terça-feira, 27 de setembro de 2011

Demolição de casas palestinas


27/09/2011 - 09h41 Folha de São Paulo

ONU pede interrupção imediata da demolição de casas palestinas


DA EFE, EM GENEBRA
Três relatores independentes das Nações Unidas pediram nesta terça-feira a Israel que pare de maneira imediata com a demolição de casas palestinas na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental. Em comunicado, os relatores denunciaram que neste ano houve "aumento dramático" destas demolições.
Eles pediram também às autoridades israelenses que impeçam agressões de colonos israelenses contra os palestinos e suas propriedades. "O impacto e a natureza discriminatória destas demolições e despejos de inquilinos é completamente inaceitável. Estas ações das autoridades israelenses violam os direitos humanos e a lei humanitária e devem parar imediatamente", disseram.
O comunicado foi assinado pela relatora especial das Nações Unidas sobre o direito a uma casa adequada, a brasileira Raquel Rolnik; a relatora especial sobre o direito à água potável e os serviços sanitários, Catarina de Albuquerque; e o relator especial sobre o direito à alimentação, Olivier de Schutter.
Os relatores explicaram que "em alguns locais há quase queimas semanais de terras, árvores e colheitas de moradores palestinos por parte dos colonos israelenses", que em sua opinião atuam assim porque as autoridades israelenses não fazem nada para evitar ou puni-los.
"As autoridades israelenses (...) devem investigar e interromper os crimes cometidos pelos colonos de uma maneira independente, imparcial, efetiva e pontual", disseram.
Dados dos relatores da ONU indicam que desde janeiro "ao menos 387 imóveis, incluindo 140 residências, e 79 estabelecimentos agrícolas foram demolidos, o que causou a remoção forçada de 755 pessoas e prejuízos a outras 1.500", informou a mídia local.
"O tratamento preferencial dado aos colonos israelenses é uma discriminação explícita", manifestaram os especialistas, afirmando que enquanto os assentamentos israelenses se estenderem para Jerusalém Oriental e o restante da Cisjordânia, as solicitações palestinas de permissões serão rechaçadas e suas casas e propriedades destruídas.
"A situação está claramente mais grave e o resultado é um aumento das violações dos direitos humanos", afirmou Raquel, que denunciou que os palestinos expulsos viviam há décadas nessa região e nem sequer receberam uma indenização por parte do Estado israelense por terem se deslocado para outra área.
"Inclusive são forçados a pagar pela demolição e a pagar multas pelas construções 'ilegais'", disse ela. Catarina de Albuquerque ressaltou a destruição de cisternas e poços palestinos, o que futuramente fará com que "esta gente tenha de pagar preços exorbitantes pela água potável".
Olivier de Schutter informou que isto teve grande impacto na sobrevivência dos palestinos e dos beduínos, que "também viram suas propriedades destruídas".

