domingo, 19 de fevereiro de 2012

Cenário Árabe

Não, não abandonei meu blog, apenas estive ocupada com os trabalhos sobre a crise na Síria, que tem me exigido tempo quase integral.

Hoje, vou aproveitar a folga de carnaval para colocar a nossa conversa em dia.

Não sei se começo pela Síria, pela Palestina, pela Liga Árabe, pela ONU ou escrevo tudo junto e misturado.
Sobre a Palestina, aquele acordo entre o Fatah e o Hamas não convenceu nem à minha filha de 11 anos. A encenação, o jogo de palavras e o script prontos não deixaram dúvida de que aquilo foi um jogo de cena, bem conveniente por sinal na atual conjuntura. Que conjuntura? A chamada Primavera Árabe no Mundo Árabe. Até agora não vi nenhum resultado positivo da tal "revolução". É Sério! Kaddafi e Mubarak caíram, Assad resiste bem, as revoltas no Bahrein, na Arábia Saudita e em Omã foram sufocadas com uma dura repressão dos respectivos governos, mas ninguém falou disso porque eles são aliados dos americanos e seus aliados europeus, o norte da África continua agonizando com guerras civis sem previsão de um fim democrático e os líderes palestinos resolveram babar o ovo do Emir do Qatar. Que conveniente!
É um tabuleiro de xadrez, onde os jogadores são os países ocidentais que despedaçam mais ainda o mundo árabe, enquanto os nossos líderes idiotas acreditam piamente que vão ganhar as bençãos do Tio Sam e virarem os queridinhos do Ocidente.
Já escrevi aqui, muitas vezes, que os países ocidentais esgotaram suas reservas de petróleo e estão economicamente falidos. A única opção energética destes países é o petróleo árabe e iraniano e a opção para salvar suas economias é explorar os recursos árabes (dinheiro e ações) confiscados nos bancos europeus e americanos. Não tem outro jeito de se safarem desta crise, portanto é uma questão de lógica. Botaram fogo na região, árabes lutando contra árabes, fazem uma acusação fajuta ao Irã de estar desenvolvendo armas nucleares, acusam a Síria (o corredor para o Irã) de estar violando os direitos humanos e tá armado o circo.
Vale salientar aqui que a guerra da Otan contra a Líbia só instalou o caos no país, com o aumento da violência contra civis, do número de estupros, da violência contra as mulheres e do estabelecimento de um estado de terror no país. Não se chegou a nenhum consenso sobre um novo governo ou um regime democrático como pregou o Ocidente antes de promover esta guerra. O resultado da ofensiva da Otan é um país em frangalhos e sem nenhum controle sobre os recursos, principalmente os energéticos, muito menos sobre o acesso ao dinheiro confiscado nos bancos europeus e americanos. Quanto ao Egito, saiu da ditadura de Mubarak para sucumbir à ditadura dos militares. O povo egípcio continua sem nenhuma proteção e até agora os presos continuam presos, os pobres continuam pobres, os desempregados continuam desempregados e o que é pior, as minorias estão sendo dizimadas a olho nu, principalmente os cristãos, sem nenhuma reação internacional. Cadê as organizações de direitos humanos e a ONU nestas horas? Ah, esqueci! Eles estão muito ocupados tentando culpar o regime da Síria pela violência que eles mesmos financiam e incitam. Vamos perdoar né gente! É muito trabalho a ser feito para despedaçar uma região inteira e ainda ganhar o aval da opinião pública mundial.
Aliás, a grande mídia tem feito um trabalho excelente nesta área. Por exemplo, os grupos terroristas armados na Síria promovem matanças dignas de um filme de terror, mas a mídia responsabiliza o governo pela matança. No Egito, a mídia cobriu por duas semanas o atentado contra os torcedores assassinados num estádio, mas nada falou sobre o governo militar e nem responsabilizou ninguém por isso. Nada se fala sobre as repressões na Arábia Saudita, Bahrein ou Omã. Nenhum jornalista se dá ao trabalho de fazer uma cobertura sobre a atual situação na Líbia. Por que? Ah, me desculpem! Às vezes esqueço que esta mídia só serve aos interesses escusos deste complô ocidental para a região.
E Israel? Às vezes fica quietinha, outras faz ameaças ao Irã. Claro, eles tem que aparecer de vez em quando senão não vão merecer o financiamento judaico-americano. Mas na surdina continua matando os palestinos diariamente, só que a gente não fica sabendo, porque a mídia está muito ocupada cobrindo a Síria, a Grécia, a Alemanha, o carnaval e os engarrafamentos no centro de São Paulo.
O resumo desta ópera é que os americanos e os europeus precisam de dinheiro e petróleo e não estão nem aí se 5.000 pessoas ou 100.000 pessoas vão morrer no mundo árabe, desde que o dinheiro árabe fique nas mãos deles e o petróleo seja obtido através de acordos indecentes como o acordo "petróleo em troca de comida" feito com o Iraque.
E por favor, não se sintam excluídos por viverem na América Latina. Assim que se esgotarem os recursos árabes, as bolas da vez serão o continente sul-americano e o continente africano. Já estão na lista deles e já existem "ongs de direitos humanos" atuando nestas áreas para garantir o acesso deles na hora certa. Mas vamos continuar vendo os desfiles de carnaval e nos ocupando com os engarrafamentos e as ações da bolsa de Nova Iorque, afinal é nisso que o Ocidente quer nos alienar.

Um comentário:

  1. Nossa, fui devorando o texto, chega fiquei sem fôlego... como nós somos preteridos de tantas informações por essa midia q aí está!
    O que acontece por debaixo dos panos na Amazônia também nos é ocultado, tenho um amigo eng. florestal q foi morar lá a trabalho, ele comenta cada coisa... q vc aí no final do texto bem nos lembrou,um dia seremos a bola da vez :(

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