Bomba!

Havia um passarinho no muro e ela parou para olhar. Tinha só quatro anos. Ficou encantada com aquele passarinho, mesmo sendo um desses pássaros cinzas comuns, que estão por toda parte. Era uma manhã de verão, quente, sem nenhuma brisa e o sol já ameaçava um calor daqueles.
O muro era bem alto, portanto ela não teria como alcançar o passarinho. Sua mãe estava lá, estendendo as roupas no varal e sua avó assava o pão para o café da manhã.
De repente o pássaro voou assustado e ouviu-se um barulho ensurdecedor. Era uma bomba. Atingiu o muro alto em cheio. Todos caíram. Sua mãe então correu desesperada, a pegou no colo e a trancou dentro de casa. Sua avó tremia tanto que não conseguia falar. Todos correram para ver o que havia acontecido. Ninguém morreu. Ainda bem! Alguém está ferido? Não! Graças à Deus!
Ficou um buraco imenso no muro, com bordas negras. Dava para ver a casa do vizinho. E o vizinho? Está tudo bem, era uma bomba pequena. Ah bom! Ainda bem! Estavam todos nervosos, pois dois dos homens da família já tinha saído para trabalhar, sem tomar café da manhã. Voltaram correndo ao saber do acontecido. Que bom, estão vivos!
- Esta cena que descreví acima ocorreu na casa dos meus avós paternos, em Amman, no ano de 1972. Foi durante uma luta sangrenta entre o exército jordaniano e o exército israelense. Muitas bombas foram lançadas nos bairros onde viviam famílias palestinas. Muitos morreram. Minha família saiu ilesa, mais uma vez, graças à Deus. A menina da cena sou eu. Durante muitos anos tive pesadelos com este bombardeio. Outras eu sonhava que meu tio me sacrificava para não cair nas mãos dos israelenses, porque naquela época, eles roubavam as crianças palestinas e as adotavam como judias.
Tive a sorte de seguir um caminho bem diferente e acabei esquecendo dos detalhes menores da guerra, mas as crianças palestinas vivem esta rotina de bombardeios diariamente. Será que algum dia estas crianças vão poder dormir sem ter pesadelos com bombas?