A morte é feia! Ainda mais quando é injusta. Pior se for assassinato. Que dirá o assassinato em massa? Mesmo assim, com toda a onda de violência promovida pelos governos tiranos dos países árabes contra os manifestantes civís, o espetáculo que se vê é único.
Estamos presenciando um momento importantíssimo da história, com a queda das ditaduras dos países árabes, uma a uma, como um castelo de cartas que desaba.
É lindo de se ver! Aqueles manifestantes que por anos e anos suportaram a repressão e a censura à liberdade de expressão puderam, finalmente, colocar para fora toda a angústia de não poder dizer o que pensam. O preço é muito alto, vale vidas, mas é este o momento que todos nós esperávamos.
Ontem, ao assistir o discurso desesperado de Muammar Kaddafi, senti um prazer imensurável ao ver aquele que durante mais de 40 anos (quase a minha vida toda) vomitou arrogância encima do povo da Líbia.
A minha tia Faizeh, que mora em Benghazi desde que se casou, estremecia ao ouvir o nome do Kaddafi. Ele sempre foi sinônimo de medo e impetuosidade, portanto nunca um líder e sim um tirano. Contava-se a boca pequena que o simples fato de uma pessoa fazer uma única crítica ao seu regime, este tornaria-a absolutamente refém das ameaças e quiçá de condenação à morte por subversão.
Imaginem, então, a nova geração? Esta geração que cresceu acessando a internet e tendo contato com o mundo democrático da livre expressão. É claro que a bolha tinha que estourar e está estourando, mas desta vez nas mãos daqueles que, durante décadas, foram os algozes do povo.
O temor deu lugar à necessidade de liberdade, a repressão deu lugar à liberdade de expressão e a ditadura está dando lugar à democracia.
Cada um de nós que tem parentes nestes países em ebulição,sofre por não saber notícias dos que lá ficaram, mas os que lá estão têm o privilégio único de fazer parte da história, assim como os caras pintadas derrubam o Collor e registraram seu protesto para sempre na história do Brasil. É um espetáculo à parte.
Nunca imaginei que assistiria, em vida, este espetáculo. Pensei que seria privilégio das minhas filhas ou meus futuros netos, mas Deus é piedoso e generoso. As cenas que assistimos todos os dias, devem ser consideradas um privilégio da nossa existência, afinal, é bom sentir a alma lavada vendo estes trogloditas fugirem como ratos...ou baratas! Asquerosos!
Lembro-me, ainda criança, de não poder mencionar algumas palavras, tais como: imperialismo, censura, tirania, eleições, ditadura, subversão e outras que seguem a mesma linha. Qualquer pessoa que pronunciasse tais palavras era considerada suspeita e, às vezes, delatada por pessoas próximas que acreditavam, inocentemente, estarem sendo fiéis ao seu país. Era esta a teoria propagada: entreguem os traidores da nação. E os "traidores da nação" desapareciam, como num passe de mágica e nunca mais ouvia-se falar deles.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
Adivinha quem?
Dou um docinho para quem adivinhar qual é o país membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas que vetou o projeto de resolução sobre a ilegalidade dos assentamentos israelenses nos territórios palestinos ocupados. Sabe quem? Os Estados Unidos da América, é claro! Porque o resto do mundo já assimilou que o que os israelenses fazem na Palestina é ilegal, é brutal, é criminoso! É tudo o que não se pode fazer contra um povo e um país, menos os filhotes do Tio Sam! Estes se recusam, terminantemente, a reconhecer os crimes de Israel e a apóiam, incondicionalmente, independente das atrocidades cometidas contra os palestinos. É este o conceito de imparcialidade que os americanos tem? Será que eles são mesmo dignos de fazerem parte do Conselho de Segurança? E que porcaria de Conselho é este que não decide baseado na ampla maioria? O veto de um impede a todos? Que sistema é este? Cadê a democracia neste caso?
REFORMAS JÁ PARA O CADUCO CONSELHO DE SEGURANÇA!
Ministério das Relações Exteriores
Nota à Imprensa
Nota nº 67
Votação no Conselho de Segurança sobre os assentamentos israelenses nos Territórios Palestinos Ocupados
O Governo brasileiro lamenta que o projeto de resolução sobre a ilegalidade dos assentamentos não tenha sido adotado no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O Governo brasileiro lamenta que o projeto de resolução sobre a ilegalidade dos assentamentos israelenses nos Territórios Palestinos Ocupados, incluindo Jerusalém Oriental, não tenha sido adotado no Conselho de Segurança das Nações Unidas, em votação ocorrida na tarde de hoje, dia 18. O projeto recebeu o co-patrocínio de 128 dos 192 membros da ONU, inclusive o Brasil, e o voto afirmativo de 14 dos 15 membros do Conselho de Segurança.
Após a votação, a Representante Permanente do Brasil junto às Nações Unidas em Nova York, Embaixadora Maria Luiza Viotti, proferiu a seguinte explicação de voto:
“A solução pacífica da Questão da Palestina é possivelmente o objetivo mais importante para a paz e a estabilidade no mundo.
Por sua vez, a continuada expansão dos assentamentos israelenses nos Territórios Palestinos Ocupados tornou-se o obstáculo mais grave a progressos concretos nas negociações para uma solução justa e duradoura da Questão.
É, portanto, natural que o Conselho de Segurança trate deste tema de forma condizente com sua responsabilidade primária pela manutenção da paz e da segurança internacionais. Saudamos um crescente engajamento da comunidade internacional nessa questão, inclusive por meio do Conselho de Segurança.
O projeto de resolução diante de nós reafirmava que todas as atividades israelenses relacionadas aos assentamentos nos Territórios Palestinos Ocupados, inclusive em Jerusalém Oriental, são ilegais e constituem grande obstáculo para alcançar-se a paz com base na solução dos dois Estados.
Recordava as obrigações de Israel nos termos do Mapa do Caminho, aprovado pela Resolução 1515 do CSNU. Também instava à retomada imediata de negociações efetivas.
O Brasil co-patrocinou o texto não apenas por concordarmos integralmente com ele, mas porque a resolução nos ajudaria a alcançar a solução de dois Estados e, portanto, contribuiria para a segurança e estabilidade de longo-prazo de toda região, inclusive de Israel. Ao procurar avançar o processo de paz, também temos em mente o direito de Israel de viver em segurança, livre de agressões e ameaças à sua existência. Brasil e Israel são bons amigos e importantes parceiros, tanto no âmbito bilateral quanto no do Mercosul.
Também co-patrocinamos o projeto de resolução porque sua adoção enviaria mensagens-chave urgentes.
Primeiro, que o desrespeito continuado das obrigações internacionais relacionadas à construção de assentamentos constitui ameaça à paz e à segurança na região.
Segundo, que a interrupção das atividades relacionadas aos assentamentos deve ser vista não como uma concessão, mas como a conduta legal de acordo com o direito internacional.
Terceiro, que ações unilaterais não devem prevalecer.
A defesa do direito internacional será sempre uma postura favorável à paz. O Conselho de Segurança não pode aceitar menos do que isso.
Distintos membros do Conselho de Segurança,
Ao longo dos anos, o Brasil vem apoiando a realização das legítimas aspirações do povo palestino por um Estado coeso, seguro, democrático e economicamente viável, dentro das fronteiras de 1967 e com Jerusalém Oriental como sua capital, vivendo lado a lado e em paz com o Estado de Israel.
À medida que fortalecemos nossas relações diplomáticas com todos os países da região, aprofundamos nosso compromisso com a estabilidade no Oriente Médio, nossa condenação a todas as formas de terrorismo e nossa convicção de que o processo de paz deve ser acelerado.
O recente reconhecimento do Estado Palestino pelo Brasil é plenamente consistente com nossa disposição de contribuir para uma solução justa e duradoura para a Questão da Palestina. Conforme indicado explicitamente naquele momento, tal decisão não significou o abandono da convicção de que negociações entre israelenses e palestinos são indispensáveis. Pelo contrário, nós a vemos como um estímulo a mais para as negociações. Apenas o diálogo e a coexistência pacífica com todos os vizinhos podem realmente fazer avançar a causa palestina.
Vários anos de esforços de negociação produziram base substancial sobre a qual é possível avançar. Temos a esperança de que a intensificação do cronograma de encontros do Quarteto revele disposição para dar passos concretos que levem a um acordo sobre status final até setembro próximo.
Acreditamos que a inclusão de mais países no processo de paz, inclusive países em desenvolvimento de fora da região e com boas relações com todas as partes, traria ar fresco para o processo de paz. O Brasil está pronto a participar e a apoiar tais esforços. Temos dado nossa contribuição aos esforços da Autoridade Palestina para a construção das instituições do Estado, inclusive por meio de cooperação bilateral e do IBAS (Índia, Brasil e África do Sul).
Num momento de particular potencial de mudanças no Oriente Médio, é ainda mais urgente que se faça progresso no processo de paz entre israelenses e palestinos. Agora, mais do que nunca, quanto melhores forem as perspectivas para o estabelecimento do Estado palestino, maior será a probabilidade de que a região avance rumo à estabilidade e à democracia. O congelamento da construção de assentamentos seria claro sinal de vontade política de engajar-se em negociações sérias.
Para chegar-se a um acordo, serão necessárias decisões políticas difíceis. O Brasil está confiante em que as lideranças israelenses e palestinas saberão portar-se como estadistas e estarão prontas a fazer as concessões dolorosas necessárias para que as próximas gerações possam usufruir dos benefícios da paz.”
REFORMAS JÁ PARA O CADUCO CONSELHO DE SEGURANÇA!
