quinta-feira, 11 de abril de 2013

Passivos

Passividade. Taí uma palavra que me incomoda. Mesmo. Com tantos acontecimentos no mundo, no país, na cidade, no bairro, em casa, vejo pessoas que apenas observam e ignoram os fatos, como se só o seu mundinho importasse. Como se mais nada fosse importante. 
Há pessoas morrendo na Síria, na Palestina, no Mali, em São Paulo, em Brasília, no Guará, em Planaltina, no bairro ao lado do meu condomínio, vítimas de uma violência desenfreada e descabida, mas todos os protestos de restringem a um "post" no Facebook ou a uma expressão vazia de indignação.
Os norte-coreanos ameaçam jogar uma bomba nuclear nos americanos, os americanos ameaçam o Irã, que ameaça Israel, que ameaça os palestinos e as pessoas assistem aos telejornais e soltam um: "Que absurdo!" e pronto. É isso! Só isso!
Bocas de lobo engolem crianças em Planaltina, viciados em crack matam um pai de família a pancadas  no Guará, policiais são assassinados em São Paulo por quadrilhas, taxistas assassinados por bandidos em todo o lugar do Brasil, a polícia atira por engano e mata um universitário em Taguatinga, mulheres e turistas são assaltadas e estupradas dentro de vans no Rio de Janeiro, uma professora é morta no Parque da Cidade por um delinquente em troca de R$ 15,00 e nós só assistimos e dizemos: "Que absurdo!" e deu! 
Nos contentamos em não estacionar o carro num lugar ermo, em não andar em locais perigosos, em não dar bandeira com assessórios e celulares chamativos e pronto. Evitamos enfrentar o problema. Assim é mais fácil. De vez em quando organizamos um protestozinho insignificante aqui e ali, que os políticos assistem da janela de seus gabinetes, dando risadas e fazendo apostas sobre quanto tempo "aqueles desgraçados" vão aguentar debaixo do sol ou da chuva. Eu ouvi, pessoalmente, estes comentários de alguns políticos. 
Quanto ao nosso sentimento universal, este está para lá de abandonado. Quem é que liga para as crianças na Palestina, na Síria, no Mali, na Etiópia, no Burundi ou no Congo? Quem é que se preocupa com os cristãos assassinatos pelos extremistas muçulmanos na Síria ou com os afegãos sitiados entre as forças americanas e os talebãs? Já temos tantos problemas, não é mesmo?
Daí vem a famosa pergunta: "E o que eu posso fazer?". Se você espera que eu diga: "Proteste!", se enganou! Eu digo que cada um deve usar as armas que tem: Voto, solidariedade, trabalho voluntário, doações, conscientização, informação, um tempinho do seu dia e sim, o uso das redes sociais como ferramenta de atuação política e social pelo bem de todos. Uma atitude positiva neste sentido, a cada dia, faria uma diferença enorme ao final de um ano. 
Não dê esmola no semáforo à um bêbado ou um viciado em crack. Não acredite em tudo o que os telejornais falam, compare as notícias com outras fontes. Não compactue com a violência, exija seu direito através do voto e se seu candidato não cumprir o que prometeu, cobre dele ou exija a anulação de seu voto.  Se as crianças estão morrendo em outros países, organize-se com outras pessoas que queiram ajudar e mande doações, remédios, roupas, alimentos e água mineral. Você não imagina a diferença que vai fazer na vida delas. E tente não ser apenas mais um a assistir às atrocidades do mundo de forma passiva.
Afinal, passividade é para quem não tem personalidade.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Vestido de Noiva

Parei ontem para escolher o meu modelo de vestido de noiva. Vi uma infinidade de modelos e me apaixonei por alguns. Muitas rendas, sedas, bordados, pedrarias, tules e materiais belíssimos. Tocaram meu coração mas não a minha alma. De todos os que vi, o único que foi capaz de tocar o meu coração e a minha alma ao mesmo tempo foi um vestido de noiva palestino, branco com bordados vermelhos em ponto cruz, uma faixa de cetim vermelha e um véu branco com crochê nas bordas. Perfeito!

Esse aí mesmo!
Eu sei que não se parece em nada com os vestidos de noiva tradicionais e nem tem todo aquele glamour e impacto causado por um vestido branco esvoaçante. Mas este tem a minha identidade, a minha origem, a minha história e desperta em mim a ternura de tempos em que via a minha mãe se esmerar em bordar, por meses a fio, vestidos para a minha avó, que os usava com muito orgulho nas ocasiões especiais. 
Também fizeram parte da minha infância na Jordânia, nos casamentos, quando as mulheres se orgulhavam de mostrar o bordado maior e mais largo em seus vestidos para provar que eram prendadas e legítimas bordadeiras palestinas. Quanto mais largo é o bordado, mais prendada é a mulher. E quanto mais cores tiver, mais caprichosa ela é. 
Minhas filhas quase enlouqueceram com a minha sugestão de usar um vestido assim. Querem ver a mãe num vestido tradicional de noiva. Nada de invenções! Minha filha Laura disse: "Será que daria para você esquecer a Palestina, pelo menos no dia do seu casamento?". Esquecer a Palestina? Como? A Palestina sou eu! A Palestina está em mim! Em cada um dos meus sentidos. Não há como esquecer a Palestina. Taí um pedido impossível de ser atendido. 
Posso até usar um vestido tradicional, mas ninguém tira a Palestina de mim. Ninguém! Amo a minha origem, o meu sangue, a minha história e a minha identidade. Não abro mão de nada que se refira à Palestina. Esta sou eu!