sexta-feira, 13 de setembro de 2013

LAURA, MINHA LAURA

Talvez a correria do dia a dia não me permita dizer o quanto eu a amo, mas amo com todas as minhas forças. Não somente porque é minha filha, mas porque a admiro e respeito. Muito muito mesmo.
Ela é a minha referência quando se trata dos assuntos da alma. Sempre ligada ao ser e não ao ter, Laura é uma daquelas pessoas raras, que cultiva dentro de si os valores mais elevados da alma humana.
Quando pequenina, via fadas e conversava com elas. Chegou a me expulsar do quarto por ter assustado uma fada que veio lhe dar um beijinho de boa noite. Meu beijinho acabou ficando em segundo plano. Fazer o que? Fadas tem preferência!
Também adorava corujas e ficava fascinada ao vê-las no muro de casa. Contava todos os dias: “uma coluza, tlês coluzas, nove, dez”. Traduzindo: Viu um monte de corujas. E ria muito! Ria feliz!
O que dizer então dos bichos abandonados na rua. Ela queria levar todos para casa e cuidar deles. Por conta desse impulso, gastei fortunas tratando bichinhos machucados e famintos. Sem falar naqueles que acabaram se mudando de mala e cuia pra nossa casa. Já quebramos recordes em número de gatos. E de pintinhos e codornas.
Ela é assim! Dá valor às pequenas coisas, aos pequenos gestos, aos momentos, às situações. Laura não é ligada à modismos, consumo, imagem e nem se importa muito com as opiniões alheias. Aliás, taí uma característica forte na mocinha. Ela tem opiniões próprias e bem sólidas sobre muita coisa e costuma ser a líder da turma, impondo respeito pelo que é. E ainda tem uma legião de fãs, fiéis e seguidores. Quando falta à aula, a turminha de amigos de sente abandonada e desprotegida. Por que será?
Já levei muitas broncas dessa mocinha. Tantas que já nem sei. Por ser muito rígida em termos de valores e princípios, ela não admite deslizes, mesmo que pequenos. Se eu fizer uma piada de mal gosto, logo ouço a famosa palavrinha: “Mãe!!!!”. Isso significa em Laurês: “Você não pode dizer esse tipo de coisa” ou “Retire o que você disse” ou “Isso é coisa que se diga na frente da sua filha?”.
Laura é vivaz, risonha, alegre, firme, positiva, sonhadora, empreendedora, exemplar, transparente, sedutora, esperta, dorminhoca, preguiçosa, desligada e ligada ao mesmo tempo, perseverante e teimosa. Ela é um pouco de tudo. Ela é um universo!
Laura é charmosa e estilosa! Está sempre inventando moda e sendo copiada. No maternal, usava o cabelo cheio de pequenos coques (molinhas, segundo ela), saia xadrez e botas. Todas as menininhas passaram a copia-la. Na escola, mostrou seu talento para desenho e para contar estórias. E era seguida por uma legião de amigos. Depois veio a mania por mangás (aqueles quadrinhos japoneses..hehehe) e mais uma vez criou uma legião de seguidores.
Agora virou Otaku, só anda com orelhas de gato e um penteado que só ela sabe como se faz. E para piorar, resolveu aprender a falar japonês. Sozinha! Bom, a gente só consegue entender o que ela diz quando ela disponibiliza a legenda. Quando não está a fim, somos xingados sem entender.
Ela é surpreendente, desde a concepção! É verdade! Ela não estava nos meus planos! Quando percebi, já havia um ser crescendo dentro de mim. Foi a mais linda das surpresas! A mais gratificante e a cada dia que passa agradeço à Deus pelo presente maravilhoso que me foi reservado.
Laura é esta dádiva! Um presente dos céus! A minha paz e o meu amor incondicional!

Amo você por tudo e em todos os momentos!

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Tudo junto e misturado!

