quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Aha...eu disse!

Uma grande amiga minha sempre diz a seguinte frase: "Se eu fosse rica e famosa, as pessoas ouviriam o tenho a dizer". Engraçado! Eu disse as mesmas coisas que esta escritora escreveu. Mas como eu não sou nem rica, nem famosa, minhas opiniões só foram conhecidas pelos leitores do meu blog, que alíás não são poucos e são pessoas muito bem informadas. Obrigado pelo apoio e pela visitação ao NOSSO blog.
Valor Econômico

Resgatando o Iêmen
Data: 21/01/2010
Para o presidente do país, a tentativa de atentado no Natal foi um verdadeiro presente dos céus
May Yamani
Se o Ocidente olhar além do terrorismo, para as raízes do problema, e pressionar Saleh a partilhar o poder, o Iêmen será resgatado
O Iêmen, repentinamente, juntou-se ao Afeganistão e Paquistão como um risco para a segurança mundial. De fato, o país é cada vez mais visto como um "Estado falido" embrionário e possível sede substituta para a Al-Qaeda.
A tentativa de atentado no avião que se dirigia a Detroit no Natal, por um jovem nigeriano treinado pela Al-Qaeda no Iêmen, abriu os olhos do Ocidente para os problemas do país. Depois do ataque fracassado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Gordon Brown, promoveram uma conferência a ser realizada em Londres para propor soluções para as crises, antes negligenciadas, no Iêmen.
A conferência, entretanto, será mais prejudicial do que benéfica, se for centrada excessivamente na presença da Al-Qaeda no Iêmen. Em vez disso, a conferência precisa abordar questões mais amplas sobre estabilidade política e social no país.
A Al-Qaeda não é o principal risco para a segurança e estabilidade do Iêmen, embora a geografia e os problemas políticos do país sejam bem adequados para suas atividades. Uma característica particularmente atrativa é a prevalência do austero dogma religioso wahhabi, que foi exportado da Arábia Saudita para o Iêmen e agora fornece terra fértil para recrutar jovens iemenitas insatisfeitos para ataques na Arábia Saudita.
Os problemas centrais no Iêmen são dois: a guerra civil que o governo mantém contra a tribo houthi, no norte do país, e a supressão de um movimento nacionalista no sul. É a inabilidade do governo iemenita de encontrar uma solução política para esses problemas que levou o país à beira da fragmentação.
Até agora, Obama e Brown parecem incapazes de compreender o fato de que os problemas do Iêmen vão além da presença da Al-Qaeda no país. Como resultado, parecem estar fazendo o jogo do presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, que quer usar a conferência de Londres para alavancar o apoio ocidental, particularmente o auxílio militar, para prosseguir com suas guerras contra os houthis e os secessionistas do sul.
Saleh, regularmente, vem usando o risco da Al-Qaeda para obter mais apoio financeiro e de segurança, tanto do Ocidente como da Arábia Saudita. Pare ele, a tentativa de atentado no Natal foi um presente dos céus. O dilema de Saleh é que o auxílio ocidental agora pode chegar com mais interferência nos assuntos internos do Iêmen, em um momento no qual ele quer que o mundo ignore sua conduta nas guerras civis do país.
O Ocidente e Saleh não têm o mesmo inimigo. O inimigo do Ocidente é a Al-Qaeda, enquanto os inimigos de Saleh são os houthis e os separatistas do sul. Porém, se o Ocidente quiser restringir as atividades da Al-Qaeda no Iêmen, precisará pressionar Saleh a conciliar-se tanto com os houthis como com os sulistas e isso, sem dúvida, significaria compartilhar o poder com eles. Saleh, claro, resistirá a isso.
Em dezembro, Saleh pediu um diálogo nacional, mas sob suas condições: os líderes sulistas e houthis serão excluídos das discussões, a menos que apoiem a constituição iemenita, que mantém Saleh no poder há décadas. A abordagem linha-dura de Saleh, no entanto, vem fracassando. Mais da metade do país está caindo fora do controle do governo.
Os EUA não deveriam ficar surpresos com nenhum desses acontecimentos, porque o envolvimento americano no Iêmen não é novo. A Al-Qaeda vem sendo alvejada no Iêmen desde o que o USS Cole foi atacado quando estava no porto de Aden, em 2000. Em dezembro, ataques com mísseis de aviões não tripulados em Abein e Shabwa mataram vários membros da Al-Qaeda e civis.
Combater a Al-Qaeda no Iêmen com tais meios pode reduzir temporariamente o terrorismo, mas não o eliminará. A verdadeira questão é se o Ocidente lidará com as estratégias militares e políticas fracassadas do Iêmen, que são a raiz da presença crescente da Al-Qaeda no país. Apenas haverá alguma possibilidade de conter a Al-Qaeda se as intervenções do Ocidente almejarem resgatar o Estado iemenita de si mesmo.
E a culpa não é apenas do Estado iemenita. Seus vizinhos também têm seu papel. A Arábia Saudita exportou tanto seu wahhabismo como a Al-Qaeda ao Iêmen, ao financiar milhares de madraçais (escolas islâmicas) em que o fanatismo é ensinado. Além disso, desde a Guerra do Golfo de 1991, a Arábia Saudita e o Kuait vêm expulsando trabalhadores iemenitas. Só em dezembro, 54 mil trabalhadores iemenitas foram expulsos da Arábia Saudita.
Embora o Iêmen, geograficamente, faça parte da Península Arábica, foi excluído do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), principalmente porque seu tamanho - é o país mais populoso da península - teria lhe conferido grande influência. Aliás, a população do Iêmen supera a de todos os outros países do conselho somada.
Saleh recebeu, em dezembro, um forte apoio do conselho em suas guerras domésticas e a Arábia Saudita esteve em confronto militar direto com os houthis, com suas Forças Armadas tendo atravessado a fronteira iemenita.
Os EUA e Grã-Bretanha, ambos aliados do CCG, precisam encorajar seus membros a incluir o Iêmen se quiserem resolver seus problemas. Os iemenitas são famosos por serem trabalhadores habilidosos. Então, em vez de exportar o radicalismo religioso para o Iêmen, importar sua mão de obra poderia neutralizar os problemas do país.
A conferência a ser realizada em Londres poderá mostrar-se tanto uma armadilha para Ocidente como o início de esforços verdadeiros pelo tipo de reforma doméstica que pode evitar que o Iêmen se torne outro Afeganistão. Se o Ocidente comprar o quadro apresentado por Saleh, de uma guerra contra a Al-Qaeda, ficará preso na armadilha de ter de apoiá-lo e a suas políticas fracassadas. Mas se olhar além do terrorismo, para as raízes do problema, e pressionar Saleh a começar a compartilhar o poder, o Iêmen não precisará se tornar um outro refúgio para terroristas.
May Yamani é autora de Cradle of Islam (O berço do Islã).

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