quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Até as Oliveiras?

O Estado de S. Paulo
Israel ataca árvores na Cisjordânia
Data: 08/10/2009
Crédito: Gilles Lapouge

Todos os anos, os árabes da Cisjordânia festejam quando as azeitonas estão maduras e começa a colheita. Hoje, contudo, a festa virou uma guerra, a guerra das oliveiras, sobretudo nas proximidades de Yitzhar, uma colônia judaica ultraortodoxa considerada a mais lunática de toda a Cisjordânia.Na semana passada, várias propriedades palestinas receberam visitas noturnas. No dia seguinte, elas exibiam um espetáculo de desolação. Jaziam por terra centenas de oliveiras com os galhos quebrados e raízes para o alto. Os troncos haviam sido cortados verticalmente, o que elimina qualquer possibilidade de salvar as árvores.A raiva dos ultraortodoxos se explica pelas pressões que o presidente Barack Obama vem exercendo sobre Israel para ter um congelamento total das colônias. Enfurecidos, os colonos israelenses cortaram as oliveiras. Como se a loucura dos homens devesse se voltar agora contra a própria natureza, contra essas oliveiras, que não só desempenham um importante papel na economia como são portadoras de um faustoso simbolismo sagrado desde os tempos bíblicos.Não foi a primeira vez que o ódio inesgotável que israelenses e palestinos se consagram mutuamente incidiu, além dos homens, contra a própria natureza. Às vezes, as ações raivosas voltam-se, ainda mais estranhamente, contra a própria terra. Em 1998, descobriu-se curiosas manobras de camponeses israelenses perto da fronteira com o Líbano. A cada noite, os israelenses da vila de Adeissis se aproveitavam da escuridão para cruzar a fronteira carregando cestos. Chegando ao outro lado, enchiam seus cestos com terra libanesa, cruzavam a fronteira de volta e espalhavam essas pequenas porções do Líbano em Israel.O governo libanês se aborreceu. É compreensível. Nada mais irritante do que ver sua terra ir para um outro país na surdina, em centenas de pequenos cestos. Era preciso reagir, sob pena de que, após alguns séculos de vai e vem de cestos sobre a fronteira, toda a terra libanesa fosse passada para Israel, e o Líbano descobrisse, um belo dia, que já não existia.Essa maneira de utilizar a natureza, as argilas e os calcários na batalha dos homens é engenhosa. Ela é velhaca, mas pouco sanguinária. Uma "guerra dos cestos" é, de qualquer forma, menos horrível do que uma guerra de canhões.Por mais censurável que sejam, os israelenses da vila de Adeissis se contentaram em mudar a terra de lugar, sem destruí-la. A ira que hoje se voltou contra as magníficas oliveiras dos palestinos da Cisjordânia é mais grave. Os homens alistaram e agrediram, em seus delírios, um dos mais belos tesouros da terra: as árvores.Gilles Lapouge é correspondente em Paris

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