Não sei se abordo um único assunto ou se falo sobre um monte de coisas que me vem à cabeça.
Hoje li uma matéria sobre o aumento dos roubos a casas em Brasília. Que novidade! Brasília já deixou de ser aquela cidade linda e tranquila faz tempo! Fora os roubos a casas, há os assaltos em sinais de trânsito, em estacionamentos, na rua e em qualquer lugar onde a gente dê bobeira. Fora os sequestros relâmpago, assassinatos por motivos banais, estupros e brigas no trânsito. É tanta violência que eu cansei até de enumerar! E ainda tem gente que acha que bandido tem conserto.
Me perdoem a minha intolerância, mas acho que a punição severa é o único caminho para conter a violência no Brasil. À partir do momento em que o criminoso for tratado como criminoso e ser punido adequadamente pelo crime que cometeu, os bandidos vão pensar duas vezes antes de cometer um crime. Já pensou se esses criminosos fossem usados para construir estradas, estádios, parques e afins? Já pensaram que a redução de pena deveria ser por merecimento em troca de trabalhos prestados à sociedade? Por que os bandidos tem que ficar enfurnados dentro das cadeias dormindo, falando ao celular e tramando o próximo crime? Coloquem eles pra trabalhar e pra compensar o tal de auxílio reclusão que é pago à família do meliante. Quero ver, se depois de adotar medidas como estas, se vai ter tanta gente assim se dispondo a entrar para a vida do crime!
Sim, estou mal humorada!
Deve ser minha alergia ao meu aniversário! Descobri que tenho alergia a ficar mais velha. Que saco isso! Não sei quem foi o fdp que disse que o auge da vida é a maturidade. Seja quem for, é um babaca! Não sei qual é a vantagem de ficar mais velho. Fora o tronco que vai ficando mais grosso e a cintura que toma proporções de um kibe, ainda tem o efeito retardado daquelas pancadas que a gente levou na juventude e que agora resolveram dar o troco, como o meu joelho que fica latejando toda vez que esfria. PQP! Esse foi o resultado de andar de skate na Jordânia, de levar tombos de bicicleta em Uruguaiana, de um acidente de mobilete em Brasília e de inúmeras pancadas na mesa do escritório, quando o chefe chama e eu estou pendurada no Facebook! Culpa é uma merda!
Sem falar que estou indignada com o FHC que não para de falar besteiras, de estar revoltada com rumos das obras da copa do mundo, de estar revoltada com as freiras do Colégio Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Odeio freiras! Aquelas mulheres tem o coração gelado e não se comovem com nada! Nada mesmo! A minha teoria para as mulheres que resolvem virar freiras é que elas não tiveram nenhuma outra opção na vida, porque ninguém as quis, porque são rancorosas e porque precisam de um disfarce pra esconder tanta maldade e tanta hipocrisia. Não tem outra explicação!
Falando em maldade e hipocrisia, li na página do Lattuf um comentário interessante. Ele perguntou por que os países ocidentais tem toda a contabilidade das armas que o exército da Síria possui e recebe da Russia e do Irã, mas em compensação ninguém sabe qual é o poderio dos chamados "rebeldes", que recebem armamento de alguns países da União Européia e dos Estados Unidos da América? Bem pertinente a pergunta! Complementando o comentário, hoje eu estava assistindo a Globo News e achei bem interessante a forma como a apresentadora do jornal relatou a repressão às manifestações na Turquia (queridinha do ocidente), dizendo que o governo turco pediu desculpas à população pelo "exagero" da polícia turca na repressão às manifestações contra o governo. Logo em seguida, a mesma apresentadora noticia que o exército do "ditador Bashar Al Assad" esmagou os "rebeldes" na cidade de Al Kussair. Mesmo depois de todos os relatos de que estes rebeldes são extremistas da Al Nusra, braço armado da Al Qaeda, e que cometeram assassinatos em massa nesta mesma cidade, a imprensa insiste em chama-los de rebeldes e trata-los como coitadinhos. Podemos chamar de rebeldes os sírios que lutam contra o regime atual e que reivindicam maior participação na vida política do país, mas chamar de rebeldes extremistas que sequer são sírios e que foram "importados" para a Síria para estabelecer o caos no país? Aí já é demais! O pior é que estes extremistas acham que estão lutando contra Israel e nem sabem em que país estão e nem porque. A maioria deles nem fala árabe e são pagos para matar e somente matar. E ainda tem gente que acredita que a luta que se trava na Síria é pela democratização do país. Fala sério!
Está parecendo os judeus querendo fazer o mundo acreditar que a culpa da paralisação do processo de paz é dos palestinos. Eles continuam a colonização dos territórios palestinos, derrubam casas, matam pessoas, queimam plantações, prendem crianças, sabotam as negociações e a culpa é sempre dos palestinos, segundo os judeus e a imprensa mundial. E tem gente que acredita na imprensa!
Eu tive algumas experiências interessantes com alguns jornalistas, principalmente os iniciantes na profissão, que vieram me entrevistar algumas vezes. Uma delas foi uma menina recém formada que não entendia a diferença entre judeu, cristão e muçulmano. Outra que não sabia nada sobre a história da Palestina e outra que achava que os palestinos tinha invadido Israel. Quanto aos jornalistas mais experientes, estes tem uma formação baseada no que já foi definido pelos judeus sionistas como História e falam com propriedade sobre "fatos" históricos que de fatos não tem nada. Um deles chegou a me dizer que a Palestina nunca existiu e que era uma colônia britânica antes de ser "entregue" à Israel. Este com certeza nunca leu a bíblia e nunca se deu ao trabalho de se aprofundar na história da humanidade. Fazer o que?
Ah, cansei! Tô de saco cheio de tanta coisa errada! Vou me recolher à minha insignificância por hoje e me entregar à uma bela dor de dente decorrente de um tratamento de canal que fiz ontem. Isso dói pra cacete!!!

