terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

8 ou 80!

Esta é uma análise interessante, apesar de eu nunca concordar com a idéia de misturar estado e religião, porque neste contexto há o desrespeito ao credo das minorias, portanto deixa de ser democrático e muito menos laico. Pode ser que vingue por algum tempo, mas não acredito que os países árabes que fazem parte deste magnífico levante vão querer sair da tirania para a teocracia.

Folha de São Paulo
07/02/2011

Clóvis Rossi

Islã não pode ser o judeu do século 21


O maior erro que o Ocidente poderia cometer, em função das revoltas no mundo árabe/muçulmano, é transformar o islamismo no século 21 nos judeus do século 20, vítimas de um processo de aniquilação que é uma das grandes manchas da história da humanidade.
Cada vez há mais análises dizendo que "essa gente" não tem direito a querer a democracia porque basta que a tenham para que votem, por exemplo, no Hamas (Movimento de Resistência Islâmica), que controla hoje a faixa de Gaza.
Na superfície dos fatos, é até verdade: o Hamas de fato ganhou as eleições, não na primeira mas na segunda oportunidade que tiveram para disputá-las em Gaza. Mas qualquer análise honesta teria que fazer a pergunta seguinte: por quê o Hamas ganhou?
Por quê todos os habitantes de Gaza são terroristas em potencial? Se o fossem de fato, Israel provavelmente já teria sofrido dores muito mais profundas.
O Hamas ganhou porque oferece serviços sociais e um mínimo de horizonte a uma população confinada a um gueto.
É o que oferece também a Irmandade Muçulmana no Egito, o mais antigo movimento islâmico do planeta.
Cobrem, ambos, carências (ou inexistência) dos Estados, inclusive o de Israel, que se recusa a permitir que os palestinos tenham um país minimamente viável.
Além disso, há vozes, no Ocidente, que lamentam que "uma das mais mal-relatadas histórias do século 20 é a enorme penetração das melhores ideias políticas do Ocidente --democracia e liberdade individual-- na consciência muçulmana".
Autor da frase, em artigo para o "NY Times", Reuel Marc Gerecht, pesquisador-sênio da Fundação para a Defesa das Democracias e ex-especialista nas missões clandestinas da CIA no Oriente Médio.
Mais: "Homens e mulheres de fé, que celebram (ainda que nem sempre sigam rigorosamente) a Sharia [lei islâmica] abraçam crescentemente a subversiva ideia de que só é legítima a liderança política eleita".
Parece muito mais sensato dar uma chance, que a revolta egípcia oferece, a uma confluência de civilizações do que promover um "pogrom" anti-islâmico que tornaria a ideia reacionária de "choque de civilizações" uma profecia que se auto-cumpre.

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