Ministério das Relações Exteriores
Nota à Imprensa
Nota nº 67
Votação no Conselho de Segurança sobre os assentamentos israelenses nos Territórios Palestinos Ocupados
O Governo brasileiro lamenta que o projeto de resolução sobre a ilegalidade dos assentamentos não tenha sido adotado no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O Governo brasileiro lamenta que o projeto de resolução sobre a ilegalidade dos assentamentos israelenses nos Territórios Palestinos Ocupados, incluindo Jerusalém Oriental, não tenha sido adotado no Conselho de Segurança das Nações Unidas, em votação ocorrida na tarde de hoje, dia 18. O projeto recebeu o co-patrocínio de 128 dos 192 membros da ONU, inclusive o Brasil, e o voto afirmativo de 14 dos 15 membros do Conselho de Segurança.
Após a votação, a Representante Permanente do Brasil junto às Nações Unidas em Nova York, Embaixadora Maria Luiza Viotti, proferiu a seguinte explicação de voto:
“A solução pacífica da Questão da Palestina é possivelmente o objetivo mais importante para a paz e a estabilidade no mundo.
Por sua vez, a continuada expansão dos assentamentos israelenses nos Territórios Palestinos Ocupados tornou-se o obstáculo mais grave a progressos concretos nas negociações para uma solução justa e duradoura da Questão.
É, portanto, natural que o Conselho de Segurança trate deste tema de forma condizente com sua responsabilidade primária pela manutenção da paz e da segurança internacionais. Saudamos um crescente engajamento da comunidade internacional nessa questão, inclusive por meio do Conselho de Segurança.
O projeto de resolução diante de nós reafirmava que todas as atividades israelenses relacionadas aos assentamentos nos Territórios Palestinos Ocupados, inclusive em Jerusalém Oriental, são ilegais e constituem grande obstáculo para alcançar-se a paz com base na solução dos dois Estados.
Recordava as obrigações de Israel nos termos do Mapa do Caminho, aprovado pela Resolução 1515 do CSNU. Também instava à retomada imediata de negociações efetivas.
O Brasil co-patrocinou o texto não apenas por concordarmos integralmente com ele, mas porque a resolução nos ajudaria a alcançar a solução de dois Estados e, portanto, contribuiria para a segurança e estabilidade de longo-prazo de toda região, inclusive de Israel. Ao procurar avançar o processo de paz, também temos em mente o direito de Israel de viver em segurança, livre de agressões e ameaças à sua existência. Brasil e Israel são bons amigos e importantes parceiros, tanto no âmbito bilateral quanto no do Mercosul.
Também co-patrocinamos o projeto de resolução porque sua adoção enviaria mensagens-chave urgentes.
Primeiro, que o desrespeito continuado das obrigações internacionais relacionadas à construção de assentamentos constitui ameaça à paz e à segurança na região.
Segundo, que a interrupção das atividades relacionadas aos assentamentos deve ser vista não como uma concessão, mas como a conduta legal de acordo com o direito internacional.
Terceiro, que ações unilaterais não devem prevalecer.
A defesa do direito internacional será sempre uma postura favorável à paz. O Conselho de Segurança não pode aceitar menos do que isso.
Distintos membros do Conselho de Segurança,
Ao longo dos anos, o Brasil vem apoiando a realização das legítimas aspirações do povo palestino por um Estado coeso, seguro, democrático e economicamente viável, dentro das fronteiras de 1967 e com Jerusalém Oriental como sua capital, vivendo lado a lado e em paz com o Estado de Israel.
À medida que fortalecemos nossas relações diplomáticas com todos os países da região, aprofundamos nosso compromisso com a estabilidade no Oriente Médio, nossa condenação a todas as formas de terrorismo e nossa convicção de que o processo de paz deve ser acelerado.
O recente reconhecimento do Estado Palestino pelo Brasil é plenamente consistente com nossa disposição de contribuir para uma solução justa e duradoura para a Questão da Palestina. Conforme indicado explicitamente naquele momento, tal decisão não significou o abandono da convicção de que negociações entre israelenses e palestinos são indispensáveis. Pelo contrário, nós a vemos como um estímulo a mais para as negociações. Apenas o diálogo e a coexistência pacífica com todos os vizinhos podem realmente fazer avançar a causa palestina.
Vários anos de esforços de negociação produziram base substancial sobre a qual é possível avançar. Temos a esperança de que a intensificação do cronograma de encontros do Quarteto revele disposição para dar passos concretos que levem a um acordo sobre status final até setembro próximo.
Acreditamos que a inclusão de mais países no processo de paz, inclusive países em desenvolvimento de fora da região e com boas relações com todas as partes, traria ar fresco para o processo de paz. O Brasil está pronto a participar e a apoiar tais esforços. Temos dado nossa contribuição aos esforços da Autoridade Palestina para a construção das instituições do Estado, inclusive por meio de cooperação bilateral e do IBAS (Índia, Brasil e África do Sul).
Num momento de particular potencial de mudanças no Oriente Médio, é ainda mais urgente que se faça progresso no processo de paz entre israelenses e palestinos. Agora, mais do que nunca, quanto melhores forem as perspectivas para o estabelecimento do Estado palestino, maior será a probabilidade de que a região avance rumo à estabilidade e à democracia. O congelamento da construção de assentamentos seria claro sinal de vontade política de engajar-se em negociações sérias.
Para chegar-se a um acordo, serão necessárias decisões políticas difíceis. O Brasil está confiante em que as lideranças israelenses e palestinas saberão portar-se como estadistas e estarão prontas a fazer as concessões dolorosas necessárias para que as próximas gerações possam usufruir dos benefícios da paz.”
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Folha de São Paulo
17/02/2011
As bengaladas do pacifista
LUCAS MENDES
COLUNISTA DA BBC BRASIL, EM NOVA YORK
Ditadores bravos e mansos, cuidado com a bengala de Gene Sharp. Ele foi o inspirador e guia dos protestos que derrubaram Milosevic na Sérvia, os regimes da Ucrânia e Geórgia, os ditadores do Egito, da Tunísia, sacodem o Irã, Bahrein, Líbia, Iraque, Argélia. Quem mais? Incomodam Chávez, Putin e dezenas de democracias suspeitas.
Seu Politics of Nonviolent Action (Políticas de ação não-violenta) é um canhão de 902 páginas, publicado em 1973, mas sua arma mais usada é o breve e portátil From Dictatorship to Democracy (Da Ditadura à Democracia), de 90 páginas, traduzido para mais de 30 línguas. O download é fácil.
Quando foi publicado em russo, as duas livrarias que vendiam o livro pegaram fogo, uma delas por um coquetel molotov dos convencionais.
Os protestos na Tunísia e no Egito não foram espontâneos, sem líderes e sem planejamento. Embora ninguém esperasse um final tão rápido, foram muito bem coordenados, e sem Facebook e Twitter teriam fracassado.
Numa longa e minuciosa matéria, o "New York Times" revela as conexões dos jovens nas ruas e praças árabes com ativistas sérvios ligados ao Otpor, o movimento de resistência pacífica decisivo na queda de Milosevic que se orientou pelo manual de Gene Sharp e colaborou com tunisianos e egípcios.
Quando Ahmadinejad e Hugo Chávez se queixam que os protestos são inspirados e ensinados por agitadores internacionais, eles estão certos. Chávez já se referiu a ele em público e Ahmadinejad mandou fazer um filme de propaganda antiamericana rodado na TV estatal onde o personagem malvadop é inspirado em Gene Sharp, um suposto agente da CIA.
Este agitador tem 83 anos, está frágil, caminha com uma bengala e mora numa casa modesta perto do aeroporto de Boston com estantes de livros cheias até no banheiro. No teto há uma estufa onde cultiva orquídeas, um antigo relaxante. No perfil de onde vieram algumas destas informações, Philip Shiskin conta que Sharp, nascido em Ohio, é extremamente tímido, nunca se casou nem teve filhos e, desde a infância, teve poucos amigos, porque o pai, um pastor, não parava em lugar algum.
Sharp foi bem educado, com doutorado em Oxford. Durante uma longa temporada em Harvard, criou a Albert Einstein Institution, dedicada à pesquisa e promoção de resistência pacífica a ditaduras. O nome é uma homenagem ao genial cientista pacifista, mas seu modelo de estudo e inspiração é Gandhi, não o Mahatma, o sonhador, e sim o Mohandas, que, além de guru maior da resistência pacifica que expulsou os ingleses da Índia, era "um político calculista".
Afiado e conciso, Sharp explica: "As ditaduras existem porque o povo consente". No livro ele dá uma receita com 198 táticas de resistência pacífica. "O importante é parar a máquina do governo. Se os soldados não dispararem, se houver um curto circuito nas comunicações e o sistema de transporte parar, os ditadores poderão dar ordens, mas não acontecerá nada".
Numa entrevista em 2002, Sharp disse que os estudantes na Praça Celestial da Paz em Pequim quase derrubaram o governo chinês, mas faltou estratégia. "Os funcionários públicos jogavam dinheiro em cima dos estudantes, mas não entraram em greve e ninguém planejou parar o sistema de transportes."
Sharp perdeu a verba que financiava seu Instituto Einstein e raramente sai de seu refúgio em Boston. O nome dele é destaque nos jornais, mas não tem dado entrevistas. Alimenta a subversão pacífica pelos livros e pela internet, mas em 1992, conta Shishkin, Sharp saiu de barco da Tailândia e entrou às escondidas em Mianmar para convencer os guerrilheiros a trocar a luta armada pela sua cartilha sem violência.
Para entender a explosão de protestos no mundo árabe não é preciso ler os livros de Sharp. Eles enriquecem a informação, mas o essencial já está nos jornais, como os movimentos egípcio, tunisiano e outros estão conectados há muito tempo pelo Facebook. Sharp, o inspirador dos protestos, não sabe se esta explosão vai desaguar em regimes livres e simpáticos ao Ocidente.
Vamos descobrir com ele se o gene da democracia está no DNA do mundo árabe.