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Passivos

Passividade. Taí uma palavra que me incomoda. Mesmo. Com tantos acontecimentos no mundo, no país, na cidade, no bairro, em casa, vejo pessoas que apenas observam e ignoram os fatos, como se só o seu mundinho importasse. Como se mais nada fosse importante. 
Há pessoas morrendo na Síria, na Palestina, no Mali, em São Paulo, em Brasília, no Guará, em Planaltina, no bairro ao lado do meu condomínio, vítimas de uma violência desenfreada e descabida, mas todos os protestos de restringem a um "post" no Facebook ou a uma expressão vazia de indignação.
Os norte-coreanos ameaçam jogar uma bomba nuclear nos americanos, os americanos ameaçam o Irã, que ameaça Israel, que ameaça os palestinos e as pessoas assistem aos telejornais e soltam um: "Que absurdo!" e pronto. É isso! Só isso!
Bocas de lobo engolem crianças em Planaltina, viciados em crack matam um pai de família a pancadas  no Guará, policiais são assassinados em São Paulo por quadrilhas, taxistas assassinados por bandidos em todo o lugar do Brasil, a polícia atira por engano e mata um universitário em Taguatinga, mulheres e turistas são assaltadas e estupradas dentro de vans no Rio de Janeiro, uma professora é morta no Parque da Cidade por um delinquente em troca de R$ 15,00 e nós só assistimos e dizemos: "Que absurdo!" e deu! 
Nos contentamos em não estacionar o carro num lugar ermo, em não andar em locais perigosos, em não dar bandeira com assessórios e celulares chamativos e pronto. Evitamos enfrentar o problema. Assim é mais fácil. De vez em quando organizamos um protestozinho insignificante aqui e ali, que os políticos assistem da janela de seus gabinetes, dando risadas e fazendo apostas sobre quanto tempo "aqueles desgraçados" vão aguentar debaixo do sol ou da chuva. Eu ouvi, pessoalmente, estes comentários de alguns políticos. 
Quanto ao nosso sentimento universal, este está para lá de abandonado. Quem é que liga para as crianças na Palestina, na Síria, no Mali, na Etiópia, no Burundi ou no Congo? Quem é que se preocupa com os cristãos assassinatos pelos extremistas muçulmanos na Síria ou com os afegãos sitiados entre as forças americanas e os talebãs? Já temos tantos problemas, não é mesmo?
Daí vem a famosa pergunta: "E o que eu posso fazer?". Se você espera que eu diga: "Proteste!", se enganou! Eu digo que cada um deve usar as armas que tem: Voto, solidariedade, trabalho voluntário, doações, conscientização, informação, um tempinho do seu dia e sim, o uso das redes sociais como ferramenta de atuação política e social pelo bem de todos. Uma atitude positiva neste sentido, a cada dia, faria uma diferença enorme ao final de um ano. 
Não dê esmola no semáforo à um bêbado ou um viciado em crack. Não acredite em tudo o que os telejornais falam, compare as notícias com outras fontes. Não compactue com a violência, exija seu direito através do voto e se seu candidato não cumprir o que prometeu, cobre dele ou exija a anulação de seu voto.  Se as crianças estão morrendo em outros países, organize-se com outras pessoas que queiram ajudar e mande doações, remédios, roupas, alimentos e água mineral. Você não imagina a diferença que vai fazer na vida delas. E tente não ser apenas mais um a assistir às atrocidades do mundo de forma passiva.
Afinal, passividade é para quem não tem personalidade.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Vestido de Noiva

Parei ontem para escolher o meu modelo de vestido de noiva. Vi uma infinidade de modelos e me apaixonei por alguns. Muitas rendas, sedas, bordados, pedrarias, tules e materiais belíssimos. Tocaram meu coração mas não a minha alma. De todos os que vi, o único que foi capaz de tocar o meu coração e a minha alma ao mesmo tempo foi um vestido de noiva palestino, branco com bordados vermelhos em ponto cruz, uma faixa de cetim vermelha e um véu branco com crochê nas bordas. Perfeito!

Esse aí mesmo!
Eu sei que não se parece em nada com os vestidos de noiva tradicionais e nem tem todo aquele glamour e impacto causado por um vestido branco esvoaçante. Mas este tem a minha identidade, a minha origem, a minha história e desperta em mim a ternura de tempos em que via a minha mãe se esmerar em bordar, por meses a fio, vestidos para a minha avó, que os usava com muito orgulho nas ocasiões especiais. 
Também fizeram parte da minha infância na Jordânia, nos casamentos, quando as mulheres se orgulhavam de mostrar o bordado maior e mais largo em seus vestidos para provar que eram prendadas e legítimas bordadeiras palestinas. Quanto mais largo é o bordado, mais prendada é a mulher. E quanto mais cores tiver, mais caprichosa ela é. 
Minhas filhas quase enlouqueceram com a minha sugestão de usar um vestido assim. Querem ver a mãe num vestido tradicional de noiva. Nada de invenções! Minha filha Laura disse: "Será que daria para você esquecer a Palestina, pelo menos no dia do seu casamento?". Esquecer a Palestina? Como? A Palestina sou eu! A Palestina está em mim! Em cada um dos meus sentidos. Não há como esquecer a Palestina. Taí um pedido impossível de ser atendido. 
Posso até usar um vestido tradicional, mas ninguém tira a Palestina de mim. Ninguém! Amo a minha origem, o meu sangue, a minha história e a minha identidade. Não abro mão de nada que se refira à Palestina. Esta sou eu!

terça-feira, 26 de março de 2013

Lara, meu anjo, minha filha, minha vida!

