É o que sempre acontece. Digo "sempre" porque é sempre mesmo! Um bairro, um morro, uma cidade, uma região ou país desgastado pela miséria e fome, uma população doente e desesperada de um lado e um grupo de radicais, terroristas, contrabandistas, traficantes e lideranças de crime organizado de outro. Junta-se o útil ao agradável e o caldeirão entorna. É assim que acontece nos morros cariocas, nos miseráveis bairros paulistanos, no Congo, no Afeganistão, nos Camarões e agora no Iêmen. O Al Qaeda montou seu quartel general no Afeganistão na década de noventa, lá se fortaleceu, comprou armas e munição, mas acima de qualquer outra coisa, encontrou no desesperados afegãos o campo fértil necessário para recrutar seus homens bomba. Agora o Afeganistão perdeu a graça, porque todo mundo já sacou qual é a do Osama bin Laden. Então tem que partir para outra! O Iêmen é perfeito. Lá, ele encontrou um governo relapso, a inexistência de políticas sociais, faltam hospitais decentes, médicos e medicamentos, faltam escolas, faltam empregos, a infraestrutura é precária e a única saída para a miserável população é continuar acreditando que Deus os salvará. Taí! Quer solo mais fértil que este? Ainda, para coroar, é um país árabe! Excelente. No Iêmen existem todos os ingredientes que o Osama bin Laden precisa para recomeçar o seu doutrinamento de radicalismo e terrorismo. Um argumento perfeito para os americanos continuarem na região. Pena que a mídia não esclarece esta interligação entre o Al Qaeda e os interesses americanos no Oriente Médio!
Folha de S. Paulo
Al Qaeda tem apoio popular, diz analista iemenita/entrevista
Data: 08/01/2010
Samy Adghirni, da reportagem local
A rede terrorista Al Qaeda só conseguiu transformar o Iêmen em sua principal base no Oriente Médio porque se beneficia do apoio de parte da população do país. O diagnóstico é de Abdul-Ghani Al Iryani, um dos mais proeminentes analistas iemenitas. Embora seja de uma família ligada ao clã governante, Al Iryani disse, em entrevista à Folha por telefone ontem, que a incapacidade das autoridades de atender às necessidades populares levou muita gente a apoiar grupos extremistas.
FOLHA - O Iêmen se tornou mesmo a nova base da Al Qaeda?
ABDUL-GHANI AL IRYANI - A Al Qaeda está no Iêmen há muito tempo. Um de seus maiores ataques foi contra o [destróier americano] USS Cole, em 2000. A presença foi aumentando na medida em que o cerco se fechava no Paquistão e no Afeganistão. Com isso, muitos militantes fugiram para o Iêmen e para a Somália. A grande virada ocorreu depois que a Arábia Saudita lançou repressão implacável contra militantes no seu território. Os quadros da rede se estabeleceram no Iêmen, onde se aliaram a radicais locais, com quem anunciaram no ano passado a formação da Al Qaeda da península Arábica.
FOLHA - De que maneira a Al Qaeda opera no território do Iêmen?
AL IRYANI - A rede mantém vários campos de treinamento no país. Alguns já foram destruídos pela ofensiva do governo nos últimos dias. O primeiro a ser atingido foi de Abyan, numa operação conjunta americano-iemenita no último dia 2. Os militantes também têm bases em áreas tribais no leste do país e nos arredores da capital, e usam madrassas [escolas religiosas] para propagar sua visão extremista do islã. O funcionamento da Al Qaeda no Iêmen se baseia no apoio de tribos locais.
FOLHA - Então a população iemenita apoia a Al Qaeda?
AL IRYANI - A empatia de parte da população com a Al Qaeda resulta do fracasso do governo em cumprir funções básicas. As autoridades não têm nenhuma legitimidade por causa da corrupção que o domina. O extremismo islâmico se aproveita disso. A Al Qaeda não será derrotada enquanto o Estado não se tornar mais eficiente e respeitado pelos cidadãos.
FOLHA - A Al Qaeda virou uma espécie de selo apropriado por grupos diversos ou estamos diante da mesma rede original de Bin Laden?
AL IRYANI - É a Al Qaeda de antigamente que está viva. Mas sobraram apenas algumas centenas de militantes históricos em seu núcleo. Há mais alguns milhares de extremistas ligados à Al Qaeda sem ser parte dela.
FOLHA - Como avalia a reação de Sanaa contra grupos radicais com os quais é acusada de ser conivente?
AL IRYANI - Até agora o governo tem sido muito firme contra os extremistas, e a ofensiva lançada vem obtendo sucesso. O que houve no passado foi uma posição pela qual as autoridades faziam vista grossa para o que estava acontecendo em áreas tribais no sul do país para poder concentrar esforços contra a insurgência xiita, ao norte. Mas isso acabou. A pressão internacional exigiu do governo que reprimisse [todos os radicais].
FOLHA - Há alguma ligação entre o fortalecimento da Al Qaeda no Iêmen e a atual geopolítica da região?
AL IRYANI - A Al Qaeda e o extremismo islâmico em geral se alimentam do sentimento de injustiça em relação aos palestinos. Enquanto a questão palestina não for resolvida, haverá extremismo radical. O que acontece no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão contribui para acirrar os ânimos, mas a questão central é a Palestina.
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