17/02/2011
As bengaladas do pacifista
LUCAS MENDES
COLUNISTA DA BBC BRASIL, EM NOVA YORK
Ditadores bravos e mansos, cuidado com a bengala de Gene Sharp. Ele foi o inspirador e guia dos protestos que derrubaram Milosevic na Sérvia, os regimes da Ucrânia e Geórgia, os ditadores do Egito, da Tunísia, sacodem o Irã, Bahrein, Líbia, Iraque, Argélia. Quem mais? Incomodam Chávez, Putin e dezenas de democracias suspeitas.
Seu Politics of Nonviolent Action (Políticas de ação não-violenta) é um canhão de 902 páginas, publicado em 1973, mas sua arma mais usada é o breve e portátil From Dictatorship to Democracy (Da Ditadura à Democracia), de 90 páginas, traduzido para mais de 30 línguas. O download é fácil.
Quando foi publicado em russo, as duas livrarias que vendiam o livro pegaram fogo, uma delas por um coquetel molotov dos convencionais.
Os protestos na Tunísia e no Egito não foram espontâneos, sem líderes e sem planejamento. Embora ninguém esperasse um final tão rápido, foram muito bem coordenados, e sem Facebook e Twitter teriam fracassado.
Numa longa e minuciosa matéria, o "New York Times" revela as conexões dos jovens nas ruas e praças árabes com ativistas sérvios ligados ao Otpor, o movimento de resistência pacífica decisivo na queda de Milosevic que se orientou pelo manual de Gene Sharp e colaborou com tunisianos e egípcios.
Quando Ahmadinejad e Hugo Chávez se queixam que os protestos são inspirados e ensinados por agitadores internacionais, eles estão certos. Chávez já se referiu a ele em público e Ahmadinejad mandou fazer um filme de propaganda antiamericana rodado na TV estatal onde o personagem malvadop é inspirado em Gene Sharp, um suposto agente da CIA.
Este agitador tem 83 anos, está frágil, caminha com uma bengala e mora numa casa modesta perto do aeroporto de Boston com estantes de livros cheias até no banheiro. No teto há uma estufa onde cultiva orquídeas, um antigo relaxante. No perfil de onde vieram algumas destas informações, Philip Shiskin conta que Sharp, nascido em Ohio, é extremamente tímido, nunca se casou nem teve filhos e, desde a infância, teve poucos amigos, porque o pai, um pastor, não parava em lugar algum.
Sharp foi bem educado, com doutorado em Oxford. Durante uma longa temporada em Harvard, criou a Albert Einstein Institution, dedicada à pesquisa e promoção de resistência pacífica a ditaduras. O nome é uma homenagem ao genial cientista pacifista, mas seu modelo de estudo e inspiração é Gandhi, não o Mahatma, o sonhador, e sim o Mohandas, que, além de guru maior da resistência pacifica que expulsou os ingleses da Índia, era "um político calculista".
Afiado e conciso, Sharp explica: "As ditaduras existem porque o povo consente". No livro ele dá uma receita com 198 táticas de resistência pacífica. "O importante é parar a máquina do governo. Se os soldados não dispararem, se houver um curto circuito nas comunicações e o sistema de transporte parar, os ditadores poderão dar ordens, mas não acontecerá nada".
Numa entrevista em 2002, Sharp disse que os estudantes na Praça Celestial da Paz em Pequim quase derrubaram o governo chinês, mas faltou estratégia. "Os funcionários públicos jogavam dinheiro em cima dos estudantes, mas não entraram em greve e ninguém planejou parar o sistema de transportes."
Sharp perdeu a verba que financiava seu Instituto Einstein e raramente sai de seu refúgio em Boston. O nome dele é destaque nos jornais, mas não tem dado entrevistas. Alimenta a subversão pacífica pelos livros e pela internet, mas em 1992, conta Shishkin, Sharp saiu de barco da Tailândia e entrou às escondidas em Mianmar para convencer os guerrilheiros a trocar a luta armada pela sua cartilha sem violência.
Para entender a explosão de protestos no mundo árabe não é preciso ler os livros de Sharp. Eles enriquecem a informação, mas o essencial já está nos jornais, como os movimentos egípcio, tunisiano e outros estão conectados há muito tempo pelo Facebook. Sharp, o inspirador dos protestos, não sabe se esta explosão vai desaguar em regimes livres e simpáticos ao Ocidente.
Vamos descobrir com ele se o gene da democracia está no DNA do mundo árabe.
Palestina Livre
Visite o site http://www.palestinalivre.org/ e mantenha-se inteirado sobre as principais atividades da comunidade palestina pensante no Brasil.
Vale a pena conferir!
Vale a pena conferir!
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Livro Didático?
Como acontece todos os anos, desde que minhas filhas ingressaram na escola, neste ano fiz, mais uma vez, a via crucis da compra de material escolar. Primeiro o pagamento das matrículas e material coletivo (um absurdo cobrado e do qual nunca nos prestam contas), depois a lista de materiais e livros.
Fiz pesquisa de preços, comparei, pesquisei na internet e fiz todo o possível para economizar meu suado dinheirinho. O resultado não foi lá muito gratificante.
Como todos os pais, fiquei revoltada com o preço dos livros que só serão usados neste ano e no ano que vem não servem nem para vender aos sebos, pois já serão considerados obsoletos.
Se as matérias continuam as mesmas, a gramática continua com as mesmas regras, a história do descobrimento do Brasil não mudou (que eu saiba) e muito menos a tabela periódica, então por que mudar os livros todo o ano? E se as matérias são as mesmas, por que as escolas não preparam apostilas que incluam as matérias e os exercícios, poupando assim cadernos, livros e principalmente poupando as florestas da degradação?
Não é isso que ensinam nas escolas, o respeito ao meio ambiente? Que exemplo é este se as próprias escolas protagonizam a degradação das florestas com o descarte sistemático dos livros anualmente? Isso fora os cadernos e zilhões de resmas de papel. É assim que educam nossos filhos? Ensinando a hipocrisia desde cedo?
Deveria haver uma lei que proibisse este tipo de prática. Aliás, deveria haver uma lei que obrigasse as escolas, públicas e particulares a seguirem um curriculo escolar unificado, com as mesmas matérias para todos, assim a direfenças diminuiriam e o ensino de qualidade seria proporcionado a todos, dando aos alunos das escolas, todas, as mesmas oportunidades de concorrer a vagas nas faculdades.
Fica aqui o meu protesto e minha revolta. Tenho certeza que este é o sentimento de todos os pais que se sentem agredidos, ofendidos, massacrados e ao mesmo tempo impotentes diante da arbitrariedade das escolas particulares no Brasil.
É um desrespeito total com os pais que velam pela boa educação de seus filhos e se preocupam em dar um ensino de qualidade a eles, além de ser um crime flagrante contra o meio ambiente.
Fiz pesquisa de preços, comparei, pesquisei na internet e fiz todo o possível para economizar meu suado dinheirinho. O resultado não foi lá muito gratificante.
Como todos os pais, fiquei revoltada com o preço dos livros que só serão usados neste ano e no ano que vem não servem nem para vender aos sebos, pois já serão considerados obsoletos.
Se as matérias continuam as mesmas, a gramática continua com as mesmas regras, a história do descobrimento do Brasil não mudou (que eu saiba) e muito menos a tabela periódica, então por que mudar os livros todo o ano? E se as matérias são as mesmas, por que as escolas não preparam apostilas que incluam as matérias e os exercícios, poupando assim cadernos, livros e principalmente poupando as florestas da degradação?
Não é isso que ensinam nas escolas, o respeito ao meio ambiente? Que exemplo é este se as próprias escolas protagonizam a degradação das florestas com o descarte sistemático dos livros anualmente? Isso fora os cadernos e zilhões de resmas de papel. É assim que educam nossos filhos? Ensinando a hipocrisia desde cedo?
Deveria haver uma lei que proibisse este tipo de prática. Aliás, deveria haver uma lei que obrigasse as escolas, públicas e particulares a seguirem um curriculo escolar unificado, com as mesmas matérias para todos, assim a direfenças diminuiriam e o ensino de qualidade seria proporcionado a todos, dando aos alunos das escolas, todas, as mesmas oportunidades de concorrer a vagas nas faculdades.
Fica aqui o meu protesto e minha revolta. Tenho certeza que este é o sentimento de todos os pais que se sentem agredidos, ofendidos, massacrados e ao mesmo tempo impotentes diante da arbitrariedade das escolas particulares no Brasil.
É um desrespeito total com os pais que velam pela boa educação de seus filhos e se preocupam em dar um ensino de qualidade a eles, além de ser um crime flagrante contra o meio ambiente.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Desculpas
Peço desculpas aos meus leitores pelo post abaixo.
Fiquei tão feliz com a falsa notícia, que a publiquei imediatamente. Mas não perco as esperanças de que ela se torne realidade em pouquíssimo tempo.
Fica a minha opinião sobre a revolução, que mantenho até que alguém me prove o contrário.
Fiquei tão feliz com a falsa notícia, que a publiquei imediatamente. Mas não perco as esperanças de que ela se torne realidade em pouquíssimo tempo.
Fica a minha opinião sobre a revolução, que mantenho até que alguém me prove o contrário.
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Tchau Mubarak!
Mubarak caiu!
Até que enfim!
O exército cruzou os braços!
O povo se uniu!
O país parou!
E Mubarak caiu!
É assim que se faz uma revolução. Dezessete dias e pronto! Foram 302 mortos, quase 4 mil feridos e um bando de corruptos destituídos de seus cargos. Fugiram como ratos. Abandonaram o navio bem antes do esperado.
Pensei que fosse durar mais. Pensei que haveria mais resistência. Mas taí: Mubarak caiu!