Ficaria horas aqui escrevendo sobre os predicados de Lara e Laura. Talvez dias! São tantos que nem sei por onde começar.
Hoje é Aniversário da Lara. Minha garotinha completa 14 anos de idade e de muita emoção. Lara foi meu primeiro presente celestial. Um anjo bom que veio para colorir a minha vida.
Quando nasceu, chamou a atenção de toda a equipe do hospital pela brancura excessiva da pele, pelos olhos verdes arregalados e por uma juba moicana avermelhada no lugar do cabelo. Um espetáculo de bebê. Não tinha cara de joelho e nem o aspecto de um bebê recém nascido. Pelo contrário, nasceu com um olhar esperto, curioso e manhas de um bebê de um mês de idade.
Achei que tamanha esperteza dos primeiros momentos fosse só impressão de uma mãe bobona de primeira viagem. Mas não me enganei nem por um segundo.
Lara cresceu e surpreendeu. Primeiro pela beleza, já que suas feições tomaram proporções angelicais. Cabelos loiríssimos, cacheados nas pontas, olhos verdes brilhantes, pele alva como uma nuvem e uma risada pra lá de gostosa. Encantava a todos, próximos e distantes. Dava shows à parte com seu visual sempre exótico, primeiramente cor de rosa, depois colorido com jeans e por último preto.
De tão linda, as pessoas me pediam para parar e admira-la. Já chegaram a pensar que se tratava uma boneca, quando uma vez ficou parada, pensativa, num shopping. Uma mulher chegou a cutuca-la para ver se era de verdade. Não foi a única vez. Em alguns shows de rock, a mocinha deu seu show particular com seu visual gótico e com sua aura sempre reluzente, juntando pessoas à sua volta para perguntar sobre a cor do cabelo, os acessórios, a pele, a maquiagem, etc.
Lara é surpreendentemente inteligente. Além de ganhar, por duas vezes consecutivas, o prêmio nacional de redação do CGU, sempre foi aluna destaque nas escolas que frequentou. No jardim de infância, mostrou a que veio já que foi autodidata. Aprendeu a ler e escrever sozinha, identificando e juntando letrinhas. Também deixou suas professoras boquiabertas ao cantar uma música inteira do Renato Russo, sua primeira paixão musical, sem gaguejar. Isso antes de completar três anos. Aos quatro anos mostrou-se fera em matemática e desenho e aos cinco já criou os seus quadrinhos com a personagem Elisa, uma gatinha branquinha muito esperta.
Já foi indicada para a Escola Militar pelo destaque nas notas e ganhou uma bolsa de estudos numa renomada escola de Brasília pelo seu desempenho.
Se suas qualidades parassem por aí, já estaria muito bom, mas tem muito mais. Lara é amiga, companheira, leal, sensível, alegre, vívida e por que não dizer pacata. Mesmo sabendo de todos os seus predicados, esta mocinha age de forma simples, amigável, tolerante e sociável. Um docinho! Todos gostam dela, todos querem se aproximar dela, todos querem falar com ela, todos querem ser seus amigos, todos a admiram.
É claro que ela desperta inveja. Sem dúvida! Ela já passou por momentos complicados com isso. Já ouviu desaforos, já ouviu indiretas, já foi vitima de chacotas, enfim, enfrentou tudo o que uma garota como ela enfrentaria. A diferença é que ela sempre tirou de letra. Lara sabe olhar nos olhos das pessoas e identificar sentimentos. E sua tolerância e educação a fazem sobressair de qualquer situação difícil. Isso sem ser arrogante ou petulante. Sempre foi honesta com todos, até com aqueles que não suportam seu brilho.
Ela passou por uma fase cruel, onde a vaidade de menina falou mais alto, sofreu com uma anorexia, pagou o preço da vaidade, enfrentou todas as críticas inerentes ao seu estado, todos os olhares preconceituosos e falatórios maldosos. Mas, surpreendentemente, deu a volta por cima e esta aí mais linda do que nunca e mais saudável impossível.
Lara é uma pessoa obstinada. Sabe o que quer e como quer. Não mede esforços para alcançar seus objetivos e talento não lhe falta. Questionadora, está sempre à frente da sua turma. Nunca se conformou com idéias prontas e sempre acha que tem um jeito de melhorar as coisas. Perfeccionista aos extremos, disciplinada, organizada e mandona, está sempre querendo colocar ordem em tudo o que está à sua volta. Nisso, pessoas comuns como esta que vos escreve, pagam um preço salgadinho para manter um ambiente aceitável para a mocinha.
Uma vez, um cartomante me disse que a Lara seria uma adulta insuportável e incompreendida, dado à sua obstinação. Até concordo em parte, visto que ela não abre mão daquilo que acredita. Mas o que ele não conseguiu ver é que a mocinha é tão esperta que consegue chegar onde quer com o aval de todos. Diria que tem talento para a diplomacia, mas não desejo isso à ela, por experiência própria.
Lembrei do dia em que ela conseguiu convencer sua professora do primeiro ano ao questionar a palavra "biblioteca". Ela perguntou à professora por que não "livroteca" já que é cheia de livros. A professora tentou, em vão, explicar a lógica da origem "biblio" que quer dizer livro em latim. A mocinha então questionou que se a palavra "biblio" foi traduzida para "livro" em português, então nada mais justo do que usar "livroteca" ao invés de biblioteca. Isso com seis anos de idade!
Essa é a minha Lara! A minha linda Lara que eu amo tanto!

