quinta-feira, 24 de março de 2011

Corrosão!

Nunca fui a favor da violência, muito menos de atos terroristas que ceifam vidas de inocentes e deixam os seus desamparados e relegados à sorte de ressentimentos, ódio e frustrações.
O que aconteceu ontem em Jerusalém foi um ato ignóbil, mas o que aconteceu antes de ontem em Gaza foi pior ainda, pois tratou-se de violência gratuita contra civís sob o pretexto de reprimir possíveis ataques.
Saldo desta troca de hostilidades: 1 judeu e 9 palestinos mortos.
Mas o que continua me surpreendendo de fato é o papel da imprensa neste conflito. Ninguém divulgou o assassinato dos nove palestinos antes de ontem, mas a imprensa em peso divulgou, com efeitos especiais, o atentado em Jerusalém.
Como disse um jornalista palestino da agência de notícias Wafa: Quando morre um vira-latas do lado israelense, o mundo desaba sobre nossas cabeças, mas quando morrem dezenas de palestinos, ninguém se importa em divulgar.
É esta estratégia de dois pesos e duas medidas que me corrói por dentro. Pior ainda é a estratégia de manter os judeus como vítimas da humanidade, sendo que estes já são algozes faz muito tempo.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Vestido Rodado

Era a Semana Farroupilha.
Eu queria desfilar vestida de prenda. Mas não qualquer prenda. Queria ser a prenda mais bonita da escola. Minha mãe quase enlouqueceu com os meus pedidos. Queria um vestido vermelho e branco, com poá, babados e fitinhas. Queria poder levantar a saia com os dois braços e que ainda sobrasse muito tecido, para imitar as asas de uma borboleta. As fitas tinham que ser bem fininhas, vermelhas e brancas também. Tinha que ser o vestido mais lindo que as pessoas já viram.
Minha mãe, uma exímia costureira, deu um jeitinho. Achou um tecido bem leve, do jeito que eu queria e tratou de começar a árdua missão de fazê-lo bem do jeito que eu sonhei. O que ela não suportava era a minha minúcia em acompanhar todos os detalhes da costura. Me expulsava de cinco em cinco minutos, mas eu sempre voltava para pegar um retalho e fazer um vestidinho para a minha boneca, para pegar um elástico ou uma linha e aproveitava para dar pitaco na costura dela. Uma verdadeira pentelha.
O vestido ficou pronto, mais ou menos uma semana antes do planejado e eu não resisti. Usei aquela obra de arte para ir a um aniversário de uma coleguinha da rua. Desastre! Uma menina pisou na bainha do vestido e rasgou um pedacinho do tecido. Levei um choque, desabei a chorar, minha mãe me consolava dizendo que tinha guardado um pouco do tecido e que iria consertar, mas não havia uma única palavra que pudesse me consolar.
Meu tão sonhado vestido estava arruinado e tudo por causa de uma menina que eu nem gostava e nem era minha amiga. O nome dela era Miriam, uma vizinha. Uma chata, invejosa que estragou meu lindo vestido.
A festa acabou e fomos para casa. Dormi aos soluços. Minha mãe, sempre carinhosa, tratou de pilotar a máquina de costura e amanheceu com um torcicolo, mas o meu vestido amanheceu impecável novamente. Ela me fez prometer que só usaria o vestido no desfile do Dia do Gaúcho. Promessa cumprida, apesar de toda a tentação de experimenta-lo novamente.
No dia da festa, a mamãe colocou um lindo arranjo de flores no meu cabelo, comprou um sapatinho de boneca branquinho para combinar com os poás do vestido e, pela primeira vez, meu deixou usar um brilho labial.
Eu me senti a menina mais linda do mundo. Meu tio Jamal me levou de carro para a escola, para não sujar a bainha do vestido e foi o caminho todo me elogiando e perguntando quem era a menina mais linda do titio. Fiquei toda vaidosa. Meu pai segurou a minha mão, na hora de desfilar e disse que eu parecia uma princesa. Eu me senti uma princesa e fui desfilando pela avenida principal de Rosário do Sul, toda alegrinha com o meu vestido lindo.
Já tive muitos vestidos bonitos, mas aquele foi o único que eu realmente amei. Eu tinha 10 anos de idade e pela primeira vez na minha vida, eu havia descobrido o significado da vaidade e entendido a importância da admiração no olhar daqueles que eu amo. Eu e meu vestido rodado fomos a muitas outras festas juntos e só deixei de usa-lo quando uma vizinha (a Miriam) me disse que eu era muito pobre, pois ia a todas as festas com o mesmo vestido. Foi aí que eu senti, pela primeira vez, a alfinetada da inveja.
Não abandonei o meu vestido, apenas guardei para usa-lo quando estivesse sonhando ser uma princesa, num mundo encantado, onde tudo era tão lindo quanto aquele vestido.

