Valor Econômico
A calmaria que precede a tempestade no Oriente Médio
Data: 11/11/2009
Crédito: Editorial
Com o avanço político dos extremistas palestinos e da ultradireita israelense, instalou-se na região a calmaria que antecede novas tempestades. A chance imediata de reinício das negociações entre Israel e a Autoridade Palestina surgiu com as esperanças criadas pelo presidente Barack Obama, mas ela desapareceu. A secretária de Estado, Hillary Clinton, seguiu seus instintos, e em uma estranha guinada, praticamente sancionou a política provocadora e expansionista do premiê Benyamin Netanyahu. Netanyahu representa o mais completo retrocesso na posição de Israel em relação a seus vizinhos. Os assentamentos em terras palestinas voltaram com força na Cisjordânia e o governo israelense simplesmente ignorou que seu fim era uma das condições para negociações de boa-fé. Mais uma vez, o governo israelense se escuda na tibieza americana para obter vantagens. Os EUA são vitais para incentivar um acordo de paz e Obama aparentemente retirou a prioridade inicial da questão palestina de sua agenda externa. Netanyahu não teve constrangimentos de dizer alto e bom som, antes de encontrar-se com Obama, que nunca um governo israelense mostrou-se tão disposto a conter os assentamentos israelenses na Cisjordânia. Ao usar a demagogia com que cativa fanáticos dos partidos de ultradireita que apoiam seu governo, Netanyahu passa por cima dos fatos. Ele sepultou a política corajosa de outro falcão, Ariel Sharon, que desmantelou assentamentos na Cisjordânia, retirou-se de Gaza, construiu um novo partido para se desvencilhar do radicalismo sem futuro do Likud, o Kadima, e tentou negociar com a Autoridade Palestina.Sem a mediação americana, o jogo político regional beneficiou os extremos. A agressiva política israelense, que culminou na sangrenta invasão da Faixa de Gaza, reduziu momentaneamente o poder militar do Hamas, mas não abalou sua força política. Vencedor das últimas eleições, o Hamas enfrentou o Fatah, esteio da Autoridade Palestina, em uma luta sem precedentes. O Fatah foi expulso de Gaza e Abbas enfraqueceu-se ainda mais, enquanto o governo israelense, sob o comando de Ehud Olmert, antecessor de Netanyahu, desqualificou politicamente, por palavras e atos, os moderados do lado palestino.Entre os palestinos, Abbas é hoje um líder desmoralizado. Ele prometeu retirar-se das eleições, marcadas para 24 de janeiro, mas a situação política é tensa. O Hamas não deixará o pleito ser realizado em Gaza e, sem um acordo, será praticamente institucionalizada a divisão entre uma Cisjordânia governada pelo Fatah e a Faixa de Gaza na mão dos radicais. Hoje, cinco anos exatos após a morte de Iasser Arafat, não há um líder capaz de reunir as diversas facções palestinas. Com Abbas fora da disputa, talvez um novo líder seja ungido pelas urnas, e ele pode não ser moderado como o sucessor de Arafat. A combinação do expansionismo triunfalista de Netanyahu com a desmoralização dos moderados palestinos é uma receita certa para novos desastres. É só uma questão de tempo, a menos que os EUA pressionem Israel a negociar seriamente, não no tom farsesco atual. Em outro plano, o governo israelense tenta acabar com as chances de entendimentos entre EUA, europeus e o Irã sobre a questão nuclear, defendendo o isolamento do incendiário e irresponsável presidente Mahmoud Ahmadinejad. Israel está em ofensiva diplomática mundo afora e quer convencer também o presidente Lula a não receber o presidente iraniano. É a mesma política. Ao bombardear as lideranças moderadas palestinas, o governo israelense deixou o terreno livre aos radicais para, dessa forma, ficar com as mãos livres para o uso da força bélica, na qual é claramente superior, quando lhe for conveniente. Isolar o Irã agora seria a melhor forma de preparar o terreno para um ataque próprio, e irresponsável, contra o Irã. Uma diplomacia sensata, distante dos fanatismos, levaria em conta que Ahmadinejad saiu chamuscado das eleições, que a perda de apoio político demonstrada nas urnas obrigou-o a abrir negociações e que seria um absurdo deixar de explorar essas oportunidades e as divisões no regime iraniano, como quer Barack Obama. Parece claro que Israel não tem uma política de defesa, só de ataque - cada vez mais tem apenas a exibir a força como argumento.
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