Me identifiquei com o estado emocional de uma amiga, enquanto ela descrevia os temores que sentia. Ela me contava que seu amor, até então virtual (entenda-se relacionamento via internet), resolveu vir ao Brasil e se casar com ela. Então, o relacionamento dos dois passará para o plano real. Ai...só de pensar nos medos, nas expectativas, na ansiedade, nas dores psicossomáticas, fico toda arrepiada.
Ela me contava com os olhos cheios de lágrimas que estava aflita, porque não sabia se ele iria gostar do Brasil, de Brasília, da casa dela, dos filhos, do ambiente, mesmo tendo mantido um relacionamento virtual com ele por dois anos. Até então, eles eram muito íntimos. Sabiam tudo da vida um do outro. Os gostos, as vontades, a cor preferida, o vinho predileto, a flor mais bonita. É tudo muito lindo no plano virtual, tudo muito perfeito. Perfeito até demais. Mas quando se passa do plano virtual para o plano real, vêm à tona todos os nossos medos. Será que ele/ela vai reparar nos meus "pneuzinhos"? Será que vai notar que tenho rugas nos cantos dos olhos? Será que vai perceber que eu tinjo os cabelos? Será que vai se incomodar por eu ser baixinha(o)? Afe! E aquela mentira que contei sobre aquela noite em que eu fui à festa? E as outras mentirinhas bobas que inventei? Será que devo contar a verdade ou deixar para lá? Acho que preciso comprar roupas novas! Preciso também comprar roupas de cama, as minhas andam tão poídas! E aquela goteira? Preciso consertar urgentemente! Meu Deus! A vida real é tão complicada! Todas estas coisas ficavam escondidas, porque o ângulo da webcam não as alcançava! Minha querida e maquiadora webcam, o que vai ser de mim sem você?
O que minha amiga ainda não conseguiu entender é que o amado dela também é de carne e osso. É ser humano, cheio de qualidades e defeitos. Ela não parou para pensar, nem por um segundo, que talvez ela não goste dele pessoalmente. Talvez os dois não se combinem no beijo, no toque, na cama. Talvez ele também tenha maquiado a verdade. Talvez ele também tenha os deprimentes pneuzinhos.
Amores de internet são assim. A gente pensa que conhece a pessoa intimamente, quando na verdade, a gente só conhece o que esta pessoa quis ser ou mostrar ser. O plano real é mais cru, mais bruto, mais palpável, tem cheiro, tem cor, tem sangue nas veias, tem calor nas mãos.
Uma pesquisa da universidade de Michigan constatou que 63% dos adultos maiores de 40 anos encontram seus pares via sites de relacionamentos. Sensacional! É o mundo globalizado! O que a pesquisa não apontou é quantos destes encontros foram bem sucedidos. Eu duvido que passem de 3% porque os outros 60% devem encerrar a conta naquele site, inscrever-se em outro e começar tudo de novo! Ah, esqueci de um detalhe: vão bloquear o par anterior no messenger ou no skype, porque se tornou uma presença incoveniente.
É exatamente assim que funciona! Infelizmente, nos tornamos tão descartáveis quanto uma garrafinha pet. O valor de um ser humano resume-se à quantidade de informações e fotos interessantes que constam em seu perfil na internet. Se são mentiras ou verdades, isto é outro departamento e nem interessa tanto assim, se a figura do outro lado da webcam for um gostosão ou uma gostosona! Triste! Muito triste! Afinal de contas, somos seres humanos de verdade, com ou sem pneuzinhos, rugas e cabelos tinjidos. Mas será que alguém se importa? Sei lá! Só sei que é divertido! E tem mais: vai que eu consigo entrar para o rol dos 3% bem sucedidos! Não custa nada tentar né?!
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