segunda-feira, 25 de março de 2013

Respirando!

Quem disse que alguém pode ter o controle sobre a própria vida? Se alguém me disser que sim, eu vou dar uma boa gargalhada!
Por mais rígidos que sejamos conosco e com tudo o que está à nossa volta, sempre surgem os imprevistos, os percalços, os acidentes de percurso, os erros.
Vejo pessoas à minha volta com agendas na mão, papel e caneta para fazer cálculos, tablets cheios de planos e projetos, cada segundo do dia devidamente calculado para não se perder tempo com bobagem. Ah tá! Mas será que estas pessoas estão no caminho certo? Será que estão enxergando de fato o que as faz feliz? Será que a vida se resume a estabelecer metas e cumpri-las?
Não sei não!
Eu tenho algumas metas e alguns projetos! Passei quase um ano e meio correndo contra o tempo para cumpri-las. Sabe o que eu ganhei com isso? Uma carga excessiva de estresse, noites de insônia, dores de cabeça avassaladoras e muita frustração.
Parei a alguns dias para pensar nisso. E se eu estiver trilhando o caminho errado? E se tudo o que eu fiz foi um esforço em vão? Será que não existem outros caminhos? Será que o meu raciocínio está correto?
Quando consegui parar mesmo e pensar nas minhas atitudes, descobri que fui muito afoita em alguns momentos, muito negativa em outros, muito ansiosa o tempo todo e que tudo isso só tem atrapalhado a minha capacidade de racionar e sintetizar as coisas.
Tudo bem que o ritmo de vida em Brasília não contribui em nada para que você tenha tempo de parar e pensar nos seus atos, mas daí a levar tudo a ferro e fogo só nos consome, exaure nossas energias e venda nossos olhos.
Tudo bem querer realizar as metas o mais rápido possível, mas é preciso dar tempo ao tempo, respirar, mentalizar as coisas positivas, sorrir, relaxar, ouvir uma música, meditar e entender que o universo gira em seu ritmo, não no nosso.
Lembrei das tardes de Rosário do Sul - RS, quando meus pais fechavam a loja, iam para casa, faziam um chá e sentavam-se na calçada para jogar conversa fora, junto com vizinhos e amigos. Mesmo com todos os problemas, as pessoas tiravam um tempo para o lazer, para a conversa frouxa e descomprometida, para as piadas e risadas, para aquecer o coração com as coisas boas.
Hoje só vemos pessoas correndo contra o tempo, sempre preocupadas com os compromissos, com metas a serem atingidas, com as aparências e o consumismo desenfreado, com a busca incessante da perfeição, com a busca do status e da riqueza.
Dormimos mal, comemos mal, amamos mal, respiramos mal, vivemos mal. E tudo isso para atingir metas. E qual é a meta? Ter uma vida confortável? Então gastamos todo esse tempo vivendo mal para ter uma vida confortável? Qual é a lógica? Em que momento a vida se torna, de fato, confortável?
E se reprogramássemos nossas vidas para ter momentos diários de conforto? Não seria esta uma forma de se ter uma vida confortável? Ou será que o conforto está intrinsecamente ligado ao dinheiro? Não creio! Ninguém precisa de tanto dinheiro assim para tomar um cafezinho com a família e os amigos. Ninguém precisa de luxo à sua volta e roupas caras para dar risadas. Exceto as pessoas fúteis, é claro, que vêem nisso o valor máximo da vida. Mas estou falando de pessoas essenciais, que se perderam no meio da corrida pelo ouro. Pessoas como eu que agora questionam tudo isso.
Há tantas coisas à nossa volta que precisam ser vistas. Tanto boas quanto ruins. O nosso parâmetro de comparação não deve se resumir a pessoas do nosso nível. Temos que ter uma visão mais universal das coisas. Por exemplo, não tenho um padrão de vida elevado, mas o meu vizinho tem um bem pior e precisa fazer acrobacias para pagar a conta de luz. Não tenho roupas caras, mas doei algumas roupas que fizeram uma família inteira feliz. Não posso pagar contas caras em restaurantes elegantes, mas sei cozinhar e posso comprar os ingredientes que preciso. Não tenho um emprego dos sonhos, mas o meu emprego paga as minhas contas e ainda sobra um trocado para bancar alguns bons momentos.
Não estou fazendo uma apologia ao relaxamento, mas sim uma defesa da vida simples. E não estou dizendo que não devemos lutar pelos nossos objetivos e sim que devemos buscar alcança-los sem pagar o preço com a nossa saúde e a nossa felicidade.

terça-feira, 5 de março de 2013

Muçulmanas: Com ou sem véu?