É um dia histórico para o mundo. O verdadeiro início de uma nova ordem mundial. A ordem agora é mostrar que tudo pode ser mudado, se houver vontade popular. Não haverá mais espaço para nepotismos, autoritarismos, ditaduras, opressões e todas estas ferramentas obsoletas usadas pelos velhacos.
A Tunísia deu o exemplo, o Egito seguiu o exemplo e tenho certeza que daqui para a frente muitos outros o seguirão.
Esta revolta popular serve de exemplo para todos os povos oprimidos mundo afora. É através da união das forças que se faz a mudança. Infelizmente, muitos acabam pagando com a vida, mas não se faz uma revolução sem pagar com a própria vida, de uma forma ou de outra. Taí o Julian Assange para provar o que eu digo. Já que não conseguiram provar a falsidade das informações divulgadas no Wikileaks, trataram de incrimina-lo por transar com prostitutas sem usar camisinha. Neste caso, o Bill Clinton deveria ser preso, afinal os vestidinhos da Monica Lewinsky provaram que ele não usou nenhum tipo de preservativo. O John Kennedy também...pobre Marilyn Monroe, teve que se suicidar (será?)!
E a China que bloqueou qualquer referência ao Egito na internet? Medinho de uma revolta na Praça Vermelha? É bom se preparar, afinal o desrespeito aos direitos humanos na China já deu o que tinha que dar.
Quanto à imprensa mundial, esta não pára de cogitar a possibilidade de ascensão dos extremistas muçulmanos ao poder, aos quais se refere como os herdeiros de Hassan Al Banna, um dos fundadores da Irmandade Muçulmana. Como eu disse no meu post anterior, talvez eles até assumam o poder no Egito, mas será por pouco tempo, pois apesar de agirem durante todos estes anos como uma entidade assistencial e não como oposição (sabiamente), os egípcios não vão tolerar mais repressão, seja ela de qualquer espécie.
A internet teve e tem um papel fundamental neste movimento, que é formado não apenas por muçulmanos radicais, mas também por intelectuais e uma geração esclarecida e politizada. Cada um reivindicará sua fatia do poder, mas desta vez não haverá predominância de uma força sobre a outra. Ou talvez tenha, mas será a predominância da vontade popular!
Elementar meu caro Watson!
Até que enfim!
O exército cruzou os braços!
O povo se uniu!
O país parou!
E Mubarak caiu!
É assim que se faz uma revolução. Dezessete dias e pronto! Foram 302 mortos, quase 4 mil feridos e um bando de corruptos destituídos de seus cargos. Fugiram como ratos. Abandonaram o navio bem antes do esperado.
Pensei que fosse durar mais. Pensei que haveria mais resistência. Mas taí: Mubarak caiu!
É um dia histórico para o mundo. O verdadeiro início de uma nova ordem mundial. A ordem agora é mostrar que tudo pode ser mudado, se houver vontade popular. Não haverá mais espaço para nepotismos, autoritarismos, ditaduras, opressões e todas estas ferramentas obsoletas usadas pelos velhacos.
A Tunísia deu o exemplo, o Egito seguiu o exemplo e tenho certeza que daqui para a frente muitos outros o seguirão.
Esta revolta popular serve de exemplo para todos os povos oprimidos mundo afora. É através da união das forças que se faz a mudança. Infelizmente, muitos acabam pagando com a vida, mas não se faz uma revolução sem pagar com a própria vida, de uma forma ou de outra. Taí o Julian Assange para provar o que eu digo. Já que não conseguiram provar a falsidade das informações divulgadas no Wikileaks, trataram de incrimina-lo por transar com prostitutas sem usar camisinha. Neste caso, o Bill Clinton deveria ser preso, afinal os vestidinhos da Monica Lewinsky provaram que ele não usou nenhum tipo de preservativo. O John Kennedy também...pobre Marilyn Monroe, teve que se suicidar (será?)!
E a China que bloqueou qualquer referência ao Egito na internet? Medinho de uma revolta na Praça Vermelha? É bom se preparar, afinal o desrespeito aos direitos humanos na China já deu o que tinha que dar.
Quanto à imprensa mundial, esta não pára de cogitar a possibilidade de ascensão dos extremistas muçulmanos ao poder, aos quais se refere como os herdeiros de Hassan Al Banna, um dos fundadores da Irmandade Muçulmana. Como eu disse no meu post anterior, talvez eles até assumam o poder no Egito, mas será por pouco tempo, pois apesar de agirem durante todos estes anos como uma entidade assistencial e não como oposição (sabiamente), os egípcios não vão tolerar mais repressão, seja ela de qualquer espécie.
A internet teve e tem um papel fundamental neste movimento, que é formado não apenas por muçulmanos radicais, mas também por intelectuais e uma geração esclarecida e politizada. Cada um reivindicará sua fatia do poder, mas desta vez não haverá predominância de uma força sobre a outra. Ou talvez tenha, mas será a predominância da vontade popular!
Elementar meu caro Watson!
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Presenciar a História
Folha de São Paulo - Ilustríssima
06/02/2011
Direto do Cairo: Mamede Mustafa Jarouche
DO CAIRO
De passagem pelo Cairo, onde participaria do salão egípcio do livro, o tradutor brasileiro Mamede Mustafa Jarouche, 47, foi surpreendido pela eclosão da revolta popular contra o ditador Hosni Mubarak, no poder desde 1981.
No depoimento publicado pela Ilustrissima desta semana, o professor de língua e literatura árabe na USP narra o clima na cidade e comenta aspectos culturais do levante. Assinantes da Folha e do Uol têm acesso à íntegra do texto.
Jarouche traduziu, entre outras obras, o "Livro das Mil e Uma Noites" (Globo). Leia aqui um trecho da tradução, cedido pela editora.
MAMEDE MUSTAFA JAROUCHE
CHEGUEI AO CAIRO num dia e no outro começaram as manifestações que culminaram no 25 de janeiro. Mudei-me para o meu prédio num dia e no outro o elevador quebrou. Um livro que organizei para a Editorial Al-Jamal, de Beirute e Bagdá, ia ser lançado na Feira do Livro do Cairo, realizada anualmente entre a segunda quinzena de janeiro e a segunda de fevereiro, e que acabou sendo cancelada até segunda ordem.
"Vou-me embora, estou dando azar ou vivendo alguma espécie de inferno zodiacal", digo a um amigo, o jornalista jordaniano Riyad Abou-Awwad, da France Presse, que responde: "Se quiser viver um momento histórico de verdade, fundamental para a história do mundo árabe e da região, fique e registre em português. Caso contrário, fuja feito um covarde, pois ainda é tempo".
"Ok, mas tenho medo de morrer", protesto.
"E o que significa a porcaria da tua vida comparada a uma revolução?", completa ele. O argumento me convence e fico, quase não sentindo que a "porcaria da minha vida" estivesse em risco.
Pelo menos até ontem, quando fui interpelado, pouco depois do toque de recolher, por membros do comitê popular de defesa de quarteirões. A condição de brasileiro e o nome árabe me salvaram de uma paulada. Como me disse ao telefone o historiador Joaci Furtado, "é um privilégio ver a história em movimento". Desde, claro, que ninguém tente matá-lo.
PARANOIA
Existe uma paranoia no ar, teorias conspiratórias sobem e descem as avenidas da cidade. Os americanos, os israelenses, os sauditas --para cada teoria existe uma explicação, muitas vezes engenhosa. Na quinta, ouvi a mais divertida: "Acabaram de prender quatro libaneses com documentos egípcios falsos e panfletos incitando a juventude contra o governo", me diz o dono de uma LAN house, sabedor de minha condição de descendente de libaneses.
"Onde?", pergunto.
"Logo ali, perto do tanque do exército."
Vou até lá, circulo por todo o local, pergunto aos passantes, a pessoas nos grupos concentrados pela região que discutem com vigor. Ninguém sabe nada a respeito dos tais libaneses presos "logo ali".
Enquanto volto à LAN house, pergunto sobre os quatro misteriosos libaneses a um careca que caminha perto de mim. Agora fiquei obcecado. Ele diz que não sabe de nada, mas que é bem possível, pois "esse pessoal do Hizbollah, junto com os iranianos, é capaz de tudo. Deus nos livre". Só então compreendo: trata-se de uma conspiração não exatamente de libaneses, mas de xiitas. Já na LAN house, para que não reste a menor dúvida, ponho-me a elogiar o sunismo, Deus me livre de suspeitas.
HUMOR
A crise não elimina o bom humor das pessoas. Ligo para um amigo palestino, jornalista da rádio Montecarlo: "Nabil, sabe aquele restaurante que eu gostava? Virou um lixão". "Parabéns, meu amigo, pois aquilo sempre foi um lixão. O seu gosto é que está se sofisticando."
Conto ao poeta e editor iraquiano Kháled Al-Maaly que, após uma procura inútil, ganhei um pão de um popular na rua. Ele não hesita em responder: "Ele só está te cevando. Quando faltar comida, nós, estrangeiros, é que vamos virar refeição".
Um slogan dos manifestantes, caprichosamente rimado: "Ben Ali está te chamando, o hotel de Jedda está te esperando". [Jedda é o hotel onde o ditador tunisiano Ben Ali se refugiou, na Arábia Saudita.] "Tudo o que esperávamos ouvir de Mubarak era que entendeu o nosso recado", diz com sorriso maroto a militante on-line Isrá Abdulfattah.
"Entendi o seu recado" foram as últimas palavras de Ben Ali a seu povo antes de ser derrubado. Involutariamente, essa fala repetiu a de De Gaulle aos argelinos durante a revolução, em 1958.
Abdurrahman El Sharqawi, colega da Universidade do Cairo, aponta a placa no prédio do Partido do Amanhã: "Sede temporária". Parece a piada pronta do José Simão. Em tempo: o Partido do Amanhã não tomou posição.
