismo, as mulheres conquistaram posições de respeito na política e chegam a ocupar mais de 20% dos cargos importantes, ao contrário dos países ocidentais, onde o papel da mulher continua relegado a um segundo plano.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Cegueira

Enquanto procurava imagens de flores no Google Images para desejar um bom dia aos meus amigos de Facebook, me deparei com uma imagem que me deixou paralisada: Duas crianças africanas famintas com as mãos estendidas, uma para pegar o alimento doado por algum voluntário e a outra com uma flor murcha sendo entregue a este mesmo voluntário.
Fiquei pensando na quantidade de "posts" que publicamos, diariamente, falando de inveja, de lições de moral, de poesias, de alfinetadas, de bichinhos bonitinhos, de bichinhos abandonados mas pouquíssimas falando destas crianças que foram abandonadas pelo mundo.
Não falo só da África. Estas crianças estão espalhadas por toda parte. Aqui mesmo, na capital federal do Brasil, temos crianças dormindo debaixo de viadutos, abandonadas à própria sorte e expostas à um mundo cada vez mais cruel, desumano e indiferente.
Certa vez, um menino desses de rua me abordou pedindo dinheiro para comer. Falei que não daria o dinheiro porque sei que alguém vai tirar dele, mas estaria disposta a pagar uma refeição para ele. Ele aceitou e paramos no primeiro restaurante, onde um dos garçons nos atendeu a contragosto, já que o menino se encontrava num estado lamentável de higiene. Ele pediu um daqueles pratos prontos, com direito à tudo. Comeu de forma metódica, separando sempre uma parte de todos os ítens que estavam em seu prato. Fiquei intrigada e perguntei o porquê daquela atitude. Ele então me disse que nem todas as pessoas entendem que ele e seu irmão querem apenas comer e sempre acham que querem comprar drogas ou bebidas alcoólicas. Aquela porção separada em seu prato era para o seu irmão de cinco anos que o estava esperando perto do semáforo.
Travei uma batalha árdua com minhas lágrimas e o confortei dizendo que pagaria outro prato de comida para o irmão mais novo.
Perguntei onde estavam os pais dele. Ele me disse que não conheceu o pai e que a mãe estava "muito doente" internada num hospital. Perguntei então se não tinha mais parentes e ele fez que não com a cabeça.
Seu nome é João e o nome do irmão é Isaac. Tinha sete anos.
Assim que ele terminou de comer, pedi que trouxesse o irmão para se alimentar também. Ele correu e voltou logo em seguida com o irmãozinho, mostrando para ele a "dona legal" que ia pagar a comida. Assim que o irmão terminou de comer, perguntei onde a mãe deles estava internada, mas eles não souberam me dizer. Fiquei pensando numa forma de não deixar aquelas duas criaturinhas abandonadas na rua e logo descartei as instituições do governo, visto que o ambiente seria tão ruim quanto o da rua.
Como eu morava perto do Centro Islâmico, resolvi arriscar e pedir ajuda ao sheikh para encontrar uma solução para o problema dos dois anjinhos. Ele ficou reticente e disse que de qualquer forma teria que avisar as autoridades brasileiras sobre o caso deles. Concordei, visto que não poderia hospeda-los em minha casa.  Havia um dormitório abandonado no Centro Islâmico e consegui, depois de muita teimosia, fazê-los tomar um banho enquanto saí para conseguir umas roupas com uma amiga que tinha filhos da mesma idade. Na volta, os dois estavam dormindo um sono profundo, talvez resultante do cansaço de vários dias de sono irregular e de comer sobras em lixeiras. Passados dois dias, consegui arrancar deles o nome completo da mãe, que estava internada no Hospital de Base com uma pneumonia grave. Fui visita-la e contei que tinha encontrado seus filhos. Ela chorou muito e disse que os tinha deixado aos cuidados de uma vizinha, que era empregada doméstica e que morava em Santo Antônio do Descoberto. Tratei de acalma-la, dizendo que seus filhos estavam bem e relatei o que tinha acontecido. Ela recebeu alta quatro dias depois e fui busca-la no hospital em companhia de João e Isaac. Consegui também algumas doações com os meus colegas de trabalho e algum dinheiro, já que a dona Josilda, a mãe, não poderia trabalhar tão cedo.
Foi aí que me dei conta que devem haver milhares de joões e isaacs pelas ruas da cidade, do país, do mundo, entregues à própria sorte e incompreendidos pelos corações endurecidos, que sequer notam sua presença.
Não é só na África que temos crianças famintas. Não é só para lá que precisamos mandar doações e coloca-las em mãos de ONGs duvidosas. Que tal começar por aqui mesmo? Que tal lançar um olhar mais cuidadoso aos que estão à sua volta. Uma atitude simples pode mudar a vida de uma pessoa. O que seria de João e Isaac se eles tivessem se perdido de sua mãe? Nem todos os que estão nas ruas são bandidos que vão te assaltar. Muitos só precisam de um minuto da sua atenção e um pouco de espirito humano.