sexta-feira, 7 de maio de 2010

Casamento

- Que legal! Me ensina vó!
- Vem aqui!
- Ah..é difícil.
- Não é não, são dois pulinhos para lá, dois pulinhos para cá.
- Parece fácil, mas não é.
- É sim, vem comigo.
- Vó, está todo mundo olhando.
- E daí? Isto é um casamento. A gente tem que se divertir.
- Sim, mas eu não sei dançar.
- É claro que sabe, é só relaxar.
- Está ficando divertido.
- Viu só?!
- É muito bom mesmo, parece exercício de aeróbica.
- (Risadas).
- Vó, por que a noiva tem que ficar sentada neste palquinho aí?
- Porque ela é a noiva, tem que ficar num lugar mais alto para todo mundo ver. Ela está linda, não está?
- Está sim, parece uma boneca. Mas parece que ela está de mal humor.
- Não é mal humor. Ela está tristinha porque hoje é o último dia em que ela fica com a família. Depois que a festa acabar, ela será do marido e ficará longe da família dela.
- Ah! Mas por que ela vai ficar longe da família dela?
- Não é assim no sentido literal. Significa que ela não verá a família com a mesma frequência e as noivas costumam ficar inseguras com isso.
- Sei....Eu acho que não vou ficar insegura quando eu me casar.
- Não?
- Não!
- Por que?
- Porque eu já me acostumei a ficar longe da minha família.
- Mas e nós? Eu, seus tios e suas tias?
- Ah, vou sentir falta, mas não vou ficar insegura.
- Hummm...me explique isso, Dona Pretensão.
- Não é pretensão. Eu só acho que quando eu me casar, será por convicção, então não tenho porque ficar insegura.
- Mas você acha que a sua prima não se casou por convicção?
- Não sei.
- É claro que ela se casou por convicção, mas isso não significa que não vá ficar com medo do que está por vir. É tudo novo. O marido, a casa, os sogros, os cunhados e cunhadas, os hábitos, tudo! Quem não fica inseguro com o que é novo?
- Eu!
- Ah é?
- É! Eu me considero uma pessoa corajosa.
- Quero só ver quando chegar o seu dia.
- Ih, vai demorar muito!
- Você acha?
- Acho. Eu sou muito nova ainda e nem quero pensar nisso antes dos trinta anos.
- (Gargalhadas).
- Você não acredita?
- Não! É que você é uma mocinha de 15 anos com cabeça de 12, mas você vai amadurecer e perceber que este é o destino de toda mocinha.
- Casar?
- Sim.
- E se eu não quiser?
- Ai ai, você vai querer. É tão natural quanto beber água.
- Não sei não, eu sonho com tanta coisa.
- Me dê um exemplo.
- Sei lá, viajar pelo mundo, conhecer pessoas, virar cantora de rock, atriz, comediante, escritora, artista, ficar rica, famosa, aprender a nadar, dirigir carrões, conhecer um retiro espiritual no Tibet e um monte de outras coisas.
- Tudo isso é normal na sua idade, mas não é real.
- Mas pode ser!
- Poderia, se você não fosse uma palestina e muçulmana. Isso que você está sonhando é coisa de filme americano, não condiz com nossa cultura.
- Quer dizer que não posso nem sonhar?
- Sonhar pode. Mas você tem que se lembrar que a sua realidade é outra. Seu pai nunca vai permitir que você viaje sozinha, só para começar.
- Ah vó, isso tudo é muito injusto.
- É sim, mas quem disse que você estará segura realizando todos estes sonhos. Minha netinha, acredite em mim, até as pessoas mais ricas e famosas do mundo sonham em ter um lar e uma família. Nós apenas não alimentamos estes delírios de adolescente e ensinamos nossos filhos, desde cedo, o valor de uma família. Isso sim é importante, é uma conquista e é a maior riqueza que um ser humano pode ter.
- Sei....
- Eu sei que você não acredita em mim, mas você acreditará. Agora pára com esta conversa e vem dançar!

2 comentários:

  1. "ensinamos nossos filhos, desde cedo, o valor de uma família"
    Belíssima lição !

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  2. Verdade Lu! Obrigado pelo comentario.

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