sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Veneno! Puro Veneno!

Minha Nossa Senhora! Depois de ler esta opinião do editor chefe do Estadão, senti uma necessidade absurda de tomar um banho de sal grosso, me benzer e rezar pelos palestinos. Caramba! Já lí muito veneno no Estadão, mas esse aí já tomou a forma líquida e tá pingando no meu blog. Vou ter que benzer meu blog também, vai que praga pega! À tempo, a política externa brasileira é muito bem intencionada senhor editor! O Brasil, apesar da tua negação, está cada vez mais firme como ator no cenário internacional. Por que será que todos os governos do mundo elogiam a política externa brasileira, mas os meios de comunicação do Brasil insistem em deturpa-la? Ou será que é porque não anda servindo aos interesses da sua amada Israel, senhor editor? Mais respeito com o Brasil, viu!
O Estado de S. Paulo

A mão estendida ao Hamas/ Opinião
Data: 08/01/2010
No governo do general Ernesto Geisel (1974-1979), o Itamaraty praticava o "pragmatismo responsável", na expressão cunhada pelo então chanceler Azeredo da Silveira, para designar as ações externas que deveriam respaldar o projeto do "Brasil Potência" acalentado pelo regime militar. Foi um fiasco, mas pelo menos era uma política. Já no governo do presidente Lula, pode-se dizer que impera a diplomacia do voluntarismo irresponsável - cujo mentor e principal protagonista, o chanceler Celso Amorim, parece incansável em exibir mundo afora. Soberbamente alheio aos danos que ela inflige ao respeito com que o País, a justo título, quer ser ouvido pela comunidade internacional, o ministro fala o que lhe dá na veneta, nas situações mais inconvenientes e diante dos interlocutores mais improváveis. Dá a impressão de tocar de ouvido um arremedo de marcha triunfal, provocando na plateia as reações adversas que, mais não fosse, ele tinha o dever de antecipar.
Foi o que se viu quarta-feira em Genebra, onde Amorim se reuniu com o chanceler da Autoridade Palestina (AP), Riad Malki, para tratar da oferecida participação brasileira no monitoramento do processo de paz com Israel - na duvidosa hipótese, acrescente-se, de que venha a ser descongelado em futuro próximo - e da visita que Lula fará em março a Israel, territórios palestinos e Jordânia. Quando anunciou a viagem, aliás, o presidente teve a desavisada ideia de propor que a seleção brasileira disputasse na ocasião uma partida com um imaginário combinado israelense-palestino. O amistoso, no sentido literal do termo, serviria para consagrar o pretendido engajamento do País na solução do inabalável conflito entre eles. Em Genebra, Malki recusou polidamente a oferta. "Por não haver processo de paz e ainda existir um impasse de ambos os lados", ponderou, "o momento pode não ser o certo para isso."
Mas o que deixou o palestino estomagado foi uma tirada incomparavelmente mais grave: a declaração de Amorim de que o Brasil poderia estabelecer um diálogo com o Hamas. Apoiado pelo Irã e a Síria, o movimento extremista não admite reconhecer a existência de Israel. Em 2007, assumiu o controle da Faixa de Gaza, expulsando os representantes do partido Fatah, pilar da Autoridade Palestina. Desde então, todas as tentativas árabes de reaproximá-los fracassaram. Além disso, o Hamas é considerado pelos países ocidentais uma organização terrorista. Os brutais ataques israelenses a Gaza, há um ano, que devastaram o lugar e mataram cerca de 1.400 pessoas, não alteraram a condição de pária do Hamas aos olhos do mundo. O único interlocutor palestino dotado de legitimidade é a AP do presidente Mahmoud Abbas. E nenhum dos projetos de paz entre árabes e judeus prevê o estabelecimento de duas Palestinas, uma na Cisjordânia, outra em Gaza. A troco do quê, portanto, a mão estendida de Amorim ao Hamas?
Sem entrar em detalhes, ele revelou ainda que o Brasil já manteve "contatos informais" com a entidade no passado. Seja lá o que tenha de fato ocorrido, a menção absolutamente desnecessária só serviu para agravar a rata do chanceler. "Acreditamos no poder da razão", filosofou, em um esforço heroico para justificar a possibilidade de o Itamaraty voltar a dialogar - formalmente, presume-se - com o movimento. "Talvez seja inocente", concedeu, "mas temos de conversar." Fosse apenas inocência, já seria inaceitável. Nenhum país que queira ser levado a sério pode ter um ministro de Relações Exteriores que admita ser ingênuo. Mas não é disso que se trata, evidentemente - e sim de uma leviandade motivada pela vontade de se dar fumaças de importância. O chanceler Malki, porém, tomou as suas palavras pelo valor de face e deu-lhe uma lição pública sobre as realidades políticas palestinas.
"Qualquer aproximação com o Hamas hoje pode ser interpretada pelo Hamas como uma espécie de fraqueza da comunidade internacional e um sinal de reconhecimento do sistema de facto criado em Gaza por meio da força e de um golpe. Por isso os países devem ter cuidado", advertiu, mais contundente do que ao dispensar o "jogo da paz" proposto por Lula. Ao fim e ao cabo, só restou a Amorim concordar com Malki que as portas ao Hamas só poderão se abrir quando a entidade fizer parte do processo político palestino e aderir aos seus princípios básicos.

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