sexta-feira, 16 de abril de 2010

Brasília

Brasília é uma cidade estranha. Esqueçam as poesias, paródias, declarações de amor, odes e elogios à sua arquitetura. Estou falando da Brasília das pessoas. Parece um plano simples, onde tudo é minimamente organizado para que as pessoas vivam, trabalhem, caminhem, façam compras e brinquem nas pracinhas com as crianças. Mas não é.
De tão minimalista, confunde. De tão simples, estressa. De tão vazia, enche o saco. De tão perfeita, perde a graça. Sabe quando você olha para aquela mulher linda ou aquele homem másculo e vibra com a perfeição, mas quando fala, toda a perfeição desaba? Pois é, Brasília é assim. É uma linda mulher ou um lindo homem que não pode abrir a boca.
Quando abre, aparece a depressão, a solidão, a indiferença, o egoísmo, a frieza, a monotonia e a capacidade de desbotar a mais linda das cores.
É claro que me refiro às pessoas, não à arquitetura. As pessoas andam nas ruas apáticas, como se não enxergassem nada além de seus próprios passos. Quando falam, lamentam por coisas que já se foram, por coisas que não fizeram, mas nunca fazem nada para mudar. Quando se vestem, não querem agradar à sí mesmas, mas ao padrão Brasília de beleza. Quando comem, esquecem o paladar e concentram-se na decoração do restaurante e seu status social. Quando paqueram, são indiferentes se vai dar certo ou não, é só um esporte social.
Brasília é a cidade da apatia, dos andróides, dos "não estou nem aí para vocês". A minha eterna impressão é que cada pessoa constrói uma parede invisível e inviolável à sua volta, onde só se mostra o que interessa.
Sinto falta de Uruguaiana. Dos vizinhos sentados em frente à suas casas, tomando chimarrão, conversando animadamente, fazendo fofocas, dos "playboys" andando de carrões e motos e se exibindo para as meninas bonitas, da brisa do final de tarde, do calor humano, da vida humana. Sinto falta das amizades verdadeiras, onde haviam brigas e pazes, onde se falava com sinceridade e onde o jeans surrado não fazia diferença para ninguém, até porque todos usavam jeans surrado e camiseta Hering comprada numa lojinha baratinha.
Brasília precisa disso! De seres humanos! De pessoas que dão risadas, se sacaneam e se amam.
Estou cansada de caminhar entre andróides em transe dentro de shoppings e restaurantes.

Um comentário:

  1. ..mas este problema não é só de brasilia, é o sinal dos tempos..se fala muito em aquecimento global, etc..., e o que vai acabar com o mundo é este império de consumismo e futilidade na qual vivemos, tudo é ouro de tolo, o que falta é o chumbo dos sábios (como diria um amigo meu).

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