terça-feira, 8 de março de 2011

Saudades

Hoje eu fiz biscoitos de tâmaras. Uma receitinha palestina antiga que me foi ensinada pela minha avó Miriam. Enquanto preparava a massa, o cheirinho que subia me levou de volta à casa da minha avó em Rosário do Sul, no Rio Grande do Sul.
Minha avó tinha, nos fundos da casa, um forno feito de barro e casca de arroz. Ela assava o pão, os biscoitos, as esfihas, os manakish, tudo naquele forno. Tudo tinha um sabor e um aroma especial. Lembro-me bem da primeira vez em que ela tentou me ensinar a fazer os biscoitos. Ela brigava comigo o tempo todo, por eu ser tão desligada e por não ser uma moça prendada aos dezesseis anos. Dizia que eu nunca conseguiria um bom marido, se eu não aprendesse a cozinhar.
Eu continuei sendo esta pessoa desligada por muitos e muitos anos, mas o que despertou em mim a vontade de aprender a cozinhar não foi a vontade de arrumar um bom marido e sim a vontade de trazer de volta para o meu  cotidiano os sabores e os aromas da minha família.
Queria rebuscar aquele calor humano, quando já estava morando sozinha em Brasília, numa Kitinete na Asa Norte e tendo em volta apenas comidas de self-service. Era tudo muito comum e sem aquele aconchego do cheirinho da casa da gente. Resolvi então botar as mãos na massa, literalmente falando. Por sorte, minha mãe veio me visitar e mesmo com a saúde bastante debilitada, não poupou esforços para me ensinar o que eu teimei em não aprender durante muitos e muitos anos.
Foram duas semanas de imersão na culinária palestina. Aprendi de tudo um pouco e fui aperfeiçoando com o tempo. Minha mãe ficou muito orgulhosa do meu esforço e saiu por aí contando a novidade. Ninguém acreditou, pois todos os que me conheciam, sabiam que eu tinha uma verdadeira hojeriza à cozinha, ao casamento e à procriação. Achava toda esta história de casamento um absurdo pelo qual eu não merecia passar.
Mas aquela experiência foi importante, talvez essencial na minha vida. Tive um convívio bastante intenso com a D. Âmina, pela primeira vez na minha vida, e me arrependo de não ter curtido mais esta pessoa maravilhosa que sempre zelou por mim, mesmo quando fui muito ingrata com ela.
Hoje, faço questão de bancar a mamãe chata, que insiste em ensinar as mesmas receitas para as senhoritas Lara e Laura, pois sei que um dia elas lembrarão destes momentos com a mesma saudade que eu lembro agora da minha mãe, da minha avó, da minha casa e do calor da minha família.
Talvez elas levem consigo este mesmo sentimento bom, talvez não. Quem sabe! O importante é levar o legado de uma história bonita e importante, onde nossas raízes continuam vivas e onde nossa existência se traduz nas pequenas coisas do nosso cotidiano, como ensinar nossos filhos a fazerem um trivial biscoito de tâmaras com gergelim, dando boas risadas e sentindo aquele aroma que aquece nossos corações.
Fica minha saudade da D. Âmina e da D. Miriam.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Carnaval