PAI
Na TV do governo, com o esgotamento dos argumentos em favor do ditador, o locutor lasca: "Ele é como se fosse nosso pai. Expulsá-lo agora seria como jogar o nosso pai na rua porque está velho".
O famoso ator Ádil Imam, acusado à boca pequena de ser contra os protestos por receber dinheiro e benefícios do governo, resolve declarar em todos os canais internacionais o seu apoio à causa dos "nossos jovens".
Comentário do analista político Azmi Bichara: "É um excelente sinal para a revolução que os ratos fujam do navio". O presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, numa oferta preventiva: "Não só não me recandidatarei como não pretendo eleger meu filho no meu lugar".
No mesmo dia 1º/2, na sede do Partido Tajammu', socialista, montaram uma pequena clínica com remédios e médicos se revezando no plantão para atender pessoas agredidas etc. Entra um sujeito ofegante, com algum problema debaixo do olho.
Chego perto dele: "Te acertaram no olho?".
"Não", é a resposta irritada. "Essa marca é de nascença. Só estou cansado."
GERAÇÕES
A diferença nas culturas está no modo como veem e lidam com os mesmos fatos. O dono do apartamento que aluguei me diz: "Um homem tem algo mais caro que o seu filho? Não! É por isso que Mubarak quer eleger o filho em seu lugar, e vai lutar até o último minuto".
Parece uma explicação razoável, mas Lula, FHC e tantos outros certamente amavam os seus filhos, sem que isso os fizesse planejar colocá-los em seu lugar. O uso desses argumentos, contudo, demonstra a sua força --para as gerações mais velhas.
Não à toa, se trata de uma revolução de jovens, que já não acreditam mais nessa conversa. Como observou com lucidez o velho jornalista Muhamad Hassaneyn Heykal, "o alvorecer, o amanhecer e o entardecer têm seus donos, e já não é a nossa geração". É o que senti no meio dos manifestantes jovens: uma grande sensação de deslocamento, não por minha condição de estrangeiro, mas por meu tempo, e foi o que vi entre os mais velhos que os apoiam.
Embora se saiba que é impossível acompanhar revoluções com neutralidade, tampouco a identificação absoluta é possível quando a pertinência ao lugar está prejudicada.
Exigir democracia, eleições livres, dignidade, um parlamento eleito com liberdade, parece-me apenas a superfície de algo que se move nas profundezas desses meninos, é o desejo de sacudir todo o atraso, toda a miséria que infelicita os árabes, o coração de todos os árabes, com as limitações e "repúblicas hereditárias" que os reduzem à condição de "fábula do lar, riso da praça", como diria Gregório de Mattos.
Talvez alguns se lembrem da releitura que o escritor Raduan Nassar, no romance "Lavoura Arcaica" (1976), faz de uma fábula árabe a respeito da paciência. Nessa antiga fábula, incluída no "Livro das Mil e Uma Noites", um velho faz para um jovem um discurso didático sobre as virtudes da paciência e da moderação, e este se convence e o acata.
Na releitura de Raduan, o rapaz, após ouvir a fala do velho, espanca-o até a morte. Os manifestantes revolucionários egípcios são esse jovem, e Mubarak e seus asseclas, voluntários e involuntários, são o velho.
"O povo quer derrubar o regime", começaram dizendo, e Mubarak dissolveu o ministério e nomeou outro. "O povo quer derrubar o presidente", corrigiram eles, e Mubarak anunciou que em setembro deixaria de "servir ao povo egípcio". "Ele que se vá, porque nós não iremos", emendaram.
RADICALISMO
Não se trata apenas do desejo de expulsar um ditador, mas a face por assim dizer palatável e genérica, para setores da classe média ocidental, de um radicalismo saudável e furiosamente belo em sua pureza e quase espontaneidade: com o ditador, queremos expulsar um tempo e um modo de pensar. É a sua mensagem. Eles já não têm moderação e muito menos paciência.
Nesse jogo de alegorias, Mubarak é o pretexto, uma das manifestações da infinita tristeza deste tempo árabe, e botar abaixo a sua miséria é a missão a que se propuseram. É a expectativa dessas conquistas que ganhou boa parte da população.
Quanto a nós, absolutamente outros, o melhor, com todo o respeito ao poeta, é que voltemos todos para casa, as mãos pensas, avaliando em silêncio o que perdemos.
06/02/2011
Direto do Cairo: Mamede Mustafa Jarouche
DO CAIRO
De passagem pelo Cairo, onde participaria do salão egípcio do livro, o tradutor brasileiro Mamede Mustafa Jarouche, 47, foi surpreendido pela eclosão da revolta popular contra o ditador Hosni Mubarak, no poder desde 1981.
No depoimento publicado pela Ilustrissima desta semana, o professor de língua e literatura árabe na USP narra o clima na cidade e comenta aspectos culturais do levante. Assinantes da Folha e do Uol têm acesso à íntegra do texto.
Jarouche traduziu, entre outras obras, o "Livro das Mil e Uma Noites" (Globo). Leia aqui um trecho da tradução, cedido pela editora.
MAMEDE MUSTAFA JAROUCHE
CHEGUEI AO CAIRO num dia e no outro começaram as manifestações que culminaram no 25 de janeiro. Mudei-me para o meu prédio num dia e no outro o elevador quebrou. Um livro que organizei para a Editorial Al-Jamal, de Beirute e Bagdá, ia ser lançado na Feira do Livro do Cairo, realizada anualmente entre a segunda quinzena de janeiro e a segunda de fevereiro, e que acabou sendo cancelada até segunda ordem.
"Vou-me embora, estou dando azar ou vivendo alguma espécie de inferno zodiacal", digo a um amigo, o jornalista jordaniano Riyad Abou-Awwad, da France Presse, que responde: "Se quiser viver um momento histórico de verdade, fundamental para a história do mundo árabe e da região, fique e registre em português. Caso contrário, fuja feito um covarde, pois ainda é tempo".
"Ok, mas tenho medo de morrer", protesto.
"E o que significa a porcaria da tua vida comparada a uma revolução?", completa ele. O argumento me convence e fico, quase não sentindo que a "porcaria da minha vida" estivesse em risco.
Pelo menos até ontem, quando fui interpelado, pouco depois do toque de recolher, por membros do comitê popular de defesa de quarteirões. A condição de brasileiro e o nome árabe me salvaram de uma paulada. Como me disse ao telefone o historiador Joaci Furtado, "é um privilégio ver a história em movimento". Desde, claro, que ninguém tente matá-lo.
PARANOIA
Existe uma paranoia no ar, teorias conspiratórias sobem e descem as avenidas da cidade. Os americanos, os israelenses, os sauditas --para cada teoria existe uma explicação, muitas vezes engenhosa. Na quinta, ouvi a mais divertida: "Acabaram de prender quatro libaneses com documentos egípcios falsos e panfletos incitando a juventude contra o governo", me diz o dono de uma LAN house, sabedor de minha condição de descendente de libaneses.
"Onde?", pergunto.
"Logo ali, perto do tanque do exército."
Vou até lá, circulo por todo o local, pergunto aos passantes, a pessoas nos grupos concentrados pela região que discutem com vigor. Ninguém sabe nada a respeito dos tais libaneses presos "logo ali".
Enquanto volto à LAN house, pergunto sobre os quatro misteriosos libaneses a um careca que caminha perto de mim. Agora fiquei obcecado. Ele diz que não sabe de nada, mas que é bem possível, pois "esse pessoal do Hizbollah, junto com os iranianos, é capaz de tudo. Deus nos livre". Só então compreendo: trata-se de uma conspiração não exatamente de libaneses, mas de xiitas. Já na LAN house, para que não reste a menor dúvida, ponho-me a elogiar o sunismo, Deus me livre de suspeitas.
HUMOR
A crise não elimina o bom humor das pessoas. Ligo para um amigo palestino, jornalista da rádio Montecarlo: "Nabil, sabe aquele restaurante que eu gostava? Virou um lixão". "Parabéns, meu amigo, pois aquilo sempre foi um lixão. O seu gosto é que está se sofisticando."
Conto ao poeta e editor iraquiano Kháled Al-Maaly que, após uma procura inútil, ganhei um pão de um popular na rua. Ele não hesita em responder: "Ele só está te cevando. Quando faltar comida, nós, estrangeiros, é que vamos virar refeição".
Um slogan dos manifestantes, caprichosamente rimado: "Ben Ali está te chamando, o hotel de Jedda está te esperando". [Jedda é o hotel onde o ditador tunisiano Ben Ali se refugiou, na Arábia Saudita.] "Tudo o que esperávamos ouvir de Mubarak era que entendeu o nosso recado", diz com sorriso maroto a militante on-line Isrá Abdulfattah.
"Entendi o seu recado" foram as últimas palavras de Ben Ali a seu povo antes de ser derrubado. Involutariamente, essa fala repetiu a de De Gaulle aos argelinos durante a revolução, em 1958.
Abdurrahman El Sharqawi, colega da Universidade do Cairo, aponta a placa no prédio do Partido do Amanhã: "Sede temporária". Parece a piada pronta do José Simão. Em tempo: o Partido do Amanhã não tomou posição.
PAI
Na TV do governo, com o esgotamento dos argumentos em favor do ditador, o locutor lasca: "Ele é como se fosse nosso pai. Expulsá-lo agora seria como jogar o nosso pai na rua porque está velho".
O famoso ator Ádil Imam, acusado à boca pequena de ser contra os protestos por receber dinheiro e benefícios do governo, resolve declarar em todos os canais internacionais o seu apoio à causa dos "nossos jovens".
Comentário do analista político Azmi Bichara: "É um excelente sinal para a revolução que os ratos fujam do navio". O presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, numa oferta preventiva: "Não só não me recandidatarei como não pretendo eleger meu filho no meu lugar".
