domingo, 25 de março de 2012

O passado veio me visitar!

Ah, o passado. Quem pensa que ele passa e pronto está enganado. Ele sempre volta. Bem depois, é verdade, mas volta. Talvez para nos dar uma lição, talvez para nos dar prazer. Para os que acreditam nos astros, este retorno é tão somente o fechamento de um ciclo. Para os que acreditam no destino, ele é tão somente um acerto de contas. Para os românticos, é reviver. Para os descrentes, ele veio para atormentar. Para quem ama a vida, é mais um experiência. Para quem não liga, é só coincidência.
O passado é a base de tudo o que vem depois. Pode ser logo em seguida ou daqui a vinte anos. O passado é inteligente e sorrateiro. Chega sem avisar e nos coloca frente a frente com nós mesmos. Meio cruel também, porque talvez preferíssemos esquecer.
O passado é bonito porque trás consigo o frescor da juventude e nos faz rir de nós mesmos. Que ridículos fomos e quão felizes éramos. E aquelas roupas? E o cabelo? E as camisetas de bandas e heróis? E aquele botton no casaco jeans? E o tênis All Star vermelho ou branco? Por que diabos eu perdi aquele boné?
E os amigos? Ah, esses são um capítulo à parte. Os amigos ficavam com a gente por horas à fio, apenas para ficar junto. Nem tinha tanto assunto assim, mas cada um tinha algo a contar, completando o pensamento do outro ou interrompendo, não importa.
E as paqueras? Cada mico que a gente paga! Aquelas frases prontas e gaguejadas, o ritual de se preparar para um encontro, aquela roupa que era linda um dia antes, mas no dia do encontro parecia horrível, a espinha que resolvia aparecer justo no dia mais importante de todos e o cabelo que se rebelava nos últimos cinco minutos antes de sair de casa.
E os amores secretos, inconfessáveis? Ah, estes acabam nos acompanhando pela vida toda. São nosso segredo, nosso tesouro, nosso melhor momento quando estamos à sós. Aliás, estes amores são nossos melhores companheiros na hora da solidão, nosso refúgio na hora da decepção e nosso acalanto na hora da dor. Nossos amores secretos costumam ser perfeitos, serenos, solares e cúmplices.
E o cheiro do pão com manteiga no café da manhã? E aquele sono a caminho da escola? E os colegas que iam se juntando pelo caminho até formar um bando? E a caneta que sempre secava na hora da prova? E o lanche que acabava sendo coletivo por questão de solidariedade ou educação? E a vaquinha pra comprar a Coca-Cola na lanchonete? E a rodinha de bate-papo na hora do recreio? E o último LP do The Cure ou Sex Pistols?
E por falar no passado, ele tem me procurado muito ultimamente, cheio de gratas surpresas. Descobri, por exemplo, que eu não era invisível na escola. Também descobri que me achavam bonita. Que coisa! Justo eu que me achava o patinho feio da turma. Descobri que pessoas especiais, apesar do tempo, permanecem especiais. Descobri que um sentimento bom jamais se perde. Ele apenas se esconde em casulos discretos, quase imperceptíveis, para abrir as asas na hora em que menos esperamos.Descobri que respeito e a admiração são perenes. Descobri que rugas são causadas por uma vida cheia de boas risadas e não efeito de  envelhecimento e que cabelo branco pode ser um charme, se assumido com classe.
Dependendo da forma como você olha o seu passado, somadas as perdas e os ganhos, o saldo pode ser positivo, dependendo de como você assimila o resumo da sua vida.