quarta-feira, 2 de junho de 2010

Falou e disse...

Mais uma vez, todo meu respeito ao governo brasileiro. Finalmente, um governo meteu a cara para questionar a isenção do Conselho de Segurança da ONU e suas declarações, sempre suaves, sobre os atos bárbaros de Israel contra os palestinos.

Correio Brasiliense


Brasil questiona barganha na ONU
Lula diz que Israel fez "o que não podia". Amorim critica "troca de favores" entre potências

Isabel Fleck
02/06/2010
O chanceler Celso Amorim em audiência no Senado: fim do bloqueio a Gaza "deve ser uma exigência"

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim mantiveram ontem a dura postura, expressa desde a véspera em nota do Itamaraty, sobre o ataque israelense contra a flotilha que levava ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Enquanto Lula afirmou que Israel “não tinha direito de fazer o que fez”, o ministro deixou claro que o governo brasileiro acha “pouco” que o Conselho de Segurança das Nações Unidas tenha apenas “pedido” o fim do bloqueio ao território palestino. “Acho que deve ser uma exigência (para acabar com o bloqueio) da comunidade internacional”, defendeu. Amorim também criticou os membros permanentes do conselho, que supostamente “trocam favores” ao tratar de temas como as sanções contra o Irã.
Para o chanceler brasileiro, a ação de Israel, que resultou na morte de nove ativistas, só ocorreu porque o bloqueio continua. “Existem preocupações de segurança, e elas podem ser resolvidas como em qualquer outro país do mundo, através de postos internacionais que policiem a fronteira de Gaza”, afirmou. O ataque da última segunda-feira, que ocorreu fora da faixa marítima controlada por Israel, constitui, para Amorim, “uma violação não apenas do direito humanitário como do direito internacional como um todo”.
Lula também citou o fato de a abordagem das forças israelenses ter sido feita em águas internacionais como um agravante da ação. “Israel não tinha o direito de ter feito o que fez, mas vamos esperar que haja melhores investigações”, declarou, após encontro com os membros do Comitê Mundial de Trabalhadores do Grupo Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP). “Eu estou convencido de que não é o uso de armas que vai garantir a paz. Os dirigentes precisam aprender a dialogar mais”, completou.
Amorim, no entanto, evitou associar diretamente os efeitos do ataque de Israel nas conversas sobre as sanções no Conselho de Segurança — já que é notória a pressão israelense sobre os Estados Unidos para reforçar a punição a Teerã. “Isso partiria do pressuposto de que uma coisa ruim pode trazer uma consequencia boa. Isso à vezes acontece, mas eu prefiro não dar nenhum valor positivo a uma ação negativa”, desconversou. “Prefiro me ater às consequencias mais imediatas, como o que isso representa de ameaça à paz no próprio Oriente Médio.”

Aspectos estranhos
Ao ser sabatinado na Comissão de Relações Exteriores do Senado(1), na tarde de ontem, o ministro sugeriu que Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China têm colocado interesses individuais à frente da questão do programa nuclear do Irã. “O que diminui a credibilidade do Conselho de Segurança é o fato de ter cinco potências nucleares, que são os cinco membros com direito a veto que negociam entre si, e nós não sabemos o que se passa nessa negociação”, disse. Segundo ele, não se sabe “se há favores que estão sendo trocados, ou se outros aspectos estranhos à questão estão sendo envolvidos”. O ministro deixou clara sua insatisfação: Nós sabemos do que sai nos jornais, e o que sai é preocupante.”

1 - Salvo pelo pré-sal
Durante a audiência na Comissão de Relações Exteriores, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) revelou que por pouco não embarcou em um dos seis barcos atacados por Israel quando seguiam para Gaza. Suplicy contou que chegou a comentar com o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), sobre a possibilidade de viajar, mas o colega lhe pediu que ficasse para a votação do marco regulatório do pré-sal. “Imagina se ficasse faltando só um voto?”, considerou o petista. Suplicy, contudo, se disse convicto de que não seria um alvo potencial. “Acho que eles não iriam querer atirar em mim”, brincou.

Críticas aos EUA
Um “certo silêncio” foi o que o chanceler brasileiro, Celso Amorim, ouviu após confrontar a secretária de Estado Hillary Clinton com o fato de que as críticas dos Estados Unidos ao acordo têm por base pontos que nem sequer foram mencionados na carta enviada a Lula pelo presidente Barack Obama. Ao responder a perguntas de senadores, o ministro disse que, em telefonema recente, Hillary falou de suas preocupações, como a continuidade do enriquecimento de urânio e o estoque mantido por Teerã, temas que não são abordados na declaração assinada por Irã, Brasil e Turquia.
As possíveis “lacunas” do documento de Teerã têm sido usadas por Washington para questionar a eficiência do acordo. De acordo com Amorim, o governo brasileiro considerou que o que não estava mencionado na carta de Obama, “ou era secundário, ou poderia ser tratado tão logo fosse fechado um acordo” com as potências ocidentais. Para o ministro, ninguém conseguiu definir melhor o que se sucedeu ao acordo de Teerã do que um articulista americano, ao afirmar que “os EUA mudaram as traves de lugar”.
Amorim citou uma entrevista dada pelo ex-diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) Mohamed El-Baradei ao Jornal do Brasil, para reforçar a confiança do Brasil de que “não há condição alguma de que o Irã venha a produzir bombas nucleares com a quantidade de urânio que tem”. Segundo o último relatório da AIEA, o Irã teria urânio para dois artefatos. “A informação que eu tenho é de que são necessários no mínimo 2.000kg para uma bomba rudimentar. O Irã tem agora 2.427kg”, dos quais 1.200kg seriam depositados na Turquia, lembr a Amorim. (IF)

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