quarta-feira, 27 de maio de 2009

ÂMINA

O nome dela significa crédula em árabe. Parece que algumas pessoas nasceram para carregar o nome que lhes foi dado. É o caso de de Âmina. Ela carregava o mundo no coração. Não acreditava em pessimismo, apenas em destino.
Não é para menos, ela tinha luz própria. Linda, alta, ruiva, olhos verdes, um corpo cheinho, mas bem delineado. Nasceu no vilarejo de Abbasyieh, mas logo na adolescência fugiu da guerra e mudou-se para Ramallah. Lá, teve que abandonar os estudos e se dedicar ao trabalho junto com sua família. Seu pai abriu uma pequena oficina de roupas de lã, onde ela trabalhava como instrutora, ensinando outras meninas a manejarem as modernas máquinas de tricô que tinham acabado de chegar. Mas o que ela gostava mesmo, era das agulhas, onde ela soltava toda a criatividade. Fazia tudo com tanto esmero, que seu trabalho logo ficou conhecido.
Mas como ela tinha se tornado uma moça, já estava na hora de casar. O pai até que tentou protelar, mas a mãe dela achou que estava na hora. Apareceram alguns pretendentes, mas Âmina não gostou. Seu coração já estava inclinado para um certo rapaz que travalhava na alfaiataria que ficava em frente à sua oficina. Era um rapaz magrinho, de estatura média, mas com cara de James Dean e o charme dos rapazes dos anos 60, com aqueles topetes impecáveis.
Era tímido, mas a achava linda. Ele me contou que ficava esperando os horários de saída das aulas de tricô para ver Âmina na porta da oficina. Ela, mais esperta, dava um jeitinho de sair para comprar cigarros para o pai, dando um jeito de passar em frente à alfaiataria e dar uma espiadinha.
Não demorou muito até descobrirem que os dois eram parentes. Aconteceu numa conversa entre o rapazinho e o pai de Âmina, bem na frente da oficina. Ela, claro, ouviu cada palavrinha e ficou bem mais animada. Uma semana depois, os pais de Âmina recebem a visita de parentes, numa sexta feira, logo pela manhã. Lá estava ele, acompanhado dos pais, para pedir a mão da donzela em casamento.
Noivaram, passearam de mãos dadas pelas ruas de Ramallah, tomaram sorvete às gargalhadas e nasceu dali um grande amor. Um amor que durou 50 anos. Um amor que ainda mora no coração dele, depois que ela se foi. E também no coração dos filhos, que foram regados com este sentimento verdadeiro.
Âmina se foi, mas só em corpo, porque em espirito ela continua bem presente, em muitos corações, que ela conquistou ao longo dos seus 50 anos vividos aqui.
Âmina é a síntese de tudo o que eu gostaria de ser. Âmina é minha mãe.

2 comentários:

  1. a versão que eu conheço é bem diferente desse jeito singelo que vc escreveu.

    abs
    Hully Arar

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  2. Bom, foi o que os dois me contaram....eu ainda não estava lá...rsrs

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