Tive que dar uma gargalhada diante de tal pergunta. "Como é que você pode ser uma muçulmana, se você não usa véu?". Hã? E qual é o problema de ser uma muçulmana e não usar véu?
Foi aí que me veio à mente as imagens dos filmes hollywoodianos, onde sempre mostram as mulheres muçulmanas cobertas dos pés à cabeça, andando cabisbaixas e com uma atitude submissa.
Foi essa a imagem propagada aos quatro cantos do mundo. Até hoje, não vi nenhum programa, filme, documentário, novela ou noticiário mostrando a mulher muçulmana moderna. Nenhum meio midiático está interessado em mostrar esta nova mulher independente, atualizada, conectada, ligada nas tendências da moda e, sobretudo, dona do próprio nariz. Não faz sentido para a mídia ocidental desmitificar aquela figura horrível, construída com trabalho árduo e muita manipulação. Definitivamente, não é este o objetivo do ocidente. Basta lembrar da novela global O Clone, onde as mulheres muçulmanas não trabalhavam, não contribuíam para o orçamento da família e ainda eram gastadeiras e só pensavam em maridos e ouro...muito ouro. Esta é a imagem que querem perpetuar de nós muçulmanas.
Mas estamos à anos luz desta imagem. Hoje, a mulher muçulmana tem formação universitária, só se casa quando já tem um emprego rentável, só tem filhos quando decide tê-los e está ao lado do homem para construir uma família e não atrás dele.
São mulheres com a autoestima em dia, donas de si, seguras em seus propósitos e que só usam o véu por opção, nunca por obrigação ou imposição. Vale mencionar que a independência financeira e o poder aquisitivo das mulheres muçulmanas lhes permitiu o direito de escolha. Ou seja, foi um direito conquistado com perseverança e com a preservação dos valores femininos. Isto lhes garantiu serem vistas e tratadas com respeito pelos homens, que atualmente lhes conferem certa idolatria.
Definitivamente não gosto de comparações, mas às vezes me vejo obrigada a fazê-las diante de certos argumentos. Vamos ver a situação das mulheres ocidentais de hoje. Ganham 40% a menos que os homens, são escravas da imagem (leia-se magreza), sua autoestima anda bastante abalada devido ao entendimento errôneo da liberdade sexual, na qual os homens saíram mais beneficiados, estão arrependidas de pedir direitos iguais, fato que lhes acarretou obrigações iguais e uma tripla jornada, estão sobrecarregadas, estressadas e vulneráveis. Agora vamos à situação das mulheres muçulmanas. Elas não entraram na luta por direitos iguais mas souberam conquistar seu espaço no mundo moderno, são dóceis e sabem como fazer bom uso de sua feminilidade para atingir seus objetivos, que em princípio parecem pequenos, mas são bastante relevantes, são independentes financeiramente e equilibradas emocionalmente. Basta observar de perto um lar com uma família muçulmana moderna, onde o homem participa ativamente da criação dos filhos, contribui para as tarefas domésticas e enxerga a mulher como companheira de luta.
Se o ocidente continua fazendo uma relação direta entre véu e submissão, sinto muito pelo erro grotesco. O uso do véu é opcional na religião muçulmana e a criatividade feminina o transformou num item indispensável de moda, um verdadeiro charme que realça nossos exóticos olhos orientais.
Se você, que está lendo este texto, não quer passar por uma pessoa desinformada, procure ler sobre o papel da mulher no mundo árabe e muçulmano, incluindo países como Irã e Afeganistão, onde, apesar do radicalismo, as mulheres conquistaram posições de respeito na política e chegam a ocupar mais de 20% dos cargos importantes, ao contrário dos países ocidentais, onde o papel da mulher continua relegado a um segundo plano.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Cegueira

