quarta-feira, 7 de abril de 2010

Livros

Além de fuçar os principais jornais do Brasil e do mundo, tenho outro hobby: visitar livrarias. Algum desavisado deve pensar: “Ela deve ser uma mulher chatíssima”. Acho que não. Tento controlar meus impulsos. Mas a arte da observação é bastante interessante.

À algum tempo atrás, a moda das livrarias era expor toneladas de livros de auto-ajuda. Os autores contam nestes livros suas histórias de sucesso profissional e pessoal, disciplinas que vão muito além da condição humana e receitas “infalíveis” para se tornar um milionário. Lí alguns até a metade e descobri que, para mim, é impossível seguir tais receitas, já que sou uma pessoa normal, cheia de qualidades e defeitos.
Aí o Dr. Khaled Husseini, nosso amigo afegão radicado nos Estados Unidos da América lançou o “Caçador de Pipas” para falar das tragédias que atingiram seu país e seu povo, exaltando a cultura e a sociedade americana. Foi daí que começou o terror. Centenas de outros livros de autores anônimos, até então, viraram febre. Lí alguns. Em quase todos eles, os autores fugiram de seus países, na maioria muçulmanos, e se exilaram em algum país europeu ou nos Estados Unidos da América e de lá criaram coragem para contar suas tragédias pessoais ou imaginárias.
Até aí, tudo bem! O que me intrigou foi a multiplicação destes livros numa velocidade meteórica. Em quase todos eles, os muçulmanos são sempre algozes das vitimas (autores) e quase todos usam clichês muito parecidos. Dá a impressão que foram escritos pela mesma vitima (autor), em princípio como forma de denúncia, mas por trás do denuncismo, percebi uma nova metodologia de lavagem cerebral. Já que a mídia cansou as massas com o clichê “terrorismo islâmico”, por que não “romantizar” a expressão usando vitimas (autores) para continuar sujando a imagem do Islã perante o mundo?
É bem mais convincente quando uma pessoa, na intimidade de seu quarto, lê sobre os horrores do mundo islâmico e absorve a mensagem de forma romântica e intimista. Se fossem só os livros, ainda vai, já que não se atinge uma camada significante da população, mas tem também os filmes. Assisti “Persépolis”, onde uma garota iraniana foge da repressão islâmica dos xás e vai para a Europa se purificar. A mensagem embutida no filme é que no islã não há liberdade, coisa que eu discordo de fato, já que sou muçulmana e sei que o que se aplica no Irã e no Afeganistão é um radicalismo repressor que eles insistem em chamar de religião. Também assisti “Além da Paixão”(Beyond the Borders), onde radicais muçulmanos matam o herói do filme, além de serem retratados como patetas, ignorantes e selvagens. Para que o filme tivesse bastante expressão, os muçulmanos assassinam nada mais, nada menos do que Angelina Jolie e ferem mortalmente Clive Owen, dois ícones amados do cinema mundial. Quem é que não vai odiar os muçulmanos, depois de ver esta cena? É perfeito!
Leitores, intelectuais ou não, amantes do cinema, cinéfilos ou não, todos tem seu consciente transbordado de interpretações prontas e fáceis, que avisam que todo muçulmano é terrorista, até que prove o contrário. Vejo isso nos olhos dos meus amigos mais íntimos, que não conseguem correlacionar o fato de eu ser muçulmana e ao mesmo tempo ser uma pessoa como qualquer outra, que tem contas à pagar no final do mês, filhos para apanhar na escola, um chefe que cobra pontualidade e, para piorar, gosta de música, livros e cinema. Ah, e o mais interessante é que meu cinto não vem equipado com bombas. Dá para acreditar?

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