Embaixador palestino no Brasil: 'Esse Israel deve desaparecer'
Em palestra a universitários, Ibrahim Alzeben disse que fim da ocupação será 'primavera palestina'
30 de setembro de 2011 | Folha de São Paulo
Cedê Silva, especial para o estadão.com.br, e Gabriel Toueg
SÃO PAULO - O embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Alzeben, pregou na manhã desta sexta-feira, 30, a uma plateia de universitários, o fim da ocupação israelense. "Esse Israel tem que desaparecer, e não é o embaixador do Irã nem o presidente (Mahmud) Ahmadinejad quem está falando", disse.
Cedê Silva/AE
Alzeben nesta sexta-feira: 'doutrina de Israel não avançar em negociações'
Segundo ele, "parece ser uma doutrina de todos os governos israelenses nos últimos vinte anos, da centro-esquerda à extrema direita", não avançar nas negociações. Por isso, segundo ele, a declaração do Estado palestino deve ser num fórum multilateral, como a ONU.
"Tem que ter testemunhas", afirmou Alzeben. Para ele, a declaração não é um fim em si, mas um meio de potencialmente encerrar a ocupação e obter vida digna para os palestinos. Segundo o embaixador, "Israel está preparando provocações para um novo conflito. Duvidem da origem dos próximos foguetes partindo da Palestina", disse, alegando ter informações da contra-inteligência de que Israel estaria infiltrando agentes para disparar mísseis contra o próprio território, acusando os palestinos.
'Criativo e imaginário'
Em resposta, o cônsul-geral de Israel em São Paulo, Ilan Sztulman, chamou a alegação de Alzeben de "muito louca". Em conversa com o estadão.com.br, Sztulman indagou: "Você realmente acha que não mandamos soldados correr riscos para salvar Gilad Shalit mas sim para atirar mísseis contra israelenses?"
O cônsul fazia referência ao soldado israelense capturado em 2006 pelo Hamas, e mantido pelo grupo desde então na Faixa de Gaza. Sztulman, nascido no Brasil, disse ainda que a acusação do diplomata palestino é "realmente muito criativa mas completamente imaginária".
Manobra
Indagado sobre a possibilidade de que o movimento na ONU seria uma manobra diversionista em meio às revoltas em países vizinhos, o embaixador disse não ter medo da 'primavera palestina'. "O povo quer o fim da ocupação e esta é a nossa primavera e também será a primavera de Israel", respondeu.
A decisão de pedir à ONU o status de membro pleno não é apoiada pelo Hamas, que atualmente controla a Faixa de Gaza. O Hamas não reconhece o Estado judeu e seu estatuto diz que Israel "se erguerá até que o Islã o elimine, como fez com todos os seus antecessores". Para Alzeben, "apesar de exercer uma ditadura em Gaza, o Hamas também tem políticos iluminados".
O governo de Mahmoud Abbas diz contar com oito dos nove votos necessários no Conselho de Segurança da ONU para recomendar à Assembleia-Geral sua admissão como Estado-membro. O nono voto poderia vir da Colômbia ou da Bósnia, o que levaria a delegação americana a exercer seu poder de veto.
Diplomatas de Washington trabalham nos bastidores para impedir a liderança palestina de acumular nove votos, evitando assim a necessidade de vetar a proposta, o que isolaria os EUA internacionalmente.
Alzeben mandou ainda um recado para os judeus do Brasil. "Neste momento em que vocês celebram o Ano Novo: não ajudem a ocupação, ajudem os valores da fé judaica", pediu.
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