sábado, 24 de setembro de 2011

Estado da Palestina e a ONU

Enquanto as pessoas discutiam a repercussão dos discursos proferidos na Assembléia Geral da ONU, em Nova Iorque, na última semana, fiquei analisando as posturas dos principais líderes mundiais diante da questão palestina. Mas o que realmente me chamou a atenção foi o discurso do americano Barack Obama, no qual ele exaltou a relação dos Estados Unidos da América com Israel, sublinhou com caneta vermelha o entendimento de que os judeus são as vítimas da humanidade, isso em pleno século 21, e sequer se referiu aos palestinos como um povo, mas sim como indivíduos que atrapalham e incomodam a paz de sua queridinha Israel. Para piorar ainda mais a situação, declarou clara e definitivamente a oposição americana à inclusão da Palestina como estado membro das Nações Unidas.
Na minha visão, Obama equivale-se a Hitler ao negar a existência e os direitos dos palestinos ao seu próprio Estado, a inclusão deste como membro da ONU e ao negar os direitos fundamentais de um povo injustiçado, oprimido e marginalizado por conta de uma resolução da própria ONU. E mais: Que sistema é este onde um único país tem o direito de vetar a vontade da ampla maioria das nações do mundo?
A Presidenta Dilma tem absoluta razão ao defender, com veemência, a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e a inclusão dos países emergentes neste Conselho, de forma a assegurar sua representatividade na chamada nova ordem mundial. Acrescento à este proposta a necessidade de extinção do poder de veto sobre as resoluções que tratam da paz e da segurança mundiais. Não posso conceber que a vontade de um único país possa predominar ou se sobrepor à vontade da ampla maioria dos países do mundo.
Quanto à legítima reivindicação apresentada pelo Presidente da Autoridade Nacional Palestina, creio que esta deveria ter sido aprovada em 1947, quando a Assembléia Geral da ONU aprovou a divisão da Palestina e a criação de Israel. Vale lembrar que naquela ocasião, conforme prevê a resolução, 51% dos territórios pertenceriam à Israel e 49% aos palestinos, porém logo na primeira invasão israelense aos territórios palestinos, os judeus tomaram 78% das terras, contrariando a resolução da própria ONU que criou este estado através de um artifício liderado pelos Estados Unidos da América. Ou seja, além de Israel ser o único estado do mundo criado por uma resolução da ONU, este mesmo estado contrariou a resolução de seu próprio órgão criador, avançando sobre os territórios que caberiam aos palestinos de direito, conforme o entendimento da duvidosa ONU, e cometeu crimes contra a humanidade desde então, com o aval americano, aquele mesmo país que se diz defensor da paz e da segurança mundiais. Este mesmo país que veta agora a inclusão da Palestina como estado membro das Nações Unidas, contradizendo tudo o que prega em seus discursos sobre política internacional.
E para que a situação se torne mais risível ainda, o ex-Primeiro Ministro de Israel, Ehud Olmert, publicou um editorial no conceituado The New York Times, no qual ele repetiu o mantra para lá de gasto e repetido exaustivamente sobre o ideal de dois estados, a retirada "parcial" de alguns assentamentos israelenses construídos em território palestino e a divisão de Jerusalém, de forma que os "árabes" fiquem com a parte "árabe" da capital. Parece um discurso bonito, mas vamos esquartejar este discurso para entender onde se esconde o veneno judeu nele. A retirada parcial dos assentamentos, significa em claro e bom português que os judeus vão ficar com as melhores terras e as mais férteis, onde a água é abundante e onde a infraestrutura é impecável e vão devolver aos palestinos os territórios estéreis em termos de fertilidade do solo e de existência de água potável. A devolução da parte árabe de Jerusalém representa menos de 40% da parte oriental de Jerusalém à qual os palestinos tem direito, porque a maior área de Jerusalém Oriental já foi invadida e tomada por Israel em constantes derrubadas de casas dos palestinos e a expulsão destes para outras localidades da Cisjordânia, ou o que sobrou dela.
Ao proferir seu discurso na Assembléia Geral, Benyamin Netaniahu foi, no mínimo, inescrupuloso, ao dizer que estende a mão às negociações com os palestinos, quando todos nós sabemos que seu governo foi o governo israelense que mais sabotou estas mesmas negociações, paralisadas à quase tres anos dado à indignação palestina e aos últimos ataques israelenses à Gaza, iniciadas no final de 2009, nas quais o exército israelense usou armas químicas, como o fósforo branco, para atacar escolas e hospitais, dizimando centenas de crianças palestinas num único dia.
Por outro lado, minhas esperanças, apesar do quadro negativo, se renovam com as transformações do cenário político no Oriente Médio. Não vamos esquecer que o Governo de Transição do Egito se nega a respeitar o acordo de paz com Israel, as relações com a Jordânia estão estremecidas e porque não classifica-las como caóticas, apesar da tímida negativa de ambas as partes e o principal aliado de Israel na região, a Turquia, encontra-se irredutível em sua exigência de retratação de Israel sobre o ataque à Flotilha da Liberdade em julho de 2010, quando cidadãos turcos das forças de paz que levavam ajuda humanitária à Gaza foram brutalmente assassinados pelas forças israelenses, num ataque realizado em águas internacionais.
O isolamento de Israel na região é fato. É assim que se trata um câncer, este corpo estranho que força sua presença num organismo que não é seu.
Não posso deixar de comentar, ainda, a reação dos judeus palestinos, que se juntaram às fileiras de manifestantes pró Estado da Palestina na Cisjordânia e que mais uma vez manifestaram seu repúdio ao estado sionista artificial de Israel que lhes foi empurrado goela abaixo e com o qual eles nunca concordaram. Todos os palestinos, judeus, cristãos e muçulmanos, uniram-se ontem, num grito único, conclamando o mundo a reconhecer seu direito à um estado palestino independente, soberano e economicamente viável. Só estamos repetindo um grito que ecoa pelo mundo à mais de 62 anos. Será que o mundo vai nos ouvir desta vez?