No mesmo dia 1º/2, na sede do Partido Tajammu', socialista, montaram uma pequena clínica com remédios e médicos se revezando no plantão para atender pessoas agredidas etc. Entra um sujeito ofegante, com algum problema debaixo do olho.
Chego perto dele: "Te acertaram no olho?".
"Não", é a resposta irritada. "Essa marca é de nascença. Só estou cansado."
GERAÇÕES
A diferença nas culturas está no modo como veem e lidam com os mesmos fatos. O dono do apartamento que aluguei me diz: "Um homem tem algo mais caro que o seu filho? Não! É por isso que Mubarak quer eleger o filho em seu lugar, e vai lutar até o último minuto".
Parece uma explicação razoável, mas Lula, FHC e tantos outros certamente amavam os seus filhos, sem que isso os fizesse planejar colocá-los em seu lugar. O uso desses argumentos, contudo, demonstra a sua força --para as gerações mais velhas.
Não à toa, se trata de uma revolução de jovens, que já não acreditam mais nessa conversa. Como observou com lucidez o velho jornalista Muhamad Hassaneyn Heykal, "o alvorecer, o amanhecer e o entardecer têm seus donos, e já não é a nossa geração". É o que senti no meio dos manifestantes jovens: uma grande sensação de deslocamento, não por minha condição de estrangeiro, mas por meu tempo, e foi o que vi entre os mais velhos que os apoiam.
Embora se saiba que é impossível acompanhar revoluções com neutralidade, tampouco a identificação absoluta é possível quando a pertinência ao lugar está prejudicada.
Exigir democracia, eleições livres, dignidade, um parlamento eleito com liberdade, parece-me apenas a superfície de algo que se move nas profundezas desses meninos, é o desejo de sacudir todo o atraso, toda a miséria que infelicita os árabes, o coração de todos os árabes, com as limitações e "repúblicas hereditárias" que os reduzem à condição de "fábula do lar, riso da praça", como diria Gregório de Mattos.
Talvez alguns se lembrem da releitura que o escritor Raduan Nassar, no romance "Lavoura Arcaica" (1976), faz de uma fábula árabe a respeito da paciência. Nessa antiga fábula, incluída no "Livro das Mil e Uma Noites", um velho faz para um jovem um discurso didático sobre as virtudes da paciência e da moderação, e este se convence e o acata.
Na releitura de Raduan, o rapaz, após ouvir a fala do velho, espanca-o até a morte. Os manifestantes revolucionários egípcios são esse jovem, e Mubarak e seus asseclas, voluntários e involuntários, são o velho.
"O povo quer derrubar o regime", começaram dizendo, e Mubarak dissolveu o ministério e nomeou outro. "O povo quer derrubar o presidente", corrigiram eles, e Mubarak anunciou que em setembro deixaria de "servir ao povo egípcio". "Ele que se vá, porque nós não iremos", emendaram.
RADICALISMO
Não se trata apenas do desejo de expulsar um ditador, mas a face por assim dizer palatável e genérica, para setores da classe média ocidental, de um radicalismo saudável e furiosamente belo em sua pureza e quase espontaneidade: com o ditador, queremos expulsar um tempo e um modo de pensar. É a sua mensagem. Eles já não têm moderação e muito menos paciência.
Nesse jogo de alegorias, Mubarak é o pretexto, uma das manifestações da infinita tristeza deste tempo árabe, e botar abaixo a sua miséria é a missão a que se propuseram. É a expectativa dessas conquistas que ganhou boa parte da população.
Quanto a nós, absolutamente outros, o melhor, com todo o respeito ao poeta, é que voltemos todos para casa, as mãos pensas, avaliando em silêncio o que perdemos.
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
A 1a. entrevista de Renato Russo
Foi com o meu amigo Mário Pacheco - Clique no link abaixo e leia!
http://www.dopropriobolso.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=239:renato-russo-a-primeira-entrevista&catid=44:musica-brasileira&Itemid=55
http://www.dopropriobolso.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=239:renato-russo-a-primeira-entrevista&catid=44:musica-brasileira&Itemid=55
New York contra-ataca!!!!
Folha de São Paulo
07/02/2011
Fumar, urinar, mendigar
João Pereira Coutinho
A semana foi dominada pelo Egito. Mas existem sinais de fanatismo do outro lado do mundo. Falo de Nova York, que resolveu aprovar uma lei revolucionária sobre o fumo.
Segundo leio, o conselho municipal da cidade, na impossibilidade de exterminar fisicamente os fumantes (por enquanto), prepara-se para afastá-los da paisagem.
Fumar em parques, praias e outras zonas pedestres (como Times Square) será virtualmente impossível. E existem multas para os prevaricadores: US$ 100, ou seja, R$ 166, exactamente o mesmo para quem urina em público ou pede esmola.
Engraçado. Aos olhos das autoridades, o fumante não é um sujeito autónomo, que escolhe um modo de vida com a maturidade própria das pessoas crescidas. O fumante está ao mesmo nível do selvagem incontinente que, tomado por urgência canina, resolve fazer o serviço na esquina de uma rua.
Ou, então, é um simples mendigo: um farrapo físico, para alguns moral, que depende da generosidade de terceiros.
Se juntarmos a tudo isso a impossibilidade de fumar em bares ou restaurantes (desde 2003); e a crescente proibição de fumo em hotéis, edifícios públicos e até apartamentos privados, o que resta aos fumantes em Nova York?
Resta, sejamos justos, a possibilidade de fumarem no meio das pistas e das rodovias, entre os escapes dos carros. Com sorte, ainda serão atropelados por eles.
Nada que horrorize Michael Bloomberg, mayor da cidade, para quem "o direito ao ar puro" não pode ser comprometido. Falar de "ar puro" em Nova York não deixa de ser uma piada macabra; é como falar das águas límpidas do rio Tietê.
Mas entendo Bloomberg: a sua cruzada não é científica pelo simples motivo de que não existe um único estudo, em mais de 60 anos de pesquisas, capaz de comprovar definitivamente a relação entre "fumo passivo" e câncer.
A cruzada de Bloomberg e de incontáveis fanáticos como ele é uma cruzada moral: movidos por uma ideia de perfeição humana, onde o vício não entra, eles pretendem transformar Nova York numa espécie de Meca puritana, onde todos rezam à mesma divindade. A Deusa Saúde. A única que sobreviveu no Ocidente pós-cristão.
Lamento. Mas não desisto. E da próxima vez que aterrar em Nova York, prometo fumar um cigarro no meio de Times Square, ao mesmo tempo que me alivio num poste. Pode ser que haja um desconto para quem comete dois crimes de uma vez. Ou três. Porque as multas serão pagas com o dinheiro das esmolas.
07/02/2011
Fumar, urinar, mendigar
João Pereira Coutinho
A semana foi dominada pelo Egito. Mas existem sinais de fanatismo do outro lado do mundo. Falo de Nova York, que resolveu aprovar uma lei revolucionária sobre o fumo.
Segundo leio, o conselho municipal da cidade, na impossibilidade de exterminar fisicamente os fumantes (por enquanto), prepara-se para afastá-los da paisagem.
Fumar em parques, praias e outras zonas pedestres (como Times Square) será virtualmente impossível. E existem multas para os prevaricadores: US$ 100, ou seja, R$ 166, exactamente o mesmo para quem urina em público ou pede esmola.
Engraçado. Aos olhos das autoridades, o fumante não é um sujeito autónomo, que escolhe um modo de vida com a maturidade própria das pessoas crescidas. O fumante está ao mesmo nível do selvagem incontinente que, tomado por urgência canina, resolve fazer o serviço na esquina de uma rua.
Ou, então, é um simples mendigo: um farrapo físico, para alguns moral, que depende da generosidade de terceiros.
Se juntarmos a tudo isso a impossibilidade de fumar em bares ou restaurantes (desde 2003); e a crescente proibição de fumo em hotéis, edifícios públicos e até apartamentos privados, o que resta aos fumantes em Nova York?
Resta, sejamos justos, a possibilidade de fumarem no meio das pistas e das rodovias, entre os escapes dos carros. Com sorte, ainda serão atropelados por eles.
Nada que horrorize Michael Bloomberg, mayor da cidade, para quem "o direito ao ar puro" não pode ser comprometido. Falar de "ar puro" em Nova York não deixa de ser uma piada macabra; é como falar das águas límpidas do rio Tietê.
Mas entendo Bloomberg: a sua cruzada não é científica pelo simples motivo de que não existe um único estudo, em mais de 60 anos de pesquisas, capaz de comprovar definitivamente a relação entre "fumo passivo" e câncer.
A cruzada de Bloomberg e de incontáveis fanáticos como ele é uma cruzada moral: movidos por uma ideia de perfeição humana, onde o vício não entra, eles pretendem transformar Nova York numa espécie de Meca puritana, onde todos rezam à mesma divindade. A Deusa Saúde. A única que sobreviveu no Ocidente pós-cristão.
Lamento. Mas não desisto. E da próxima vez que aterrar em Nova York, prometo fumar um cigarro no meio de Times Square, ao mesmo tempo que me alivio num poste. Pode ser que haja um desconto para quem comete dois crimes de uma vez. Ou três. Porque as multas serão pagas com o dinheiro das esmolas.
8 ou 80!
Esta é uma análise interessante, apesar de eu nunca concordar com a idéia de misturar estado e religião, porque neste contexto há o desrespeito ao credo das minorias, portanto deixa de ser democrático e muito menos laico. Pode ser que vingue por algum tempo, mas não acredito que os países árabes que fazem parte deste magnífico levante vão querer sair da tirania para a teocracia.