Enquanto procurava imagens de flores no Google Images para desejar um bom dia aos meus amigos de Facebook, me deparei com uma imagem que me deixou paralisada: Duas crianças africanas famintas com as mãos estendidas, uma para pegar o alimento doado por algum voluntário e a outra com uma flor murcha sendo entregue a este mesmo voluntário.
Fiquei pensando na quantidade de "posts" que publicamos, diariamente, falando de inveja, de lições de moral, de poesias, de alfinetadas, de bichinhos bonitinhos, de bichinhos abandonados mas pouquíssimas falando destas crianças que foram abandonadas pelo mundo.
Não falo só da África. Estas crianças estão espalhadas por toda parte. Aqui mesmo, na capital federal do Brasil, temos crianças dormindo debaixo de viadutos, abandonadas à própria sorte e expostas à um mundo cada vez mais cruel, desumano e indiferente.
Certa vez, um menino desses de rua me abordou pedindo dinheiro para comer. Falei que não daria o dinheiro porque sei que alguém vai tirar dele, mas estaria disposta a pagar uma refeição para ele. Ele aceitou e paramos no primeiro restaurante, onde um dos garçons nos atendeu a contragosto, já que o menino se encontrava num estado lamentável de higiene. Ele pediu um daqueles pratos prontos, com direito à tudo. Comeu de forma metódica, separando sempre uma parte de todos os ítens que estavam em seu prato. Fiquei intrigada e perguntei o porquê daquela atitude. Ele então me disse que nem todas as pessoas entendem que ele e seu irmão querem apenas comer e sempre acham que querem comprar drogas ou bebidas alcoólicas. Aquela porção separada em seu prato era para o seu irmão de cinco anos que o estava esperando perto do semáforo.
Travei uma batalha árdua com minhas lágrimas e o confortei dizendo que pagaria outro prato de comida para o irmão mais novo.
Perguntei onde estavam os pais dele. Ele me disse que não conheceu o pai e que a mãe estava "muito doente" internada num hospital. Perguntei então se não tinha mais parentes e ele fez que não com a cabeça.
Seu nome é João e o nome do irmão é Isaac. Tinha sete anos.
Assim que ele terminou de comer, pedi que trouxesse o irmão para se alimentar também. Ele correu e voltou logo em seguida com o irmãozinho, mostrando para ele a "dona legal" que ia pagar a comida. Assim que o irmão terminou de comer, perguntei onde a mãe deles estava internada, mas eles não souberam me dizer. Fiquei pensando numa forma de não deixar aquelas duas criaturinhas abandonadas na rua e logo descartei as instituições do governo, visto que o ambiente seria tão ruim quanto o da rua.
Como eu morava perto do Centro Islâmico, resolvi arriscar e pedir ajuda ao sheikh para encontrar uma solução para o problema dos dois anjinhos. Ele ficou reticente e disse que de qualquer forma teria que avisar as autoridades brasileiras sobre o caso deles. Concordei, visto que não poderia hospeda-los em minha casa.  Havia um dormitório abandonado no Centro Islâmico e consegui, depois de muita teimosia, fazê-los tomar um banho enquanto saí para conseguir umas roupas com uma amiga que tinha filhos da mesma idade. Na volta, os dois estavam dormindo um sono profundo, talvez resultante do cansaço de vários dias de sono irregular e de comer sobras em lixeiras. Passados dois dias, consegui arrancar deles o nome completo da mãe, que estava internada no Hospital de Base com uma pneumonia grave. Fui visita-la e contei que tinha encontrado seus filhos. Ela chorou muito e disse que os tinha deixado aos cuidados de uma vizinha, que era empregada doméstica e que morava em Santo Antônio do Descoberto. Tratei de acalma-la, dizendo que seus filhos estavam bem e relatei o que tinha acontecido. Ela recebeu alta quatro dias depois e fui busca-la no hospital em companhia de João e Isaac. Consegui também algumas doações com os meus colegas de trabalho e algum dinheiro, já que a dona Josilda, a mãe, não poderia trabalhar tão cedo.
Foi aí que me dei conta que devem haver milhares de joões e isaacs pelas ruas da cidade, do país, do mundo, entregues à própria sorte e incompreendidos pelos corações endurecidos, que sequer notam sua presença.
Não é só na África que temos crianças famintas. Não é só para lá que precisamos mandar doações e coloca-las em mãos de ONGs duvidosas. Que tal começar por aqui mesmo? Que tal lançar um olhar mais cuidadoso aos que estão à sua volta. Uma atitude simples pode mudar a vida de uma pessoa. O que seria de João e Isaac se eles tivessem se perdido de sua mãe? Nem todos os que estão nas ruas são bandidos que vão te assaltar. Muitos só precisam de um minuto da sua atenção e um pouco de espirito humano.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Dezesseis anos

