Palestina cresce 9,3%, mas não se desenvolve
24/08/2011Da redação - São Paulo – A Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) divulgou nesta terça-feira (23) um relatório que mostra que a economia dos territórios palestinos ocupados por Israel cresceu 9,3% em 2010, mas que não houve redução dos gargalos que impedem o desenvolvimento sustentável da região.
O levantamento informa que o Produto Interno Bruto (PIB) da Palestina já havia crescido 7,4% em 2009, no entanto, a taxa de desemprego permaneceu estável em 30% no ano passado e no anterior. “O crescimento foi impulsionado pelo apoio de doadores e reflete uma economia se recuperando de uma base pequena [de comparação]”, diz o estudo.
Segundo a Unctad, o crescimento observado nos últimos dois anos não alterou as perspectivas ruins de desenvolvimento no longo prazo. Isso porque os palestinos continuam a perder terras e recursos naturais, estão isolados do mercado internacional e estão divididos tanto fisicamente como politicamente.
“O desemprego, a pobreza e a insegurança alimentar, especialmente em Gaza, continuam alarmantes”, afirma o relatório. A Unctad responsabiliza o cerco israelense pela situação. “Frente ao cenário de forte declínio econômico ocorrido desde 2000, a continuidade da política israelense de isolamento e o confisco de terras e recursos naturais palestinos levantam dúvidas sobe a sustentabilidade do crescimento visto em 2010 e sobre as perspectiva para a economia palestina”, acrescenta.
Na seara tributária, o levantamento destaca que dois terços das receitas da Autoridade Nacional Palestina (ANP) vêm de repasses controlados por Israel e, por consequência, sujeitos à instabilidade dos humores políticos. Fora isso, os bloqueios israelenses restringem e tornam mais caro o comércio exterior palestino, o que representa um problema significativo, dado o pequeno tamanho do mercado local.
“O acesso estável aos mercados globais a custos normais não é apenas de importância crítica para o desenvolvimento econômico palestino, mas uma verdadeira pré-condição para que esse desenvolvimento ocorra”, destaca o estudo. “O reduzido tamanho do mercado dos territórios palestinos faz com que o aumento da qualidade de vida não possa ser atingido sem que seja constituído um setor exportador dinâmico”, acrescenta.
As exportações palestinas, segundo a Unctad, caíram de US$ 960 milhões em 2008 para US$ 919 milhões em 2009, depois subiram para US$ 992 milhões em 2010. Na outra mão, as importações somaram US$ 4,4 bilhões em 2009 e US$ 5 bilhões no ano passado, ou seja, 65% do PIB.
Cerca de 90% das exportações vão para Israel e 80% das importações passam por lá. Do que os israelenses enviam aos territórios palestinos, apenas 42% é composto por produtos legitimamente israelenses, os 58% restantes são transbordos de mercadorias de outros países. Com isso, a ANP ainda deixa de receber recursos importantes em tarifas aduaneiras.
O setor mais atingido pelo cerco é a indústria, que teve uma retração de 6% em 2010, ao passo que as áreas de hotéis e restaurantes, construção, administração pública e agricultura cresceram, respectivamente, 46%, 36%, 6% e 22%. No caso da agricultura, o relatório ressalta que o avanço do ano passado ocorreu após declínio contínuo durante uma década.
De acordo com a Unctad, se a produtividade da economia da região tivesse continuado nos mesmos patamares desde os acordos de Oslo, de 1994, hoje o PIB per capita da Palestina seria 88% maior. O relatório ressalta que 26% da população palestina vive abaixo da faixa de pobreza, sendo que em Gaza chega a 38%. Os indicadores da Cisjordânia são sempre mais positivos.
A insegurança alimentar atinge 50% dos domicílios nos territórios palestinos, segundo o levantamento, e em Gaza o percentual chega a 65%. Isso se deve ao fato de que é proibido o acesso dos agricultores a 33% da terra arável de Gaza e dos pescadores a 85% das águas territoriais.
Na ONU
O documento da Unctad foi divulgado no mesmo dia em que o Comitê Ministerial para a Iniciativa de Paz Árabe, criado pela Liga Árabe, se reuniu em Doha, no Catar, para discutir a ocupação israelense, entre outros temas.
Segundo a Qatar News Agency, o comitê reiterou o compromisso de defender o reconhecimento do Estado Palestino na Organização das Nações Unidas (ONU). A ANP pretende apresentar tal proposta na próxima reunião da Assembleia Geral da ONU, em setembro. O secretário-geral da Liga, Nabil Al-Arabi, ficou encarregado de continuar na busca por apoio internacional.
Participaram representantes do Catar, Egito, Arábia Saudita, Argélia, Líbano, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Síria, Jordânia, Tunísia, Marrocos, Omã, Sudão, além do presidente da ANP, Mahmoud Abbas.