Folha de São Paulo
07/02/2011
Clóvis Rossi
Islã não pode ser o judeu do século 21
O maior erro que o Ocidente poderia cometer, em função das revoltas no mundo árabe/muçulmano, é transformar o islamismo no século 21 nos judeus do século 20, vítimas de um processo de aniquilação que é uma das grandes manchas da história da humanidade.
Cada vez há mais análises dizendo que "essa gente" não tem direito a querer a democracia porque basta que a tenham para que votem, por exemplo, no Hamas (Movimento de Resistência Islâmica), que controla hoje a faixa de Gaza.
Na superfície dos fatos, é até verdade: o Hamas de fato ganhou as eleições, não na primeira mas na segunda oportunidade que tiveram para disputá-las em Gaza. Mas qualquer análise honesta teria que fazer a pergunta seguinte: por quê o Hamas ganhou?
Por quê todos os habitantes de Gaza são terroristas em potencial? Se o fossem de fato, Israel provavelmente já teria sofrido dores muito mais profundas.
O Hamas ganhou porque oferece serviços sociais e um mínimo de horizonte a uma população confinada a um gueto.
É o que oferece também a Irmandade Muçulmana no Egito, o mais antigo movimento islâmico do planeta.
Cobrem, ambos, carências (ou inexistência) dos Estados, inclusive o de Israel, que se recusa a permitir que os palestinos tenham um país minimamente viável.
Além disso, há vozes, no Ocidente, que lamentam que "uma das mais mal-relatadas histórias do século 20 é a enorme penetração das melhores ideias políticas do Ocidente --democracia e liberdade individual-- na consciência muçulmana".
Autor da frase, em artigo para o "NY Times", Reuel Marc Gerecht, pesquisador-sênio da Fundação para a Defesa das Democracias e ex-especialista nas missões clandestinas da CIA no Oriente Médio.
Mais: "Homens e mulheres de fé, que celebram (ainda que nem sempre sigam rigorosamente) a Sharia [lei islâmica] abraçam crescentemente a subversiva ideia de que só é legítima a liderança política eleita".
Parece muito mais sensato dar uma chance, que a revolta egípcia oferece, a uma confluência de civilizações do que promover um "pogrom" anti-islâmico que tornaria a ideia reacionária de "choque de civilizações" uma profecia que se auto-cumpre.
Folha de São Paulo
07/02/2011
Clóvis Rossi
Islã não pode ser o judeu do século 21
O maior erro que o Ocidente poderia cometer, em função das revoltas no mundo árabe/muçulmano, é transformar o islamismo no século 21 nos judeus do século 20, vítimas de um processo de aniquilação que é uma das grandes manchas da história da humanidade.
Cada vez há mais análises dizendo que "essa gente" não tem direito a querer a democracia porque basta que a tenham para que votem, por exemplo, no Hamas (Movimento de Resistência Islâmica), que controla hoje a faixa de Gaza.
Na superfície dos fatos, é até verdade: o Hamas de fato ganhou as eleições, não na primeira mas na segunda oportunidade que tiveram para disputá-las em Gaza. Mas qualquer análise honesta teria que fazer a pergunta seguinte: por quê o Hamas ganhou?
Por quê todos os habitantes de Gaza são terroristas em potencial? Se o fossem de fato, Israel provavelmente já teria sofrido dores muito mais profundas.
O Hamas ganhou porque oferece serviços sociais e um mínimo de horizonte a uma população confinada a um gueto.
É o que oferece também a Irmandade Muçulmana no Egito, o mais antigo movimento islâmico do planeta.
Cobrem, ambos, carências (ou inexistência) dos Estados, inclusive o de Israel, que se recusa a permitir que os palestinos tenham um país minimamente viável.
Além disso, há vozes, no Ocidente, que lamentam que "uma das mais mal-relatadas histórias do século 20 é a enorme penetração das melhores ideias políticas do Ocidente --democracia e liberdade individual-- na consciência muçulmana".
Autor da frase, em artigo para o "NY Times", Reuel Marc Gerecht, pesquisador-sênio da Fundação para a Defesa das Democracias e ex-especialista nas missões clandestinas da CIA no Oriente Médio.
Mais: "Homens e mulheres de fé, que celebram (ainda que nem sempre sigam rigorosamente) a Sharia [lei islâmica] abraçam crescentemente a subversiva ideia de que só é legítima a liderança política eleita".
Parece muito mais sensato dar uma chance, que a revolta egípcia oferece, a uma confluência de civilizações do que promover um "pogrom" anti-islâmico que tornaria a ideia reacionária de "choque de civilizações" uma profecia que se auto-cumpre.
Tramóias
Ah, quer dizer que é assim? Israel e Estados Unidos decidem entre sí quem vai governar o Egito? Tudo combinadinho? E a democracia que se dane? Alguém se deu ao trabalho de perguntar ao povo egípcio se eles querem Ali Suleiman como presidente? Acho que não, hein! Quem é que vai querer colocar o carrasco do Mubarak no poder? Trocar seis por meia dúzia? Ainda bem que o Assange inventou o Wikileaks! Só assim a gente fica sabendo das tramóias sobre o Oriente Médio. E por falar nisso, por que é que não apareceu nenhuma correspondência entre os americanos e israelenses sobre as negociações secretas com os palestinos? Alguém sabe me responder esta pergunta? Ou será que só o The Guardian teve este privilégio? Hummm...que dúvida!
O Globo
08/02/2011
Israel prefere Suleiman para suceder Mubarak no Egito, dizem documentos
Chefe de inteligência foi nomeado vice-presidente em meio a crise política.
Ele ajuda a mediar a crise no Oriente Médio e tem bom trânsito com Israel.
Da Reuters
O governo de Israel considerava havia bastante tempo o recém-nomeado vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, seu sucessor preferido para o presidente do país, Hosni Mubarak, de acordo com mensagens diplomáticas dos EUA divulgadas pelo site WikiLeaks.
'Deferimos para a Embaixada no Cairo para análise dos cenários da sucessão no Egito, mas não há questão de que Israel está mais confortável com a perspectiva de Soliman', afirma a mensagem escrita pela embaixada dos EUA em Tel Aviv em 2008, usando uma grafia própria do nome do vice-presidente egípcio.
Suleiman, chefe de inteligência do Egito desde 1993, tem sido um visitante frequente de Israel e mediador do conflito com os palestinos.
Os EUA deram apoio aos esforços de transição lançados por Suleiman, nomeado por Mubarak para o cargo de vice-presidente após gigantescos protestos pedindo pelo fim do regime do presidente de 82 anos, que há 30 está no poder.
O vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, fala na TV estatal em 3 de fevereiro
A mensagem diplomática, datada de 29 de agosto de 2008, resume conversas que o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, manteve com líderes egípcios na cidade portuária de Alexandria.
Ela cita um dos conselheiros de Barak, David Hacham, que teria afirmado que a delegação israelense estava chocada com a aparência idosa de Mubarak e com sua voz cansada.
'Hacham notou que os israelenses acreditam que Soliman deve servir ao menos como presidente interino caso Mubarak morra ou fique incapacitado', afirma a mensagem, que acrescenta que Hacham foi 'só elogios' para Suleiman.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, se disse esperançoso de que qualquer novo governo no Egito mantenha a paz firmada com Israel em 1979.
O Globo
08/02/2011
Israel prefere Suleiman para suceder Mubarak no Egito, dizem documentos
Chefe de inteligência foi nomeado vice-presidente em meio a crise política.
Ele ajuda a mediar a crise no Oriente Médio e tem bom trânsito com Israel.
Da Reuters
O governo de Israel considerava havia bastante tempo o recém-nomeado vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, seu sucessor preferido para o presidente do país, Hosni Mubarak, de acordo com mensagens diplomáticas dos EUA divulgadas pelo site WikiLeaks.
'Deferimos para a Embaixada no Cairo para análise dos cenários da sucessão no Egito, mas não há questão de que Israel está mais confortável com a perspectiva de Soliman', afirma a mensagem escrita pela embaixada dos EUA em Tel Aviv em 2008, usando uma grafia própria do nome do vice-presidente egípcio.
Suleiman, chefe de inteligência do Egito desde 1993, tem sido um visitante frequente de Israel e mediador do conflito com os palestinos.
Os EUA deram apoio aos esforços de transição lançados por Suleiman, nomeado por Mubarak para o cargo de vice-presidente após gigantescos protestos pedindo pelo fim do regime do presidente de 82 anos, que há 30 está no poder.
O vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, fala na TV estatal em 3 de fevereiro
A mensagem diplomática, datada de 29 de agosto de 2008, resume conversas que o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, manteve com líderes egípcios na cidade portuária de Alexandria.
Ela cita um dos conselheiros de Barak, David Hacham, que teria afirmado que a delegação israelense estava chocada com a aparência idosa de Mubarak e com sua voz cansada.
'Hacham notou que os israelenses acreditam que Soliman deve servir ao menos como presidente interino caso Mubarak morra ou fique incapacitado', afirma a mensagem, que acrescenta que Hacham foi 'só elogios' para Suleiman.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, se disse esperançoso de que qualquer novo governo no Egito mantenha a paz firmada com Israel em 1979.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
O certo é incerto!
Nos países árabes onde se instalou a onda de manifestos, ora chamada "O Grito", ora chamada "A Ira", generalizou-se a vontade por mudanças estruturais na política destes países. Tanto no Egito, como no Yemen, na Jordânia, na Líbia, na Tunísia, na Argélia, no Marrocos e em outros que estão começando a se empolgar, as pessoas estão indo com muita sede ao pote. Tudo bem, entendo que é uma sede que vem de décadas de repressão, mas é uma sede desgovernada. Parece aquela propaganda da soda limonada "Teen", que nem existe mais, onde o cara anda dias pelo deserto e finalmente pára numa birosca e pede um refrigerante ao invés de pedir água para matar a sede.