Acordei, sonolenta, com dezesseis anos. Sim, com dezesseis. Cheguei a sentir o cheiro de chá com sálvia preparado pela minha mãe. Os raios de sol invadiram o quarto por uma fresta no alto da janela, tal qual era o meu quarto em Uruguaiana.
Que sensação estranha! Depois de abrir os olhos pela segunda vez, descobri que estava no presente, em meu quarto atual. Tanto tempo se passou. Me vieram lembranças estranhas de umas fotos do Michael Jackson coladas na parede, do lado da minha cama, um armário muito bagunçado, o teto branco, uma estante com uma coleção de livros clássicos, desde Machado de Assis, passando por Leon Tolstói e Dostoievsky. Adorava ler e reler o romance de Moll Flanders.
Minha visão embaçada rebuscava na memória um cobertor xadrez vermelho e um lençol bordado nas extremidades. Ouvi a voz da minha mãe me chamar para ir ao colégio. Que frio! Não quero ir. Mas se ficar vou ter que arrumar a casa. Não, é melhor levantar e encarar o frio.
Minha memória vagou novamente e foi parar na penteadeira onde havia uma pasta azul de plástico e um caderno velho onde eu anotava alguns pensamentos. Acho que morreria de rir se encontrasse aquele caderno. Eram ideias bobas, sem sentido, pensamentos ingênuos de uma época em que predominavam os amores platônicos.
Vagando pelo meu antigo quarto, encontrei uma caixinha de maquiagem que ganhei da minha tia, quando morava em Amã. As cores eram berrantes. Uma sombra verde bandeira, uma azul, um blush rosa, um delineador verde e um brilho labial muito vermelho. Fazia sentido usar aquelas cores quando eu tinha doze ou treze anos, mas aos dezesseis me pareceram absolutamente improváveis.
Depois de muita resistência, levantei da cama e vesti uma blusa de lã branca que a minhã mãe tricotou para mim e uma calça jeans pra lá de surrada. Meu tênis estava molhado, portanto teria que usar uma bota preta, cheia de tachinhas, estilo Virginie, vocalista do Metrô ou a Paula Toller nos anos 80. O exagero era moda.
Na sala, havia uma mesa de madeira, cercada de muitas cadeiras. Seis iguais e duas improvisadas pelo meu pai. Eram cadeiras feias, desgastadas pelo tempo, mas davam uma cara de lar àquela casa. O café da manhã era sempre muito farto. Zaatar, ovos fritos, queijos, azeitonas, coalhada seca, tomate e pepino, chá preto com sálvia ou café ou uma vitamina com bolacha maria, a famosa "batida" da Dona Âmina. Bons tempos. Hoje o meu café da manhã consiste num copo d'água e uma fruta que devoro enquanto dirijo.
Caminhando pela 7 de Setembro, rua onde eu morava, vou escorregando na geada que se formou na calçada. Ainda bem que naquela época os muros eram baixos e a gente ia se apoiando neles. A escola ficava bem longe, uma caminhada de cerca de 25 minutos. Mas a sensação era boa. À medida que ia andando, alguns colegas iam se juntando à mim, formando um grupo numeroso e animado. Logo esquecíamos o frio e a brincadeira corria solto.
O despertador toca pela terceira vez e me traz de volta ao presente. Preciso tomar um banho, dar ração aos meus bichinhos, improvisar um lanche, fazer minha maquiagem, achar uma roupa em meio ao caos do meu armário e verificar se está tudo certo antes de sair. É, bons tempos! Preferia continuar vagando nos meus dezesseis anos!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Expediente


Meu inconsciente diz:  São só mais algumas horas.
Meu cérebro diz: Horas valiosas perdidas.
Uma lagartixa no pátio me distrai. Fica ali, inerte, ao sol. Couro estranho esse da lagartixa.
Tantas mudanças por fazer e eu aqui de mãos amarradas observando uma lagartixa. Quem foi que inventou essa coisa de expediente? Por que não podemos simplesmente cumprir nossas tarefas e utilizar nosso tempo a nosso favor? Felizes são os que trabalham na Microsoft e podem escolher os horários de trabalho, desde que cumpram suas funções.
Enfim uma tarefa. Algo que posso cumprir em cinco minutos. Bom, pelo menos o meu salário está sendo justificado.
Tarefa idiota! Eu poderia fazer isso de qualquer lugar do universo!
Tem uma mancha na parede da minha sala. De terra. Como é que alguém conseguiu fazer isso? Será que o jardineiro encostou a mão ali sem querer? Vai saber!
Um telefonema. Vou dar uma informação. Muito bom. Mais uma justificativa para o meu ganha-pão.  Mas que diabos estou fazendo aqui? Logo eu com essa minha mente inquieta, fervilhante? Por que nunca consegui me acomodar? Por que não aceito regras? Por que simplesmente não sei ficar no meu lugar?
Eu tenho projetos. Muitos projetos. Preciso de grana. Pouca grana. Nada demais. Nada surpreendente. Quero montar uma empresa, escrever um livro, fazer artesanato, aprender a tocar um instrumento, colocar o meu blog em dia. Tanta coisa que quero fazer!
Quero sair daqui. Meu amor me espera bem ali. Seria tão simples, mas é complicado. Claro, tinha que ser complicado, afinal trata-se desta pessoa que vos escreve. Nada é simples quando a pessoa em questão sou eu.
A lagartixa se moveu. Até que enfim um movimento! Pelo menos ela pode se mover.
Sinto um acúmulo de ideias inúteis. Preciso fazer uma faxina mental. Destas em que descartamos tudo o que já não tem mais serventia. Valores antigos, hábitos antigos. Acumulei tanta bagagem ao longo da vida e agora sinto que boa parte dela só serviu de peso morto. Preciso de leveza.
Não! Isso não é um desabafo. Estou apenas liberando fantasmas! E queimando algumas bruxas!
A lagartixa se foi! Sortuda! E eu aqui, cumprindo expediente!