Estava no pátio de casa à bordar uma das fileiras de flores que comporiam seu novo vestido. Bem distraída, Nahla nem notou a movimentação. Do outro lado da rua estacionara um Jipe verde musgo. De dentro dele, saltou um soldado judeu mal encarado, enquanto outros dois apontavam as pesadas armas em direção à sua casa. O soldado mal encarado bateu à porta e seu irmão mais novo, Musa, correu para atender. Musa foi bruscamente empurrado pelo soldado, que invadiu sua casa à procura de Karim, seu irmão mais velho.
Há poucos meses, Karim havia sido recrutado para o exército revolucionário palestino e partiu junto com outros nove rapazes do vilarejo para combater os invasores judeus. O soldado judeu mal encarado vasculhou sua casa, sem a menor cerimônia, como se tudo o que havia nela lhe pertencesse. Sua mãe, Nahida, estava aos prantos, ciente do preço que sua família pagaria pelo recrutamento de Karim.
Furioso, o soldado quebrou as louças, herança mais antiga da família, rasgou trajes comprados com tanto esforço, derrubou móveis de estimação, estraçalhou quadros com fotos de antepassados e por fim, deu uma coronhada na cabeça de Musa, um menino de dez anos que mal assimilava o que estava acontecendo. Ainda deu um chute na porta, arrancando-lhe um pedaço antes de sair.
Nahida correu para socorrer seu caçula, enquanto Nahla continuava paralisada diante de tanta selvageria. O sangue lhe subiu à cabeça e numa reação imediata, Nahla pegou a foice de seu pai e correu em direção ao judeu. Mas antes mesmo que pudesse alcança-lo, foi metralhada pelos outros dois judeus que estavam no jipe. Sentiu sua pele queimar, enquanto via, pela última vez, a face daquele que destruíra tudo o que havia de mais valioso em seu lar, aquele que machucara seu irmão amado irmão, aquele que esmagou o coração de sua mãe. Nahla morreu aos 17 anos, metralhada diante da porta de sua casa, pouco antes de realizar o sonho de vestir seu mais novo vestido bordado de flores.
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