É preocupante, porque estas pessoas querem acabar com a tirania dos governos atuais, querem se livrar da repressão, querem ter seus direitos civís respeitados e querem transparência com o dinheiro de seus impostos, mas ao mesmo tempo, estas mesmas pessoas nunca tiveram contato com um regime democrático baseado no respeito ao cidadão e na liberdade individual, então ficam as perguntas: Será que os regimes que serão estabelecidos respeitarão estas reivindicações ou serão conduzidos / liderados por pessoas que buscam apenas o poder e nada mais, tal qual seus antecessores? Os Manifestantes serão capazes de conduzir uma nova onda de manifestos, caso os novos governos não cumpram o que prometeram? Os grupos islâmicos tem domínio da situação a ponto de tomar o poder e finalmente realizar o sonho da "Grande Nação Islâmica"? Caso haja consenso sobre a realização de eleições democráticas e diretas, as pessoas saberão escolher seus novos líderes ou apenas ficarão deslumbrados com a idéia de liberdade colocando no poder aquele que teve mais eloquência?
Não estou desprezando a capacidade de julgamento destas pessoas, apenas estou conjecturando um futuro próximo, caso as lideranças tradicionais caiam por terra. A complexidade das correntes ideológicas, religiosas e pragmáticas, ditas oposicionistas, que conduzem este processo, me leva a tais questionamentos, afinal Hitler foi um líder cativante que conquistou a Alemanha com seus discursos históricos e eufóricos, tal qual Stalin, Arafat, Kennedy e outros tantos. Nem por isso foram capazes de conduzir um processo democrático respeitando as liberdades individuais.
Outra suposição bastante vaga é o estabelecimento temporário de um regime anárquico nestes países e neste caso, todos sairão perdendo, já que estas pessoas nunca tiveram contato real com a liberdade a ponto de saber como usa-la.
Não tenho como prever o futuro próximo destes países, mas o ponto positivo é que a mudança está começando e apesar de prenunciar um preço muito alto para o alcance das liberdades individuais, percebo que esta nova geração está disposta a pagar este preço do que conviver com mais algumas décadas de tirania e poder herdado de tirano pai para tiraninho filho.
É preocupante, porque estas pessoas querem acabar com a tirania dos governos atuais, querem se livrar da repressão, querem ter seus direitos civís respeitados e querem transparência com o dinheiro de seus impostos, mas ao mesmo tempo, estas mesmas pessoas nunca tiveram contato com um regime democrático baseado no respeito ao cidadão e na liberdade individual, então ficam as perguntas: Será que os regimes que serão estabelecidos respeitarão estas reivindicações ou serão conduzidos / liderados por pessoas que buscam apenas o poder e nada mais, tal qual seus antecessores? Os Manifestantes serão capazes de conduzir uma nova onda de manifestos, caso os novos governos não cumpram o que prometeram? Os grupos islâmicos tem domínio da situação a ponto de tomar o poder e finalmente realizar o sonho da "Grande Nação Islâmica"? Caso haja consenso sobre a realização de eleições democráticas e diretas, as pessoas saberão escolher seus novos líderes ou apenas ficarão deslumbrados com a idéia de liberdade colocando no poder aquele que teve mais eloquência?
Não estou desprezando a capacidade de julgamento destas pessoas, apenas estou conjecturando um futuro próximo, caso as lideranças tradicionais caiam por terra. A complexidade das correntes ideológicas, religiosas e pragmáticas, ditas oposicionistas, que conduzem este processo, me leva a tais questionamentos, afinal Hitler foi um líder cativante que conquistou a Alemanha com seus discursos históricos e eufóricos, tal qual Stalin, Arafat, Kennedy e outros tantos. Nem por isso foram capazes de conduzir um processo democrático respeitando as liberdades individuais.
Outra suposição bastante vaga é o estabelecimento temporário de um regime anárquico nestes países e neste caso, todos sairão perdendo, já que estas pessoas nunca tiveram contato real com a liberdade a ponto de saber como usa-la.
Não tenho como prever o futuro próximo destes países, mas o ponto positivo é que a mudança está começando e apesar de prenunciar um preço muito alto para o alcance das liberdades individuais, percebo que esta nova geração está disposta a pagar este preço do que conviver com mais algumas décadas de tirania e poder herdado de tirano pai para tiraninho filho.
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Do Próprio Bolso
Para os amantes da história da boa música e das atualidades do cenário cultural e musical de Brasília e do mundo, visitem o site do meu querido amigo Mário Pacheco:
http://www.dopropriobolso.com.br/
Vocês vão se surpreender!
http://www.dopropriobolso.com.br/
Vocês vão se surpreender!
Reviravolta!
Mesmo com todos os bloqueios de internet, celular, noticiários da tv a cabo, os egípcios finalmente criaram coragem e foram às ruas colocar para fora tudo o que estava guardado em seus corações durante anos e anos de tirania do governo Mubarak.
Segundo Navi Pillay, Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, os números extra oficiais indicam a morte de 300 pessoas desde 25 de janeiro do ano corrente, além de cerca de 3 mil feridos e um número inestimável de pessoas presas pela polícia de repressão.
A história nos ensina que para haver mudanças, é necessário que alguns paguem com a própria vida. Será que em pleno século XXI ainda é necessário pagar com a vida para que um cidadão tenha os seus direitos legítimos reconhecidos?
São tantas as informações à respeito das rebeliões no mundo árabe, que fica difícil sintetizar o assunto com objetividade, mas não me escapou o discurso inflamado de Barack Obama defendendo o adiantamento das eleições presidenciais no Egito e a defesa do acordo de paz entre o Egito e Israel. Aos olhos dos leigos, parece que Obama está preocupadíssimo com o bem estar dos egípcios, mas o que realmente o preocupa é manter o envio do petróleo roubado do Iraque através do oleoduto egípcio que dá acesso ao Mediterrâneo. Se este acesso for bloqueado, os Estados Unidos da América páram e aí urge a necessidade de invadir o Irã, para garantir o fornecimento de petróleo aos filhotes do Tio Sam.
A Irmandade Muçulmana convoca seus seguidores ao martírio em nome do nacionalismo egípcio, mas o que eles querem de fato é tomar o poder e transformar o Egito num segundo Irã. Acontece que a juventude egípcia, apesar de religiosa em sua maioria, está de saco cheio de líderes que usam o Islã como bandeira para tomar o poder e estão conscientes de que isto só representará um retrocesso em suas reivindicações. É como tirar o lobo mau do poder e colocar uma naja em seu lugar. O lobo mau quer enriquecer às custas da desgraça do povo egípcio, mas a naja quer o controle das mentes deste mesmo povo, o que é bem mais perigoso.
O lado bom de tudo isso é que a onda está tomando conta do mundo árabe e as pessoas estão, finalmente, entendendo que a união faz a força. O berço da civilização humana não pode continuar sucumbindo aos desmandos de meia dúzia de tiranos, que por muitos e muitos anos encheram seus cofres com o sangue de cidadãos honestos e trabalhadores, que buscam um pouco de conforto para suas famílias.
Estava passando da hora de recuperar este nacionalismo árabe e mostrar à estes FDPs que temos sangue nas veias e sabemos lutar pelos nossos direitos.
Enquanto isso, Israel e os americanos estão borrando as calças com medo das consequências destes movimentos históricos.
Viva a luta pela liberdade!
Segundo Navi Pillay, Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, os números extra oficiais indicam a morte de 300 pessoas desde 25 de janeiro do ano corrente, além de cerca de 3 mil feridos e um número inestimável de pessoas presas pela polícia de repressão.
A história nos ensina que para haver mudanças, é necessário que alguns paguem com a própria vida. Será que em pleno século XXI ainda é necessário pagar com a vida para que um cidadão tenha os seus direitos legítimos reconhecidos?
São tantas as informações à respeito das rebeliões no mundo árabe, que fica difícil sintetizar o assunto com objetividade, mas não me escapou o discurso inflamado de Barack Obama defendendo o adiantamento das eleições presidenciais no Egito e a defesa do acordo de paz entre o Egito e Israel. Aos olhos dos leigos, parece que Obama está preocupadíssimo com o bem estar dos egípcios, mas o que realmente o preocupa é manter o envio do petróleo roubado do Iraque através do oleoduto egípcio que dá acesso ao Mediterrâneo. Se este acesso for bloqueado, os Estados Unidos da América páram e aí urge a necessidade de invadir o Irã, para garantir o fornecimento de petróleo aos filhotes do Tio Sam.
A Irmandade Muçulmana convoca seus seguidores ao martírio em nome do nacionalismo egípcio, mas o que eles querem de fato é tomar o poder e transformar o Egito num segundo Irã. Acontece que a juventude egípcia, apesar de religiosa em sua maioria, está de saco cheio de líderes que usam o Islã como bandeira para tomar o poder e estão conscientes de que isto só representará um retrocesso em suas reivindicações. É como tirar o lobo mau do poder e colocar uma naja em seu lugar. O lobo mau quer enriquecer às custas da desgraça do povo egípcio, mas a naja quer o controle das mentes deste mesmo povo, o que é bem mais perigoso.
O lado bom de tudo isso é que a onda está tomando conta do mundo árabe e as pessoas estão, finalmente, entendendo que a união faz a força. O berço da civilização humana não pode continuar sucumbindo aos desmandos de meia dúzia de tiranos, que por muitos e muitos anos encheram seus cofres com o sangue de cidadãos honestos e trabalhadores, que buscam um pouco de conforto para suas famílias.
Estava passando da hora de recuperar este nacionalismo árabe e mostrar à estes FDPs que temos sangue nas veias e sabemos lutar pelos nossos direitos.
Enquanto isso, Israel e os americanos estão borrando as calças com medo das consequências destes movimentos históricos.
Viva a luta pela liberdade!
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