Liguei a tv para assistir o desfile do grupo especial do Rio de Janeiro na Globo ontem à noite. Logo de cara, me deparei com uma cena interessante. Um dançarino fantasiado de malandro fazia a exibição das camisas de todas as escolas de samba. Bonito, mas intrigante pelo seguinte fato: Por que o dançarino estava vestido dos pés à cabeça e a mulata Globeleza estava completamente nua?
Nos desfiles que se seguiram, a cena era a mesma: homens cobertos e mulheres semi-nuas. Não que os físicos masculinos fossem feios, mas ninguém fez questão de mostra-los, enquanto que a Globo exaltava mais e mais os dotes físicos de mulheres belíssimas, milimetricamente esculpidas por bisturís e muita malhação.
Fiquei imaginando se minhas filhas estivessem assistindo a cena, qual seria sua reação à tanta exaltação à beleza física? Eu, particularmente, me senti diminuída diante de tanta perfeição. Fiz até promessas silenciosas de voltar a malhar e fazer caminhadas, na esperança de perder uns quilinhos extras adquiridos com a idade. Uma das rainhas de bateria era tão perfeita e tão simpática com os repórteres, que paceria saída de um programa de computador. Sabe aqueles programas que apagam todos os defeitos de imagem? Pois é!
Em princípio, pensei que eu estivesse sentindo inveja, mas este pecado eu não costumo cometer, até porque fui educada para agradecer a Deus pelas coisas boas e ruins que recebo todos os dias. Não era inveja, mas talvez medo de que minhas filhas sentissem o que eu estava sentindo naquele momento. Já pensou se a Lara resolve fazer dieta para se parecer com uma daquelas modelos? Já pensou se a Laura ficar complexada pelo fato de ser fofinha?
Se a idéia que a televisão estava passando é que devemos seguir um padrão de corpo definido, plastificado e sarado, conseguiu. E quem não conseguir ter um corpo padrão, muito bem difinido, sofrerá as consequências da frustração. Stress, depressão, anorexia nervosa e todos estes males que assombram nossa existência moderna.
Volto ao assunto da nudez feminina. Se é para mostrar a nudez na festa da carne, então que seja democrática. Homens e mulheres nús, assim não fica tão estranho e não fica dsparadamente nítido que só as mulheres é que são obrigadas a cultuar o corpo para agradar as exigências masculinas. Senão, isto configura um novo tipo de spread nas convenções estéticas.
O Ronaldo Gaúcho estava vestido dos pés à cabeça com um elegante terno branco e chapéu panamá. Se é para mostrar protótipos de corpos perfeitos, poderiam ter-se utilizado do corpo dele, muito bem delineado, apesar do mesmo deixar a desejar quando se chega ao rosto.
Não quero ser moralista, longe de mim, muito menos me aprofundar na questão da nudez, até porque acredito na liberdade individual e no livre arbítrio, só não gosto desta coisa de comercialização da imagem do corpo feminino. Estão vendendo a imagem da mulher perfeita a todas as pessoas, como se fosse simples atingir aquele padrão. Não é à toa que vemos mulheres, como a Carola Scarpa, morrendo de anorexia e outras gordinhas arrebentando tendões dentro de academias, na doce esperança de atingir o molde do corpo perfeito.
Será que é tão errado assim ser uma pessoa normal? Sinceramente, ainda prefiro cometer os pecados da gula e da preguiça e comprar um maiô maior no verão, do que me matar puxando ferro numa academia e cultivar músculos sobressalentes, mas sou a favor da caminhada para mantêr o coração em dia e desintoxicar o cérebro dos maus pensamentos. Por falar em cérebro, este está tão démodé, que nem me atrevo a tocar no assunto.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Galliano

Juro que eu me segurei muito para não publicar esta matéria, desde antes de ontem, quando começou a circular na internet. Cheguei até a fazer um comentário no Facebook e achei que já estava bom para uma coisa tão banal.
O fato é que esta notícia continua me incomodando. Não pelo fato de Galliano ter declarado amor a um genocida alemão, mas pelo fato de que ninguém pode falar mal dos judeus. Quer dizer que qualquer pessoa pode falar mal dos árabes, dos brasileiros, dos americanos ou de quem quer que seja, mas não se pode falar mal dos judeus? Qual é? Por acaso são santos? Por acaso Galliano cometeu alguma blasfêmia? E cadê a liberdade de expressão tão propagada pelo mundo ocidental? Quando chamam os árabes e muçulmanos de terroristas, ninguém vai preso, quando chamam os brasileiros de vagabundos e prostitutas, ninguém vai preso, quando chamam os americanos de ignorantes e carrascos, ninguém vai preso, mas quando alguém fala que ama Hitler, aí é antissemitismo e vai preso, perde o emprego e ainda vai pagar uma multa enorme. Por que? Quer dizer que qualquer coisa que vá contra os interesses dos judeus não pode ser declarada, mesmo que estejamos convictos de que é fato?
Eu, particularmente, odeio os judeus porque eles tomaram a minha terra, mataram meu povo, cometem crimes diários contra os palestinos, manipulam a mídia, manipulam as massas, são anti-éticos e ardilosos, são mentirosos e um monte de outras coisas que meu vocabulário se acha empobrecido para descrever. E daí? Vão me prender por isso? É a minha opinião e o meu sentimento. Para o desespero deles, eles não podem me acusar de antissemita, porque eu também sou semita.


Correio Brasiliense
03/03/2011

Galliano na justiça

 
Mundo/Nota


Um dia depois de ser demitido da grife francesa Dior, o estilista britânico John Galliano foi intimado ontem pelo Ministério Público francês a responder judicialmente das acusações de antissemitismo e racismo. Galliano, que poderá ser julgado ainda no segundo trimestre deste ano, está sujeito à pena de seis meses de prisão, além de pagamento de multa de 22,5 mil euros. Por meio de um comunicado divulgado por seus advogados, em Londres, o estilista negou “totalmente” as acusações de antissemitismo e racismo, mas pediu perdão por sua conduta. “Cooperarei plenamente com a investigação da polícia”, declarou Galliano, preso em Paris na quinta-feira passada por suposta agressão e comentários antissemitas. O estilista foi demitido pela Dior após vir à tona um vídeo que o mostrava insultando pessoas em um café e declarando amor a Hitler.